SALMO 11 (10)
1 Ao mestre do coro. De Davi.
Em Javé eu me refugiei,
como podeis dizer-me:
“Foge como um pássaro para a montanha?”
Sl 91,3
2 E os ímpios retesam o arco,
Sl 7,13; 10,8; 37,14; 57,5; 64,4
3 Quando tremem os fundamentos
que pode fazer o Justo?
4 Mas Javé tem no templo o seu santuário,
Javé tem nos céus o seu trono.
Os seus olhos vigiam,
suas pupilas sondam os homens.
5 Javé examina o justo e os ímpios,
e odeia quem ama a violência.
6 Fará chover sobre o ímpio brasas, fogo, e enxofre,
vendo escaldante será a bebida deles,
Gn 19,24; Ez 38,22; Ap 20,10
7 Javé é justo e ama as ações justas:
os homens retos contemplarão a sua face
(SALMO 11/10)
Paira sobre esta breve oração de confiança a figura de Deus, invocado pelo seu nome pessoal de Javé no início (v. 1), três vezes na sessão central do Salmo (vv. 4-5), e também no final (v. 7). A chave do Salmo está no versículo 7: Javé é justo e ama as ações justas”: Javé é um Deus moral e não é indiferente ao bem e ao mal.
A composição é distribuída sobre um quadro de cena dupla, um “díptico”. Na primeira (vv. 1-3) se descreve o ímpio e o seu aparente triunfo. O fiel é tentado pela idéia de evasão, de uma fuga “para as montanhas, como um pássaro”, longe do sorvedouro do mal, dos assaltos do ímpio, das flechas atiradas pela traição dos perversos. Mas ele se pergunta: diante do esfacelamento da justiça, diante do fato que as bases mesmas do mundo e da sociedade estejam minadas, Deus, o Justo por excelência, pode talvez permanecer indiferente.
Abre-se, então, um segundo quadro (vv. 4-7), no qual o Senhor, presidindo do seu trono celeste, abrange com um olhar em derredor todo o horizonte do ser. Desta posição única, Deus pode “sondar”, “perscrutar” – o verbo hebraico é tirado da metalurgia, e supõe o uso do crivo, em busca do metal genuíno, escondido atrás das incrustações – todos os seres humanos. Dali pode intervir com a potência de criador e de juiz supremo. Como em Sodoma, ele faz chover fogo e enxofre, símbolos da intervenção judiciária divina, que purifica a história. O ímpio, envolto nesta chuva sufocante e neste vento ardente (v. 6), experimenta, afinal, que “há um Deus que faz justiça na terra!” (Salmo 58,12).
As cortinas do palco porém não se fecham sobre esta cena escura de punição: o versículo 7 abre o horizonte à luz e à paz reservadas ao justo que contempla o Senhor, juiz justo e libertador.