Estes textos sã tirados da obra do Padre R. Paiva, SJ,
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OS DEZ MANDAMENTOS DA LEI DE DEUS (O DECÁLOGO)
246 Qual a importância dos Dez Mandamentos?
Para quem reconhece que “só Deus é bom”, Jesus ensina que os Dez Mandamentos são o caminho de acesso à vida eterna: Se queres entrar para a Vida, guarda (observa) os Mandamentos … Não matarás. Não cometerás adultério. Não roubarás, Não levantarás falso testemunho. Honra o teu pai e tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo (ver Mt 19,16-19). Jesus recordou assim os Dez Mandamentos dados ao Povo da Antiga Aliança por meio de Moisés (ver Ex 20,12-16 e Dt 5,16-20). Em outra ocasião, ele ensinou que o primeiro e maior mandamento é o seguinte: Amarás o Senhor, teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com toda a tua inteligência … O segundo mandamento é semelhante a este: Amarás ateu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas (Mt 22,34-40; ver também Lc 10,23-27).
247 Como a catequese da Igreja tradicionalmente tem formulado os Dez Mandamentos?
Há diferenças entre as listas de Êxodo 20.12-16 e Deuteronômio 5,10-20. Cristo, por sua vez, os formula de modo mais simples e acessível à nossa memória nos Santos Evangelhos. A formulação da catequese da Igreja segue, tradicionalmente, o modo de Jesus, seu Mestre. É a seguinte:
1o. Amar a Deus sobre todas as coisas;
2o. Não tomar o seu santo Nome em vão;
3o. Guardar domingos e festas.
4o. Honrar pai e mãe.
5o. Não matar;
6o. Não pecar contra a castidade;
7o. Não furtar;
8o. Não levantar falso testemunho;
9o. Não desejar a mulher do próximo;
10o. Não cobiçar as coisas alheias.
Os três primeiros mandamentos são os nossos deveres para com Deus, e se resumem no primeiro: Amar a Deus sobre todas as coisas. Os sete outros mandamentos são os nossos deveres para com o próximo e se resumem no mandamento semelhante ao primeiro: Amar o próximo como a si mesmo. Todos os Mandamentos são uma expressão privilegiada e inspirada da “lei natural”: Evita o mal e faze o bem.
248 O que manda o 1o. Mandamento?
Como diz o Senhor Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro dos mandamento (Mt 22,37).
Jesus, desde criança, certamente aprendeu, ouvindo a oração diária de José e Maria: Ouve ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e com toda a tua força (Mc 12,30). Os judeus piedosos até hoje a entoam quotidianamente.
Deus é o Único Bom (Mc 10,18), a fonte de todo bem. Quando Ele não é o centro e o fim de nossas vidas e tomarmos um bem que Ele mesmo nos deu (pessoa, coisa, a nós mesmos), colocando este bem como o centro de nossa vida, neste momento estamos criando um deus para nós próprios e caindo na idolatria.
Devemos a Deus a obediência da fé (Rm 1,5; 16,2). Ignorar Deus, deixá-lo de lado, é a causa de todos os crimes e pecados (Rm 1,18-32). Por isso o Primeiro Mandamento nos faz ser vigilantes quanto à nossa fé, cuidando de aumentá-la pela oração, pelo estudo, pela adesão fiel ao ensino da Igreja.
249. Quais são os principais pecados contra o 1º. Mandamento?
São: superstição, magia, adivinhação, invocação dos mortos, astrologia, tentar ou pôr à prova Deus, simonia (venda de sacramentos, bênçãos, ministérios, etc.).
A superstição, a magia e adivinhação: caímos nestes pecados, quando desconfiamos da bondade de Deus, e queremos como que forçá-lo a satisfazer uma vontade nossa. Assim damos valor religioso a práticas e orações “infalíveis” para obter o favor pedido. Jesus condenou estas coisas, quando falou sobre as superstições comuns no seu tempo: Ai de vós, condutores cegos, que dizeis: “Se alguém jurar pelo santuário, os eu juramento não obriga, mas se jurar pelo ouro do santuário, ou seu juramento obriga”. Insensatos e cegos! O que é maior: o ouro, ou o santuário que santifica o ouro? Dizeis mais: “Se alguém jurar pelo altar, não é nada, mas se jurar pela oferta que está sobre o altar, fica obrigado”. O que é maior: a oferta ou o altar que santifica a oferta? Pois o que jura sobre o altar jura por ele e por tudo o que sobre ele está. E o que jura pelo santuário, jura por ele e por Quem nele habita (Deus). Por fim, o que jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por Ele, que ali está sentado (Mt 23,16-22).
No Livro do Profeta Jeremias lemos: Não vos deixeis enganar por profetas e adivinhos em vosso meio. Não deis atenção aos seus sonhos, pois eles vos propõem, em meu nome, falsos oráculos. Não os mandei, diz o Senhor Deus (Jr 29,8).
A idolatria é um grave pecado contra o 1º. Mandamento. O idólatra coloca alguma criatura (planta, animal, coisa, pessoa) no lugar de Deus e presta a esta a adoração e o culto devidos só a Deus. Nos tempos do Antigo Testamento havia o costume de fazer imagens, ídolos de ouro e prata, que têm boca e não falam, têm olhos e não vêem (…) (ver Sl 115/116,4—5.8; Is 44,9-20; Jr 10,1-16; Dn 14,1-30; Br 6; Sb 13,1-15,19).
