“O Nome do Deus de Jacó seja o teu rochedo”
SALMO 20 (19)
1 Ao mestre do coro. Salmo. De Davi.
Sl 21
2 Responda-te Javé no dia da angústia,
o nome do Deus de Jacó seja o teu rochedo.
3 Que ele te mande socorro desde o seu templo,
Sl 18,50; 1 Rs 8,30
e do alto de Sião te ampare.
4 Lembre-se de tuas ofertas,
e aceite os teus holocaustos.
selah
5 Conceda-te o que teu coração deseja,
e cumpra por inteiro todos os teus projetos.
6 Exultaremos por tua vitória,
ergueremos a bandeira em nome de Deus!
Que Javé satisfaça inteiramente todos os teus pedidos!
7 Agora sei que Javé dá a vitória ao seu consagrado,
Sl 18,51
responde-lhe do seu santo céu
com a força vitoriosa de sua mão direita.
8 Que os outros se fiem nos carros e nos cavalos…,
Is 31,1
Nós, porém, somos fortes no nome de Javé, nosso Deus!
Sl 33,16.17
9 Os outros se abaixam e caem,
Is 40,30-31
mas nós ficamos em pé e somos salvos.
10 Javé dá ao rei a vitória!
Responde-nos, quando te invocamos!
(Salmo 20/19)
Este poema real arcaico com o Salmo seguinte, o 21, e também com o cântico de Ana, a Mãe de Samuel (cântico que, de fato, é um hino real: 1 Sm 2) poderia compor um só quadro sálmico de três cenas, um tríptico, dedicado à liturgia oficial monárquica pelo antigo Israel. Entre parênteses recordamos o “Deus salve o rei” (“God save the king”) dos ingleses é inspirado no versículo 10 de nosso Salmo. Os verdadeiros atores do hino, Javé e o rei, não aparecem diretamente em cena, mas a dominam no fundamental. Com efeito, a cena é ocupada pela assembleia de Israel, que aclama o rei e reza por ele, ainda através das vozes dos solistas e do coro.
A cerimônia se abre com um rito sacrifical de intercessão, acompanhado pelo coro dos levitas, em nome da assembleia, que intervém com a aclamação: “Que Javé satisfaça inteiramente todos os teus pedidos!” (v. 6c) Terminado o sacrifício , o sacerdote confirma a escuta da parte de Deus com um oráculo (vv. 7-9) de salvação para o “consagrado” – em hebraico o “messias” – isto é, o rei.
É natural que, uma vez extinta a monarquia, o judaísmo, em primeiro lugar, e, depois, o cristianismo, tenhamos lido o Salmo em chave messiânica. Nos anos quinhentos (séc. XVI), S. Roberto Belarmino comentava: “Com o Cristo, nosso chefe e nosso rei, não é mais nos carros nem nos cavalos, mas em Deus que pomos a nossa confiança”.
Toda assembleia, no final, responde com um “viva ao rei! (v. 10; cf. 1 Rs 1,34-19). O Salmo é orientado pela certeza de que o rei é o que tem o lugar de Javé na terra, e, portanto, é por ele protegido na batalha. Um exegeta francês sublinha também a atmosfera mágica que acompanhava o rito descrito neste poema, enquanto todo o povo era mobilizado, psicológica e militarmente pela propaganda de guerra, que, segundo a teocracia, era santa e tinha sua inauguração no Templo. Do mesmo modo, o rei assírio Assurbanipal afirmava: “Não é a potência do meu arco, mas a força dos meus deuses que me faz vencer os meus inimigos!”.