Santa Teresa fala de São José
Tradução do “Livro da Vida” 6,5-8, “Obras Completas” de Santa Teresa de Jesús, BAC, Madrid, MCMLXXVI, p 42
Por R. Paiva, SJ
Comecei a cumprir devoções de Missas e coisas muito apropriadas de orações, pois nunca fui amiga de devoções, que fazem algumas pessoas – em especial mulheres – com cerimônias que eu não posso suportar e a elas lhes dava devoção (depois se lhes deu a entender que não eram convenientes, que eram supersticiosas). Tomei então, por advogado e senhor ao glorioso São José e recomendei-me muito a ele. Vi claramente que tanto nesta necessidade como em muitas outras de outras de maior peso e aflição de alma, este meu pai e senhor me livrou melhor do que eu saberia pedir. Não me lembro de nada que eu lhe tivesse pedido e ele tivesse deixado de atender.
É coisa que me espanta as grandes graças que Deus me tem concedido mediante este bem-aventurado santo, dos perigos que me livrou, tanto de corpo quanto de alma. Parece que Deus deu a outros santos a graça de socorrer em certas necessidades, mas a esse deu socorrer em todas. Quer o Senhor dar a entender que assim como lhe obedeceu nesta terra – que como tinha nome de pai, sendo servo, poderia dar-lhe ordens – assim no céu faz tudo o que ele pede.
O mesmo verificaram algumas outras pessoas – a quem eu dizia que se recomendassem a ele – também por experiência, e assim muitas que lhe são devotas experimentando essa verdade.
Eu procurava celebrar sua festa com toda solenidade que podia. Mas, cheia de vaidade espiritual, querendo que tudo se fizesse muito particularmente e muito bem, ainda que com boa intenção. Mas isto havia de mau – se algum bem o Senhor me consentisse graça de fazer – que fosse cheio de imperfeições e com muitas faltas. Para o mal e particularidade e vaidade eu tinha grande esperteza e diligência. Deus me perdoe!
Queria persuadir a todos que fossem devotos deste glorioso santo, por alguma experiência que tenho dos bens que ele alcança de Deus. Não conheci ninguém eu lhe fosse sinceramente devota e que faça particulares serviços que não se veja aproveitada em virtude, porque ele aproveita muito as almas que a ele se recomendam. Desde alguns anos me parece que cada ano em seu dia lhe peço alguma coisa e sempre a vejo satisfeita. Se alguma coisa vai torcida no meu pedido, ele endireita para melhor.
Se eu fosse alguém com autoridade para escrever, de muito boa vontade me derramaria em dizer com muito pormenor as graças que me tem feito este glorioso santo a mim e a outras pessoas. Contudo, para não ultrapassar o que me mandarem, em muitas coisas serei mais breve do que desejaria, em outras mais extensas do que deveria, enfim como quem em todo o bom tem pouca discrição.
Apenas peço, por amor de Deus, que o prove quem não me acreditar, e verá, por experiência, o grande bem que é recomendar-se a este glorioso patriarca e ter-lhe devoção. Em especial pessoas de oração sempre lhe deviam ser afeiçoadas. Não sei como podem pensar na Rainha dos Anjos, no tanto tempo que passou com o Menino Jesus, que não deem graças a São José pelo bem que ajudou a eles.
Quem não encontrar mestre que lhe ensine a oração, recorra este glorioso santo por mestre e não errará no caminho.