No Novo Testamento, o único ídolo mencionado por Jesus foi Mamon, o ídolo do dinheiro no seu tempo: Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ous se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro (isto é, Mamon) (Mt 6,24; Lc 16,13). O Apóstolo Paulo insiste: Mortificai, pois, os vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixão, desejos maus, cobiça, que é idolatria (Cl 3,5), porque a raiz de todos os males é o amor ao Dinheiro, por cuja cobiça muitos se afastaram da fé e as im mesmos se afligem com muitos tormentos (1Tm 6,10).
A invocação dos mortos: prática muito comum, base mesmo de algumas crenças religiosas. No Deuteronômio esta prática é severamente afastada do Povo de Deus: Não se achará, no meio de ti quem imole sua filha ou seu filho no fogo; quem se entregue à adivinhação, à astrologia, às feitiçarias e à magia; quem recorra a encantamentos; quem interrogue fantasmas ou espíritos; quem invoque os mortos. Porque todo aquele que pratica estas coisas é abominável diante de Javé (Dt 18,10-11). E ainda: Não vos dirigireis aos que evocam espíritos nem aos adivinhos. Não os consultareis para que não vos torneis impuros como eles (Lv 19,31; ver 20,6-27).
Como lemos acima, a astrologia, que consiste em estudar os astros para conhecer os destinos humanos também é condenada. Na verdade, confia ao Senhor a tua sorte, pois Ele te ampara (Sl 54/55,23). Também está dito: Confia ao Senhor as tuas obras, e teus planos se realizarão (Pr 6,3). Este ensinamento está confirmado pelo Senhor Jesus: Não vos preocupeis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã trará consigo as suas próprias preocupações. A cada dia bastam seus cuidados (Mt 6,34)
Tentar a Deus, isto é, pôr Deus à prova, desafiá-lo, acusando-o de não ver, não se importar, não ser bom, não existir. Quando Jesus resistiu ao demônio, repetiu a palavra que tinha sido dada ao Povo de Deus: Não tentarás ao Senhor, teu Deus (Mt 4,7; Lc 4,12; Hb 4,15; ver também Dt 6,16; Ex 17,2; Sl 78/79,18; 95/96,9; 106/107,14; Is 7,12; Ml 3,15). No Livro de Judite lemos: Não exijais garantias a respeito dos desígnios do Senhor nosso Deus, pois Deus não é como um homem, a quem se possa ameaçar, nem como filho do homem, a quem se possa impor alguma coisa. Portanto, aguardando com paciência o seu auxílio, vamos invocá-lo em nosso socorro. Ele ouvirá a nossa voz, se quiser.
A simonia, que consiste em comprar e vender bênçãos, orações, sacramentos, ou usar o serviço do Povo para enriquecer-se, como fizeram Ofni e Finéias, filhos de Eli, sacerdotes do Senhor (ver 1Sm 1,3 e 12-17: O pecado destes moços era demasiado grande diante de Javé, porque eles desprezavam a oferta a Javé). O nome deste pecado vem do episódio de Simão, o Mago, que tentou comprar dos Apóstolos do poder de fazer milagres (ver At 8,18-23).
250. Quais são as principais virtudes ligadas a este primeiro e maior mandamento?
A fé, a esperança e a caridade.
A fé, que Jesus louva particularmente: Nem mesmo em Israel achei semelhante fé! (Mt 8,10; Lc 7,9). Jesus também a exige: Crede em Deus e crede também em mim (Jo 14,21). Também está dito: Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer, será condenado (Mc 16,16). Uma passagem conhecida é no episódio da ressurreição de Lázaro: Eu sou a Ressurreição e a Vida. Todo aquele que crê em mim, mesmo se morrer, viverá, e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre. Crês nisto? (Jo 11,25-26).
A esperança: Abraão é louvado por ter tido esperança contra toda esperança (Rm 4,18). Por isso o Apóstolo recomenda: … agora vivemos alimentando a esperança da glória de Deus … até nos orgulhamos de nossos sofrimentos, porque temos a certeza de que o sofrimento gera a paciência, a paciência é a comprovação da fidelidade, e a fidelidade comprovada produz a esperança. E a esperança não engana, porque Deus tem derramado seu amor em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado (Rm 5,2-5). Jesus manda que os discípulos esperassem em Jerusalém o Espírito prometido (At 1,4). Nossa esperança está em Deus (At 24,15), que é chamado de Deus da esperança (Rm 15,13). A esperança cristã está voltada para o dia do Senhor, o dia do Seu retorno (At 1,11; 3,20). Ele assegurou que viria como um ladrão, à noite, e recompensaria os que encontrasse esperando vigilantes (Mt 24,36; ver 1Ts 1,2-9). Por tudo isso, é dada a nós uma esperança superior (Hb 7,19) às esperanças desta terra, e devemos conservar firme a confissão de nossa esperança (Hb 10,23). De fato, fomos regenerados para uma viva esperança (1Pd 1,13), desde que nossa fé e esperança estejam em Deus (1Pd 1,21). Estejamos prontos para dar a razão de nossa esperança (1Pd 3,15), que é Cristo Jesus, nossa esperança (1Tm 1,1).
A caridade é a virtude diretamente ordenada pelo 1º Mandamento. Ela resume todas as virtudes necessárias para cumprir os outros, que se resumem em amar o próximo (Mc 12,28-33; ver Lv 19,18). Ela é um dom, um carisma, um dom superior, um caminho infinitamente superior (ver 1Cor 12,1.11 e 31; 13,1-13). Assim devemos procurar a caridade (1Cor 14,1). A verdadeira caridade é paciente, a caridade é bondosa, a caridade não é invejosa. Não é arrogante, nem orgulhosa. Não faz o que é inconveniente. Não busca o próprio interesse. Não se irrita, nem se julga ofendida. Não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Ela tudo perdoa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (1Cor 13,4-7).
