Pequena História do Santo Frei Galvão
25 de outubro
O menino Antônio nasceu em 1739, data precisa ignorada, em Guaratinguetá, vale do Paraíba, interior da então Província de São Paulo, filho de uma família de foros de nobreza. O Pai era Capitão mor de Guaratinguetá, e sua mãe da família de Fernão Dias Paes, o célebre “caçador de esmeraldas”. Família religiosa, Antônio teve 10 ou onze irmãos. Com 13 anos foi enviado a estudar no Colégio de Belém, no recôncavo baiano, com os Padres Jesuítas. Ele desejou ser um deles, mas o Pai o avisou que o Marquês de Pombal, então todo poderoso ministro de Dom José I, pretendia suprimir a ordem nos territórios portugueses. Então, seguindo o conselho paterno, ele ingressou no convento franciscano de Taubaté. Em 15 de abril de 1760, foi admitido ao noviciado da Ordem, no convento de São Boaventura, na vila de Macacu, Rio de Janeiro.
Em 16 de abril do ano seguinte fez seus votos de religioso, acrescidos da promessa de defender a doutrina da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Mais um ano, em 18 de julho de 1762, Frei Galvão foi ordenado sacerdote no convento do Rio de Janeiro e enviado ao convento de São Francisco, São Paulo, para aprimorar seus estudos e exercer o apostolado. Em 1768, ele foi nomeado pregador, confessor dos leigos e porteiro do convento. Em 1766, com seu próprio sangue, assinou-se como “filho e escravo perpétuo” da Imaculada Conceição, dentro da forte tradição mariana dos seus confrades.
Pelos seus ofícios, logo se tornou muito querido e conhecido. Muitas vezes enfrentou longas caminhadas, o barro dos caminhos, para atender os que o mandavam chamar. Em 1769-1770 foi designado pelo Bispo de São Paulo, confessor das piedosas senhoras do Recolhimento de Santa Teresa, em São Paulo, onde conheceu uma visionária, Irmã Helena, a quem Jesus teria pedido uma nova fundação. Frei Galvão estudou o caso, pediu pareceres e, afinal, em 2 de fevereiro de 1774, foi dado início à obra: o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência, instituição que existe até os dias de hoje.
O número de vocações cresceu, o espaço precisou ser aumentado, e Frei Galvão se fez pedreiro e mestre de obras. Durante 14 anos ele levou adiante a construção do Recolhimento – eram proibidos conventos. Mais 14 anos, concluiu a Igreja, inaugurada em 15 de agosto de 1802, hoje conhecida como Igreja do Convento da Luz, e que a UNESCO declarou, em 1988, “patrimônio da Humanidade”.
Apenas em 1929, as recolhidas puderam se tornar religiosas, monjas da Ordem das Concepcionistas. Seu regulamento foi escrito pelo próprio Frei Galvão. Ali começou e se difundiu o costume de distribuir pequenas porções de papéis, onde previamente se tinham escrito palavras devotas, que mantiveram prestígio até os nossos dias, e às quais são atribuídas muitas graças, sobretudo de curas. Mesmo sem grande incentivo da autoridade religiosa, a devoção dos fieis não esmoreceu e Frei Galvão teve a notícia de sua canonização por Bento XVI, em 11 de julho de 2007, recebida com grande entusiasmo.
Deixemos de lado outros movimentos de sua vida repleta de trabalhos, entre eles, a pedido do Bispo de São Paulo, da fundação, em Sorocaba, do Recolhimento de Santa Clara. Neste período, tendo tomado a defesa de um pobre soldado, o capitão mor o expulsou da capitania, mas a revolta do povo, da câmara e das autoridades também eclesiásticas se fez tão grande, que ele foi chamado de volta.
Já envelhecido e adoentado, Frei Galvão teve licença para residir num espaço por detrás do Tabernáculo da “sua” Igreja. Ali faleceu, assistido por confrades e alguns sacerdotes diocesanos, tendo recebido os últimos Sacramentos, em 23 de dezembro de 1822, pela manhã. A pedido das recolhidas e do povo, foi sepultado na Igreja que ele mesmo construíra, onde suas relíquias continuam, objeto de constante veneração.
Esta é uma pequena história de um grande brasileiro, nosso primeiro santo canonizado.