SALMO 28 (27)
1 De Davi
A ti, Javé, eu clamo;
meu Rochedo, não te cales diante de mim,
Sl 18,3; 22,3; Am 8,11
porque, se não te importares comigo,
serei como quem desce ao túmulo.
2 Ouve a minha voz que te suplica,
quando grito por teu socorro,
quando levanto as mãos
1 Rs 8,48
para o teu santo templo.
3 Não me expulses com os ímpios,
com os que vivem de vaidade,
falando de paz com o seu próximo,
Pr 26,24-25; Sl 120,7
mas tendo malícia no coração.
4 Paga-lhes segundo suas obras,
e a malícia de suas ações!
Trata-os conforme a obra de suas mãos,
dá-lhes o que merecem!
5 Porque não compreendem as obras de Javé,
o agir de suas mãos,
ele os arrasa e não os reconstrói.
6 Bendigo a Javé,
ele escutou a minha súplica!
7 Javé é minha fortaleza e meu escudo,
Sl 18,3
nele pus a confiança do meu coração,
ele me ajudou e fez exultar meu peito,
com meu canto lhe rendo louvores!
8 Javé é a nossa fortaleza,
refúgio de salvação para o seu consagrado.
9 Salva o teu povo, bendize a tua herança,
cuida deles e os sustenta para sempre!
(Salmo 28/27)
Canto de uma espera, a espera da Palavra de Deus, a única palavra necessária e definitiva para as vicissitudes humanas do poeta, a única que rompe os sofrimentos e bloqueia a morte. O silêncio desta palavra significa a morte, o nada. É sugestivo o contraste presente nos dois primeiros versículos da lírica, nos quais se contrapõe o grito tumultuoso e reiterado do orante ao silêncio inexorável de Deus, “mudo, cego e surdo ao grito das suas criaturas” (A. de Vigny).
O texto do Salmo compreende uma súplica pessoal (vv. 1-7), na qual aflora a queixa pela doença, pelas perseguições e, sobretudo, pelo silêncio de Deus, e uma aclamação coral posterior (vv. 8-9), testemunha da aplicação da súplica pessoal à inteira assembleia de Israel, reunida no Templo. Assim a experiência pessoal, no estilo das preces bíblicas, transforma-se em paradigma para o sofrimento de todos. Não esqueçamos que o v. 9 desta aplicação comunitária entrou num dos hinos cristãos mais célebres, o Te Deum.
A simbologia que rege o Salmo e a da antítese “palavra x silêncio”. O homem grita, lança sua voz e sua súplica para o alto, implora socorro, ajuda-se com as mãos, descreve o seu drama. Deus é silêncio, indiferença, deixa que o homem mergulhe no reino dos mortos e do silêncio. Mas, quando parece que o silêncio tivesse vencido – tanto o divino quanto o humano – eis que a palavra de Deus intervém, não de modo verbal, mas dinâmico, agindo e salvando. Então a boca do fiel se enche de palavras, feitas de alegria e de canto. A síntese do Salmo é, talvez, um famoso oráculo de Amós, profeta do século VIII a.C.: “Eis que vêm dias – oráculo de Javé – quando mandarei fome ao país: não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a palavra de Javé” (8,11).