Sua fonte é Deus, que é Amor, isto é, Caridade (1Jo 4,7). Ele faz brilhar seu sol e chover sobre bons e sobre maus (Mt 5,45). Assim a virtude da caridade abraça tanto os inimigos, quanto os que não podem ser agradecidos (Mt 5,43-47), Esta é a perfeição de Deus (Mt 5,48), à qual devemos tender. Como este mundo é marcado pelo pecado, sofrimento e morte, esta perfeição da caridade assume a forma de “misericórdia”: Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso (Lc 6,36).
A caridade é o critério definitivo da salvação: Eu vos declaro esta verdade: cada vez que fizestes isto a um dos menores dos meus irmãos, a mim o fizestes … O que não fizestes a um destes pequeninos, não o fizestes a mim… (Mt 25,40 e 45). Do mesmo modo ensina João a nós, os filhinhos: Se alguém tiver bens neste mundo e vir o seu irmão passando necessidade e lhe fechar o coração, como o amor de Deus permanecerá nele? Filhinhos, não amemos só de palavra nem só de língua, mas com atos e de verdade (1Jo 3,17-18).
A caridade é a garantia da vida, como aprendemos na parábola do bom samaritano: Faze isso e viverás (Lc 10,28). Só podemos tê-la porque Deus nos amou primeiro (1Jo 4,10). Por isso, a caridade exigida pelo Cristo, é a resposta ao Seu dom: Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Assim como vos tenho amado, vós também deveis amar uns aos outros. É pelo fato de vos amardes que todos conhecerão que sois meus discípulos (Jo 13,34-35)
251 Que outra virtude está ligada à vivência do 1º mandamento?
Por justiça, devemos amar quem nos ama, amar a Deus, que nos amou primeiro (1Jo 4,10). A virtude da religião nos dispõe a esta atitude. Seus principais atos são a adoração, a oração e o sacrifício:
A adoração, pois está dito: Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás (Lc 4,8). Contudo, temos de ser cuidadosos no uso desta palavra, pois “ad + orar” vem do latim, que significa “levar à boca”, “beijar”, e neste uso comum dizemos que a mãe “adora” seu bebê, isto é, ela muito o ama e o “cobre de beijos”. Neste sentido, na Liturgia da Semana Santa, se fala de “adorar” ou “beijar” a Cruz, numa demonstração de fé, amor carinhoso e gratidão a nosso Redentor, Jesus.
A oração, pois é preciso orar sempre, sem desanimar (Lc 18,1). Ou, por exemplo, como ensina São Paulo: Orai sem cessar (1Ts 5,17). Também São Tiago: Orai uns pelos outros (Tg 5,16).
O sacrifício, cujo exemplo maior nos foi dado pelo próprio Cristo, que se ofereceu a si próprio sem mancha a Deus, assim purificando nossa consciência das obras mortas para servirmos a Deus vivo (Hb 9,14). Jesus é o Cordeiro imolado, sacrificado (1Pd 1,19; Ap 5,6), cumprindo a palavra profética de João Batista: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1,29). Ele deu a sua vida por nós: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos (Jo 14,13). Eis como reconhecemos o amor: ele entregou a sua vida por nós. Assim nós também devemos dar a vida por nossos irmãos (1Jo 3,16).
O santo sacrifício de Cristo é celebrado e entregue, quando cumprimos sua ordem: Fazei isto em memória de mim (Lc 22,19; 1Cor 11,24). Toda vez que participamos da Ceia do Senhor, da Eucaristia, da Santa Missa, toda vez que nos sentamos à sua mesa, nós participamos do único dom e sacrifício de Cristo: Não é a comunhão com o sangue de Cristo o cálice da bênção que abençoamos? Não é a comunhão com o corpo de Cristo o pão que partimos. Porque há um único pão, nós todos formamos um só corpo, pois todos participamos deste único pão (1Cor 10,16-17). Este é um sacrifício espiritual (1Cor 10,3), um dom de amor, e não um ato apenas exterior, conforme os antigos profetas insistiram e Jesus repetiu: Quero misericórdia e não sacrifícios (Mt 9,13 e 12,7).
Aprendemos a fazer sacrifícios com o bom samaritano, que desce da montaria para se fazer próximo do desconhecido necessitado, abrindo mão do tempo, comodidade e bens para socorrê-lo. Assim superamos qualquer outro sacrifício de bois e carneiros do passado: Mestre, tens razão em dizer que “Deus é único e não há outro além dele. Amá-lo de todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças e amar o próximo como a si mesmo”. Estes dois mandamentos valem mais do que todos os holocaustos e todos os outros sacrifícios (Mc 12,33).
Em resumo: nós fazemos sacrifícios agradáveis a Deus quando nos doamos por amor, partilhando o que somos e o que temos.
252 A veneração das imagens de Nosso Senhor, sua Mãe, a Virgem Maria, os santos e santas e anjos não é contra o 1º mandamento?
É proibido fazer imagens e atribuir-lhes divindade, fazendo delas outros deuses: Não farás para ti imagens esculpida nem figura alguma à semelhança do que há em cima do céu, nem do que há embaixo da terra. Não te prostrarás diante destes deuses, nem os servirás (Ex 20,4-5). Mas não foi proibido fazer imagens que ajudassem os fiéis no culto do verdadeiro Deus: Farás dois querubins de ouro, trabalhando-os em ouro batido … terão as asas abertas para cima … estarão com as faces voltadas um para o outro, sem desprenderem os olhos do centro (Ex 25,18-22). Os ramos do candelabro de sete braços deviam ser esculpidos com formas de amêndoas, com botões e flores (Ex 25,33). O famoso mar de bronze do Templo de Salomão, estava apoiado sobre doze bois, esculturas de bronze, e era ornamentado grinaldas, bois, leões e querubins (1Rs 7,25-29; ver 6,29). Flores trabalhadas nos candelabros de ouro enfeitavam o Santo dos Santos (1Rs 7,49).
