REZAR AS COISAS QUE PODEMOS REAPRENDER
Parece paradoxal, mas esta difícil estação do presente representa também
uma oportunidade para nos reencontrarmos.
Confinados a um isolamento compreendemos talvez melhor o que
significa ser – e ser de forma radical – uma comunidade. A nossa vida não
depende apenas de nós e das nossas escolhas: todos dependemos do amor
e da bondade uns dos outros, todos experimentamos como é vital esta
interdependência, esta trama feita de reconhecimento e de dom, de
respeito e solidariedade, de autonomia e relação. Os cuidados individuais,
que somos chamados a exercitar, não são a expressão do interesse próprio
apenas. São, sim, a forma de colaborar para uma construção maior, de
colocar os outros no centro, de sacrificar-se por eles, de privilegiar o bem
comum.
Esta é a hora em que podemos, de facto, reaprender tantas coisas.
Podemos reaprender a estar nas nossas casas, mas também a sentir que
depende de nós o nosso prédio, a nossa rua, o nosso bairro, a nossa cidade,
o nosso país, dando substância efetiva a palavras, tantas vezes destituídas
dela, como são as palavras proximidade, vizinhança, humanidade, povo e
cidadania.
Podemos reaprender a utilizar as redes sociais não só como
forma de divertimento e de evasão, mas como canais de presença, de
solicitude e de escuta. Sem nos tocarmos, podemos reaprender o valor da
saudação, o estímulo de um cumprimento, a incrível força que recebemos
de um sorriso ou de um olhar. Sem que os nossos braços se estendam na
direção uns dos outros podemo-nos abraçar afetuosamente, como já o
fazíamos ou de um modo mais intenso ainda, transmitindo nesses abraços
reinventados o encorajamento, a hospitalidade, a certeza de que ninguém
será deixado só.
Que sob o olhar materno de Maria e sob a proteção paterna de São José
aceitemos reaprender os gestos essenciais da vida.
P. Tolentino
25.01.2021