SALMO 24 (23)
1 De Davi. Salmo.
De Javé é a terra e tudo o que ela contém,
1 Cor 10,26; Is 66,1-2
dele é o universo e todos o que nele habitam.
2 Ele a firmou acima dos mares,
sobre os rios a estabeleceu.
3 Quem poderá subir à montanha de Javé,
Sl 15
quem poderá chegar até o seu santuário?
4 Quem tem as mãos inocentes e o coração puro,
quem não se voltou para os ídolos,
quem não jurou com falsidade.
5 Este alcançará a bênção de Javé,
a justiça de Deus, a sua salvação.
6 Esta é a geração que o procura,
sl 27,8-9
que busca a tua face, Deus de Jacó!
selah
7 Abri-vos, portas, de par em par,
2 Sm 6; Sl 118,19-20; 132
abri-vos, portas eternas,
que entre o rei da glória!
8 Quem é este rei da glória?
1 Cor 2,8
Javé, forte e valoroso,
Javé, corajoso no combate!
9 Abri-vos portas, de par em par,
abri-vos, portas eternas,
que entre o rei da glória!
10 Quem é este rei da glória?
Javé dos exércitos,
ele é o rei da glória!
selah
(SALMO 24/23)
Segundo alguns estudiosos, Plínio, o Jovem, numa carta de 113 d.C. endereçada a Trajano, alude exatamente ao Salmo 24, que se tornara uma prece querida à oração cristã: “(Os cristãos) têm o costume de se encontrar-se num dia fixo, antes do despontar da aurora, para cantar um hino em coros alternados, em honra de Cristo como Deus”. Efetivamente o Salmo 24 era muito popular entre os primeiros cristãos para celebrar o ingresso de Cristo nos infernos como vencedor da morte.
O poema é, de fato, muito complexo, apesar de sua brevidade e tem sido objeto de diferentes interpretações. Na sua atual redação, este hino arcaico é articulado em três estrofes, originariamente independentes, recordadas porém num conjunto bem coordenado para um uso litúrgico no Templo de Jerusalém. A primeira estrofe (vv. 1-2) é um hino ao Criador que faz da abertura (“ouverture”) uma marcha processional. Na segunda estrofe, segue-se uma “liturgia de entrada” (vv. 3-6), no estilo que já descrevemos no Salmo 15. As condições morais para o acesso ao Templo, lá, eram 11, e, aqui, são 3: uma geral (“mãos inocentes e coração puro”); outra “vertical” (“não se voltar para os ídolos”); a terceira “horizontal” (“não jurar com falsidade”).
A última estrofe, a mais antiga e solene, celebra uma manifestação – uma epifania – divina no Templo (vv. 7-10), Ritmada de acordo com um esquema antifonal (apelo-pergunta-resposta), o parágrafo apresenta em progressão o desvelar-se de Deus: as portas do Templo são personificadas, e convidadas a abrir-se de par em par (estritamente: “levantarem-se”, pois eram do tipo de serem levantadas para abrir a entrada) a fim de acolherem o Senhor, que toma posse de sua casa. Ignoramos qual seja o rito (uma procissão da arca?), mas o centro da celebração é o Deus de Israel, chamado com seu título antigo de “Javé dos exércitos” (Javé seba’ôt) no movimento “fortíssimo” da aclamação final. O título não era originariamente militar (rei das tropas de Israel), mas cósmico: Javé tem como seu exército os astros do céu. É com este exército cósmico que ele acorre em defesa do seu povo. Este título, usado 279 vezes na Bíblia, ensina também que os astros, venerados como divindades no mundo oriental, são simples criaturas a serviço do único Senhor.