Os artistas e artesãos que executaram estas obras não são chamados de idólatras no Antigo Testamento. Moisés atesta que Deus os encheu um espírito divino … de sabedoria de coração para executarem toda a sorte de trabalho de escultura e de artesanato… (ver Ex 35,30-35).
Também é conhecido como Deus livrou o Povo da praga de serpentes, mandando que Moisés fizesse uma serpente de bronze, erguida num poste, de modo que os que a olhassem ficassem curados (Nm 21,8-9).
Jesus lembrou esta passagem, relacionando-a com a cena da sua crucifixão: Como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim o Filho do homem deve ser erguido, para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna (Jo 3,14). Desde muito cedo os cristãos veneraram a santa cruz e o Crucificado, como imagem do amor até o fim.
Quando se encarnou, o Filho de Deus inaugurou uma nova etapa da história da Salvação. Agora Deus invisível se fez visível: No passado, Deus falou a nossos pais muitas vezes e de diversas maneiras … No período final em que estamos, ele nos falou por meio de seu Filho … a irradiação de sua glória e a expressão exata do seu ser. Ele sustenta todo o universo por sua palavra poderosa … ao introduzir seu Filho no mundo, ele disse: “Todos os anjos de Deus devem adorá-lo” (Hb 1,1-6). Agora Deus invisível se fez visível: Jesus, grande Deus e Salvador nosso (Tt 2,13).
A veneração e o carinho com que os cristãos tratam as imagens, que representam o Salvador, cenas dos Evangelhos, anjos ou santos e santas honram a encarnação do Verbo de Deus e não se confundem com o costume pagão de fazer deuses fundidos (Ex 34,17).
253 Que significado tem o 2º mandamento da Lei de Deus?
Deus se dá a conhecer, ele se revela a seu povo, num ato divino de amor. Por isso, nós o chamamos pelo Nome: Eu sou aquele que sou (Ex 3,14), em hebraico Javé, “EU SOU”. Seu Nome é Santo (Sl 30/31,4 e muitas outras passagens). Por isso, cantemos louvores ao Nome do Senhor (Sl 9,18). Cristo Jesus nos ensinou a chamar Deus de Pai nosso e suplicar que o Seu Nome seja santificado (Mt 7,9). Somos batizados em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19). Nós honramos o Nome do Pai, quando nos comportamos como verdadeiros filhos, por exemplo, quando confessamos a fé sem ceder ao medo (Mt 10,32) e cumprimos os seus mandamentos: Como meu pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor, como eu cumpro os mandamentos do Pai e permaneço no seu amor (Jo 15,9-10; ver Jo 14,15-21).
254 O que proíbe o 2º mandamento?
Proíbe o uso indevido do Nome Santo, e ainda: a blasfêmia, o juramento falso, o perjúrio e o não cumprimento das promessas feitas a Deus ou a seus santos e santas.
O pior uso indevido do Nome de Deus é por pessoas que se julgam ou se dizem religiosas e/ou cristãs e cometem falsidades, pecados e crimes (ver Jr 7,1-15). A blasfêmia consiste em abusar do Nome de Deus com brincadeiras desrespeitosas e até ofensas. Entre outras passagens que condenam a blasfêmia, podemos lembrar a da Carta de Tiago. O Apóstolo censura os que desprezam os pobres, os oprimem e arrastam aos tribunais. Então pergunta: Não são eles os que blasfemam (ultrajam) o Nome sublime, que foi invocado sobre vós? (Tg 2,7). O juramento falso é invocar a Deus como testemunha de uma mentira e o perjúrio consiste em faltar ao juramento feito a Deus. Para evitá-los, Jesus disse: Tendes ouvido o que foi dito aos vossos antepassados: “Não jurarás em falso, mas cumprirás para com o Senhor os teus juramentos”. Eu, porém, vos digo: não jurarás de forma alguma. Nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, que é o apoio dos seus pés (ver Mt 5,33-37).
Como São Paulo (ver At 21,23) a Igreja admite e louva os votos e promessas, mas eles devem ser cumpridos, a não ser por motivo de força maior.
255 O que manda o 3º mandamento da Lei de Deus?
No Antigo Testamento, a vontade de Deus de que descansemos em honra dele é apresentada com toda a força: Durante seis dias podereis trabalhar. O sétimo dia, porém é o do descanso completo, dedicado a Javé. Todo o que trabalhar será punido de morte (Ex 31,15). De fato, a violação deste mandamento traz um peso insuportável à sociedade, torna o ser humano escravo e não senhor do seu trabalho. A supressão do dia semanal de repouso é um elemento de uma cultura inumana, que não respeita a família, a pessoa e não considera suas necessidades de alegria, festa, repouso, convivência, felicidade. Para todos os promotores desta cultura vale o que mandou dizer o Senhor ao faraó: Deixa sair o meu povo para que possa celebrar a minha festa no deserto (Ex 5,1).
