Pedofilia na Igreja
A Santa Sé toma a defesa de Ratzinger
La Stampa, Vatican Insider 20 de janeiro de 2022
Domenico Agasso
Com um editorial assinado pelo Diretor Tornelli, o Vaticano interveio em defesa do Papa Emérito, acusado no relatório a respeito de abusos sexuais na Arquidiocese de Munique, onde Bento XVI foi Arcebispo entre 1977 e 1982.
José Ratzinger, Bento XVI, combateu fortemente o dramático fenômeno das violências e abusos sexuais por culpa de pessoas do clero: “Lutou contra eles com normas duríssimas e escuta das vítimas”.
Para o Vaticano, não se pode esquecer que Ratzinger, já então Prefeito da Congregação para a Doutrina de Fé, tenha combatido o fenômeno na última fase do Pontificado de São João Paulo II. Quando, por sua vez, foi eleito Papa, promulgou normas duríssimas contra os abusadores clericais, verdadeiras e adequadas leis especiais para enfrentar a pedofilia. O Papa Bento XVI testemunhou om seu exemplo concreto, a urgência da mudança de mentalidade tão importante para contrapor o fenômeno dos abusos: a escuta e a proximidade com as vítimas, às quais sempre se tem de pedir perdão.
Por tempo demasiado, elas foram mantidas à distância e até consideradas inimigas da Igreja e do seu bom nome – escreve Tornielli. Assim foi Ratzinger o primeiro Papa a encontrar várias vezes as vítimas de abusos durante suas viagens apostólicas. Foi ele, contra a opinião de tantos que se diziam “ratzingerianos”, a propor no meio do borbulhar de escândalos na Irlanda e na Alemanha o rosto de uma Igreja penitencial, que se humilha em pedir perdão, que sofre e experimenta remorso, dor, compaixão, vizinhança.
Evidencia o Diretor chefe editorial do Vaticano como “com extrema lucidez, no voo que o levava a Lisboa em maio de 2010, Bento XVI reconheceu que os sofrimentos da Igreja vinham mesmo do interior da própria Igreja, do pecado que nela subsiste. Embora isto sempre se tenha sabido, é agora, de modo aterrorizante que a pior perseguição à Igreja não vem de inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja, e que a Igreja, portanto, necessita de retomar a penitência, aceitar a purificação, assumir a necessidade de perdão, mas também, de outra parte, de justiça. O perdão não substitui a justiça”.
Estas palavras foram precedidas e seguidas de atitudes concretas “na luta contra a pedofilia no clero”. Tudo isto “não pode ser esquecido nem cancelado”.
O editorial realça que o Pontífice Emérito, “com ajuda de seus colaboradores, não se subtraiu à solicitação de um levantamento legal, e a Arquidiocese de Munique ficou encarregada de preparar um relatório sobre fatos que cobriam um longo período”. Bento XVI “respondeu com 82 páginas, depois de ter podido examinar, em parte, a documentação dos arquivos diocesanos”. Como era de se prever, foram os 4 anos e meio em que Ratzinger ficou à frente da Arquidiocese de Munique que monopolizaram a atenção dos comentaristas.
Algumas das acusações já tinham sido publicadas em importantes meios internacionais de comunicação. Os casos em que se responsabiliza pessoalmente Ratzinger são quatro. Seu secretário particular, Monsenhor Jorge Gänswein, já anunciou que “o Papa Emérito, fará uma declaração pormenorizada, depois de ter concluído o exame do relatório”.