SALMO 12 (11)
1 Ao mestre do coro. Sobre a oitava. Salmo. De Davi.
2 Salva-me Javé! Desapareceram os homens fiéis,
sumiram os justos entre os filhos do homem!1
3 Dizem mentiras uns aos outros,
Mq 7,2; Is 59,3-4; Sl 55,22; Jr 9,7
4 Corta, Javé, os lábios mentirosos,
e a língua que atira palavras arrogantes,
5 dos que dizem: “Nossa língua nos faz fortes,
Sl 31,19
nossos lábios são nossas armas,
quem nos sujeitará?”
6 Por causa da opressão dos miseráveis
e do gemido dos indigentes
eu me levantarei – diz Javé –
e porei a salvo quem sofre os ares do desprezo.2
7 As palavras de Javé são puras,
Sl 18,31; 19,8
como prata refinada em cadinho de terra,
sete vezes purificada.
8 Tu, Javé, nos guardarás,
e nos defenderás para sempre desta gente,
9 Os ímpios vagueiam por toda a parte,
chega ao cúmulo a baixeza entre os filhos do homem.
1 “Filho do homem” (ver também o v. 9) é expressão semítica para indicar a totalidade da humanidade no presente, no passado e no futuro (as gerações).
2 O texto original é muito obscuro. A tradução hipotética proposta pinta o oprimido como o que sente sobre si o sopro da palavra e da cólera do opressor. N.T. Entre nós se diz que “Fulano se dá ares de grandeza”, ou “olhou para mim com um ar de desprezo”.
(SALMO 12/11)
“A mentira, e não a verdade, domina o país … Cada qual se guarde de seu amigo. Não confie nem sequer no seu irmão, porque todo irmão engana o irmão, e todo amigo vai espalhando calúnias. Cada qual engana o seu próximo, e não diz a verdade … A língua deles é uma flecha mortífera, as palavras de sua boca são um engano. Cada qual fala de paz com o seu próximo, mas, no íntimo, prepara-lhe uma armadilha.” Estas palavras de Jeremias (9,2-4.7) poderiam ser o comentário à lamentação do Salmo 12. O tema fundamental desta súplica é, com efeito, o das relações sociais que, sobretudo numa cultura oral como a semítica, são baseadas na palavra. Por isto o Salmo 12 não é tanto uma condenação da mentira quanto um ato de acusação contra uma estrutura social viciada e injusta: se, no Oriente Antigo, a verdade rompesse com a palavra, explodiriam as relações sociais fundamentais.
Significativa é a arrogância da declaração dos perversos (v. 5): eles não apenas ferem mortalmente as pessoas, mas ainda lançam um desafio a Deus, as suas palavras sendo sentenças jurídicas eficazes, armas ofensivas que golpeiam os seres humanos e Deus. Como frequentemente se recorda no Saltério e na literatura profética, injustiça é também o ateísmo, apesar de eventuais declarações de religiosidade. O injusto não tem nenhum “senhor” sobre a terra e nenhum “Senhor” nos céus, como se diz na última parte do versículo 5, fazendo um jogo com o termo ‘adon, que tanto significa “patrão” como “Senhor”” (Deus).
Como sempre, a virada do Salmo é vista na irrupção divina. Com efeito, a palavra de Javé é infinitamente pura, justa e eficaz, como se diz através do símbolo clássico do metal precioso purificado no cadinho (v. 7). O Salmo, apesar deste final cheio de otimismo, se fecha com um relevo muito amargo: os hipócritas e os prepotentes estão covardemente por toda a parte, os vis, os piores são sempre os “emergentes”, e está no auge, então, a sordidez que se espalha sobre a face da terra como uma onda negra impossível de ser barrada.