As festas, querida obrigação do Povo de Deus, são numerosas no Antigo Testamento. A principal era a da Páscoa, seguida pela dos Tabernáculos (“Das tendas”), ou Pentecostes (“Dos 50 dias”). Jesus as celebrou: Páscoa (ver por ex. Lc 22,15: Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco), Pentecostes (ver Jo 7,2.14.37) e a Dedicação do Templo (Jo 10,22-38).
A Páscoa de Jesus é o Mistério de sua Morte e Ressurreição, contido e expresso na sua Última Ceia, seu Sacrifício de Louvor e Ação de Graças, a Eucaristia, “a partilha do Pão”. Por isso, a Eucaristia é a “mesa do Senhor” em cada dia de festa e de repouso, cada “Dia do Senhor”, ou “Domingo”, o Dia da Ressurreição: Ora, no primeiro dia da semana nós nos reunimos para partir o pão… (At 20,7). A prática cristã e apostólica de celebrar o repousos agrado e a comparecer à Mesa do Senhor, para celebrar, cada domingo, a Páscoa do Senhor, o Pão da Vida, também é testemunhada na Carta aos Coríntios, o mais antigo documento escrito do Novo Testamento. Era nesta reunião “de família”, no primeiro dia da semana, o domingo, que se fazia a coleta em favor dos pobres: Em todo o primeiro dia da semana, cada um de vós separe o que pôde economizar, de modo que não se espere a minha chegada para, então, fazer a coleta (1Cor 16,2). Do mesmo modo, a importância do domingo é sublinhada pelo texto do Apocalipse (1,10): No Dia do Senhor (“Dominica Dies”) fui levado em espírito e ouvi a Revelação.
Por isso, já não celebramos o sábado, mas o domingo, como o dia que é da Ressurreição. Portanto, como diz o Apóstolo, ninguém vos condene por questões de alimentos e bebidas, por motivos de festa, luas novas ou sábados (1Cl 2,16).
Muitas pessoas crêem obedecer a Deus tornando o repouso semanal uma quase tortura de imobilidade, defendida por uma multiplicidade de proibições. Por isso o Senhor Jesus lembrou que o sábado é feito para o homem, e não o homem para o sábado (Mc 2,27). Afinal, o sábado, antigamente, e o domingo, na Nova Aliança, é o dia que o Senhor preparou, dia de júbilo e alegria (Sl 117/118,24).
Lemos nas Escrituras: Não abandoneis nossas assembléias como alguns costumam fazer. Pelo contrário, encorajemos uns aos outros, e, agora, com maior razão, quando vedes aproximar-se o Dia do Senhor (Hb 10,25). Deste modo devemos atender o mandamento da Igreja de participar ativa e piedosamente da Santa Missa nos domingos de festas a serem observadas.
256 O que determina o 4º mandamento?
Como Jesus insistiu várias vezes, este mandamento ordena honrar pai e mãe e não deixá-los ao desamparo (ver Mt 15,4-8; 19,19; Mc 7,10; 10,19; Lc 18,20). Ele faz questão de dizer que honra seu Pai celeste (Jo 8,49). E o Apóstolo ensina: Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, como é de justiça. “Honra teu pai e tua mãe” é o primeiro mandamento acompanhada de uma promessa: “para que sejas feliz e tenhas uma longa vida sobre a terra” (Ef 6,1-3; ver Ex 20,12).
Jesus mesmo deu exemplo de vivência deste mandamento, como atesta o Evangelista: Então, desceu de lá (de Jerusalém) em sua companhia (dos seus pais, Maria e José), voltou para Nazaré e lhes era submisso (Lc 2,51).
257 Podemos dizer que este 4º mandamento é o mandamento da família?
Sim. Como Paulo recorda: Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor.. Maridos, amai vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou a ela para santificá-la e purificá-la pela água do batismo e pela palavra, para fazê-la comparecer diante de si resplandecente, sem mancha nem algo parecido, mas santa e imaculada. Além disto, os maridos devem amar suas esposas como a seus próprios corpos … Enfim, cada um ame a sua esposa como a si mesmo e a esposa respeite o seu marido (ver Ef 5,21-33).
Neste ambiente cristão, segundo o plano de Deus, compreendemos o que se segue: Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, como é de justiça. “Honra teu pai e tua mãe” é o primeiro mandamento acompanhado de uma promessa: “Para que sejas feliz e tenhas uma vida longa sobre a terra”. E vós pais, não irriteis os vossos filhos: educai-os na disciplina, corrigindo-os e instruindo-nos no Senhor (Ef 6,1-4).
258 A justa obediência às autoridades públicas está ligada a este 4º mandamento?
Sim, como lemos na mesma Carta aos Efésios. Depois de falar do casamento cristão, e do relacionamento de pais e filhos, o Apóstolo continua: Servidores, obedecei a seus senhores da terra, com respeito e simplicidade de coração, como a Cristo, não trabalhando somente porque eles vos estão vendo, como aquele que só quer agradar aos homens, mas como servidores de Cristo, que fazem, de coração, a vontade de Deus … E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles – os servidores. Deixai de lado as ameaças, sabendo que é o mesmo o Senhor deles e o vosso. Ele está nos céus e não faz distinção de pessoas (Ef 6,5-9).
259 O que mais inclui este 4º mandamento?
A obrigação de amparar os pais, quando eles necessitarem. Podemos recordar a palavra do Sábio: Filho, cuida do teu pai na velhice e não o desgostes na vida. Mesmo se o seu entendimento faltar, sê indulgente com ele. Tu, que estás em pleno vigor, não o menosprezes… Quem despreza o pai é como um blasfemador, e aquele que irrita a sua mãe, um amaldiçoado pelo Senhor (Eclo 3,12 e 16).
Do mesmo modo, disse Jesus: Vós desprezais o mandamento de Deus para observar a vossa tradição. De fato, Moisés ordenou: “Honra teu pai e tua mãe”; e também: Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe será punido com a morte”. Mas vós ensinais: “Se alguém disser ao pai ou à mãe: ‘O auxílio que receberias de mim, eu o declaro “Corban” (isto é, “Oferta a Deus”)’; já não deixais que faça nada em favor do pai ou da mãe. Anulai assim a palavra de Deus, por causa dos costumes que passais de uns para outros… (Mc 7,9-11).
260 Quando o cidadão deixa de estar obrigado a obedecer ao poder público, ou o filho aos pais?
Em caso de grave abuso, quando as imposições da autoridade são contrárias à lei de Deus, conforme está escrito: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5,29).
261 Quando Jesus deu exemplo de obediência às autoridades públicas?
Quando, por exemplo, pagou o imposto ao Templo, embora, como Filho do Pai do céu estivesse isento. Disse ele a Pedro: Vai ao mar, atira o anzol e apanha o primeiro peixe que morder a isca. Abrindo-lhe a boca, encontrarás uma moeda de duplo valor (“didracma”). Pega-a e entrega-lhes por mim e por ti (Mt 17,24-27).
262 Quando Jesus deu exemplo de resistência ao abuso de autoridade?
Quando se recusou a responder primeiro a Herodes, depois a Pilatos. O primeiro não tinha legítima autoridade sobre ele, que não era galileu, nem estava no território daquele rei. O segundo, perdeu a legitimidade para julgar, quando desprezou, abertamente, a verdade (ver Lc 23,9; Jo 18,38 e 19,9-10).
263 Quando é justo recorrer à força para resistir ao abuso de autoridade?
No Livro dos Juízes, por exemplo, vemos como muitas vezes o Povo de Israel recebeu a graça de lideranças capazes de levá-lo à vitória contra seus opressores. Assim, Débora, em nome de Javé, chamou Barac e lhe ordenou que marchasse com dez mil homens contra o exército de Sísara, general do rei cananeu Jabin (Jz 4,4-7). O mesmo Abraão teve de usar a força para libertar Lot e família que tinham sido seqüestrados (cf Gn 14,13-16). João Batista não achou indigna a profissão militar, mas somente exigiu dos soldados que não maltratassem ninguém para extorquir dinheiro, não fizessem denúncias falsas e que se contentassem com a sua paga (ver Lc 3,14). Do mesmo modo Jesus aceitou piedade do centurião e não lhe pediu que deixasse o exército romano (Mt 8,8-13).
Refletindo sobre estes elementos, a Igreja ensina que a resistência armada à opressão e tirania do poder público se justifica quando ocorrerem conjuntamente as seguintes condições: 1) em casos de violações certas, graves e prolongadas dos direitos fundamentais; 2) depois de se terem esgotado todos os outros recursos; 3) sem provocar desordens piores; 4) que haja uma esperança fundada de êxito; 5) se for impossível prever, razoavelmente, soluções melhores (Catecismo Católico – 9ª edição – no. 2243). Contudo, nos nossos tempos, cada vez mais fica claro que o caminho da resistência “não violenta” é o mais indicado.
264 O que manda o 5º Mandamento?
Não matarás (Ex 20,13). O Senhor Jesus aprofundou seu sentido: Tendes ouvido o que foi dito aos antigos: “Não matarás, pois quem matar será responsável em juízo” (ver Ex 20,13; Dt5,17; Lv 24,17). Mas eu vos digo: quem tiver raiva do seu irmão será responsável em juízo; quem o chamar de “imbecil” será responsável diante do tribunal superior; quem o chamar “excomungado” merecerá o castigo do fogo da geena. Se estiveres para apresentar a tua oferta ao pé do altar e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, larga tua oferta diante do altar e vai, primeiro, reconciliar-te com o teu irmão (Mt 5,21-24).
De modo positivo, o 5º Mandamento afirma que a vida é um dom de Deus e tem de ser respeitada. Por isso o Senhor disse: Vim para que todos tenham vida e via em abundância (Jo 10,10).
265 Desde que momento a vida da pessoa humana está protegida por este 5º mandamento?
O ser humano vive e é amado por Deus ainda no seio da mãe que o gerou: Antes mesmo de te formares no seio materno, eu te conheci; antes que saísses do seio materno eu te consagrei (Jr 1,5). E também: Os meus rins tu formaste, desde o seio materno me teceste (Sl 138/139,13). Por isso a vida humana, desde que foi concebida no útero materno está protegida contra o aborto pelo 5º mandamento e também contra qualquer tipo de manipulação, inclusive chamada de “experiência científica”, que lhe faça violência.
266 O que mais está proibido por este 5º mandamento?
Provocar diretamente a morte de uma pessoa, mesmo que seja com o motivo de evitar sofrimentos (a chamada “eutanásia”). Os diagnósticos médicos não devem ser transformados em sentenças de morte, nem os médicos em carrascos; nem os familiares em júris com poderes de tirar a vida: Não matarás o inocente nem o justo (Ex 23,7). É um absurdo que nossas sociedades que vêm banindo a pena de morte para adultos, muitas vezes criminosos psicopatas, estejam implantando pena de morte para inocentes, ainda no seio das suas mães, ou sob cuidados médicos por extrema debilidade e doença.
Contudo não é necessário que se prolongue artificiosamente a vida e se negue medicação, cuja finalidade não é causar a morte rápida, mas aliviar o sofrimento, mesmo que isto resulte em menos tempo de sobrevivência do paciente terminal.
Também o suicídio não deve ser promovido ou ajudado. Mas se deve cuidar, amparar e consolar as pessoas nos seus grandes sofrimentos para que não cheguem a ser tentadas a tirar a própria vida.
267 O que a Igreja ensina sobre a “legítima defesa”, quando se usa de força e isto resulta também na morte do agressor injusto?
A legítima defesa da própria vida, ou da vida de alguém ou de uma população acontece quando se é coagido a usar a força a tal ponto que resulte da morte do agressor ou agressores. Se o uso da força for desnecessário, porque há outros meios razoáveis para salvar os agredidos, ou se for usada força mais do que o necessário, este uso da força será condenável.
O amor a si mesmo, que é mandado por Deus, e o amor ao próximo podem mais do que dar direito à legítima defesa. Podem gerar o dever do uso da força por parte de quem é responsável pela própria vida ou pela alheia ou de uma população.
A autoridade legítima poderia chegar a condenar alguém à pena de morte somente se esta fosse a única amaneira de defender a vida humana contra um agressor injusto. Na prática, é quase impossível de acontecer, pois, mesmo no caso de um psicopata assassino a experiência e a razão mostram que se pode evitar que continue sua atividade homicida mantendo-o devidamente afastado do convívio social e sob tratamento.
Embora se ouçam vozes em favor de uma condenação total às guerras, que sempre resultam na morte de inocentes, até de milhões, o ensino da Igreja ainda autoriza o uso de força pelos governos em casos extremos de defesa da vida das populações sob sua responsabilidade. Este ensino vem evoluindo sem perder de vista que João Batista (Lc 3,14-15), Jesus (ver Mt 8,5; Lc 7,2) e Pedro (At 10,1) acolheram militares, sem exigir que abandonassem seu serviço. Nos dias da perseguição muitos militares tiveram a honra de morrerem mártires de Cristo, como São Sebastião. Um grande confessor da fé, São Martinho de Tours, serviu no exército romano cerca de 20 anos. Entretanto este não deve ser um recurso desesperado, mas quando houver fundada expectativa num mal menor e se poderá impedir maiores desgraças.
268 O que mais manda este 5º mandamento?
Situações de miséria, abandono, exclusão, geradas por leis, políticas, costumes e tradições egoístas e desumanas são condenadas por este 5º mandamento. O Senhor exige que não causemos a morte de nossos irmãos, os outros seres humanos, pois suas vidas lhe pertencem: Pedirei contas do sangue de cada um de vós … Quem derramar o sangue de um homem, por outro homem terá o seu sangue derramado. Porque à imagem de Deus o homem foi feito (Gn 9,6).
A violência gera mais violência. Por isso o cristão deve levar em conta seriamente o que o Senhor ensinou: Tendes ouvido o que foi dito: “Olho por olho e dente por dente” (Ex 21,24). Mas eu vos digo: não resistais ao malvado. A quem te bater na face direita, oferece também a esquerda … Tendes ouvido o que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Mas eu vos digo: amai vossos inimigos e rezai pelos que vos perseguem (ver Mt 5,38-48; Lc 7,27-35). Este é o fundamento da chamada resistência “não violenta”, da qual Gandhi, o libertador da Índia, foi o grande líder no século 20.
Portanto, devemos fazer tudo para proteger a vida humana e evitar que se criem situações de desespero que levem à morte, tanto em casos particulares, como em casos de inteiras populações: Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso (Lc 6,36).
Assim a sociedade, os governos e as pessoas individualmente consideradas estão obrigadas a defender e promover a vida, removendo os obstáculos que a diminuem ou impedem, conforme a bênção de Deus: Quanto a vós, sede fecundos, multiplicai-vos e proliferai sobre a terra e a governai (Gn 9,7). Por isto, a compreensão da vontade de Deus a favor da vida humana exige um cuidado com o planeta terra, onde o ser humano tem o seu ambiente vital.
No caso de pessoas gravemente deformadas, incapacitadas, deficientes física e mentalmente, temos de considerar que os cristãos devem assumi-las, socorrê-las e cuidá-las, animados pela confiança em Deus, Pai nosso, e testemunhando a caridade, que tudo crê, espera e sofre (ver 1Cor 13,7).
269 O que mais exige o respeito à vida ordenado no 5º mandamento?
Também se considera exigido pelo 5º mandamento não causar escândalo, isto é, causar a queda de alguém por atitudes ou palavras que levem outra pessoa a praticar o mal. O escândalo é particularmente grave quando a pessoa atingida é frágil e indefesa: Seria melhor que quem fizesse cair em pecado um só destes pequeninos que crêem em mim, que lhe amarrassem um grande pedra de moinho ao pescoço e o atirassem ao mar. Desgraçado deste mundo pelos fatos que levam ao pecado! mais desgraçado é quem for causa deles! Portanto, se tua mão ou o teu pé te leva ao pecado, corta-o e atira-o para longe… Cuidado, não desprezeis um só destes pequeninos! Porque eu vos digo que os seus anjos, no céu, contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus (ver Mt 18,6-10; Lc 17,1-2).
Não só comportamentos individuais causam situações de pecado para os outros. Também costumes, modas, leis, instituições podem tornar muito difícil a vida digna e moral das pessoas. E o escândalo será tanto mais grave quando partir de pais, educadores, médicos, autoridades. Nestes casos eles serão como lobos revestidos de peles de ovelha (Mt 7,15), que retêm a chave da porta da ciência, não entrando e não deixando os outros entrar (ver Lc 11,52).
270 Há outros comportamentos que são claramente contra o 5º mandamento?
Certamente. Podemos citar a tortura, também moral e psicológica, (que se pode dar também dentro das famílias); os seqüestros e as tomadas de reféns; o terrorismo; a exposição desnecessária a perigos certos, como em várias atividades tidas como esportes radicais; a negligência com a própria saúde; a negligência com a saúde pública, inclusive com a saúde moral dos povos; a criação de condições de dependência e perda de controle das pessoas (álcool, fumo, tóxicos, sexo); os crimes do trânsito. Todos estes comportamentos estão alinhados com as obras da carne, denunciadas pelo Apóstolo: As obras da carne são bem evidentes: prostituição, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódios, brigas, ciúme, cólera, intrigas, discussões, divisões, inveja, bebedeiras, orgias e outras coisas parecidas. Eu vos previno, como já fiz anteriormente: os que praticam estas coisas não tomarão parte do Reino de Deus (Gl 5,19-21).
271 Qual a melhor garantia de não pecar contra o 5º mandamento?
A vida conforme o Espírito de Jesus, dando seu fruto que é caridade, alegria, paz, paciência, gentileza, bondade, fidelidade, doçura, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram suas tendências baixas, suas paixões e desejos. Se vivemos pelo Espírito, sigamos também o Espírito (Gl 5,22-25)
272 O que manda o 6º mandamento da Lei de Deus?
Na versão catequética do ensino comum da Igreja, o 6º mandamento ordena não pecar contra a castidade. No Antigo Testamento, está dito: Não cometerás adultério (Ex 20,14). Jesus foi à raiz de onde nascem os adultérios, os ciúmes, as traições, os comportamentos depravados, os costumes que ferem a humanidade: Ouvistes o que foi dito: “Não cometerás adultério”. Eu porém vos digo: todo aquele que olhar para uma mulher com mau desejo já cometeu no seu coração adultério com ela (Mt 5,27-28). A esta atitude profunda do coração puro e vigilante para se manter inocente chamamos “castidade”, de “casto”, isto é, “puro”.
273 Então, o que quer dizer “castidade”?
A palavra “castidade” significa “pureza”. A pureza, como ensinou Jesus, começa no olhar: Teus olhos são a lâmpada do corpo. Se pois teus olhos estão bons, todo o teu corpo estará na luz. Mas se teus olhos estão doentes, todo o teu corpo estará nas trevas E se a luz que está em ti se tornou trevas, como serão grande esta trevas! (Mt 6, 22-23). O amor de verdade é limpinho.
274 O que exige este 6º mandamento?
Exige um grande respeito pelo corpo humano e sua sexualidade. O Apóstolo insiste diante de comportamentos muito comuns no seu tempo e em todos os tempos, quase tidos como normais: Não vos enganeis! Nem os que se prostituem, nem os que adoram ídolos, nem os que praticam adultério, pessoas que têm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo (ver Nota logo abaixo), roubo, avareza, os beberrões, os que injuriam os outros, os salteadores terão parte no Reino de Deus. E é isto o que alguns de vocês têm sido. Mas vós fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e mediante o Espírito de nosso Deus (1Cor 6,9-11).
Nota: o Autor não concorda com traduções genéricas demais, que falam de “depravação”, nem específicas demais, que falam de “homossexualismo”. Tanto o texto inspirado grego, como a Vulgata e a Neo-Vulgata falam de “homens que dormem com outros homens”, no sentido sexual da expressão. É evidente que “homens” significa “seres humanos”. Daí nossa tradução. Ela corresponde também à doutrina moral reiterada pela Igreja, que só condena os atos homossexuais, isto é a prática do homossexualismo, incluindo sua propaganda e difusão, mas não a orientação homossexual de alguém. Do mesmo modo, não é matéria de pecado a inclinação a roubar, mentir ou matar, mas o pecado começa quando alguém, vendo internamente que tais coisas são más, admite desejá-las, passa a querê-las e chega a se decidir a praticar o mal. Pior, evidentemente, quando chega a praticar este mal.
275 Qual o princípio do comportamento cristão segundo o 6º mandamento?
É o princípio do amor, que tem consideração profunda por si e pelos demais e pelo plano do Pai nosso para nós: Tudo me é permitido, mas nem tudo é proveitoso para mim. Tudo me é permitido, mas não me deixarei dominar por coisa alguma. O alimento é para o estômago, e o estômago para o alimento, mas Deus destruirá um e outro. Mas o corpo não é para a relação sexual desonesta, mas para o Senhor e o Senhor é para o corpo. E Deus, que ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará também a nós pelo seu poder. Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? E tomarei os membros de Cristo para fazer deles membros de uma prostituta? De modo nenhum! … Fugi da perversão sexual! Todo o pecado que o ser humano comete é exterior a seu corpo. Mas o que fornica (tem relações sexuais fora do casamento honesto) peca contra próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é um templo do Espírito Santo, que está em vós e recebestes de Deus? E que não sois senhores de vós mesmos? Porque, na verdade, vós fostes comprados. Então, glorificai a Deus em vosso corpo.
276 Como a virtude da castidade ajuda o casamento feliz, honesto e digno?
Jesus restaurou o plano original de Deus para a união do homem e da mulher. Interrogado pelos fariseus sobre a validade do divórcio, Jesus respondeu: Não tendes lido (nas Escrituras) que o Criador, desde o princípio, fez o ser humano homem e mulher? E ele disse: “Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e serão os dois uma só carne”? (ver Gn 2,24 e 2,27) Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe (Mt 19,3-6).
No plano de Deus a união no matrimônio é fruto de uma união de corações livres, para ser vivido com lealdade em todas as circunstâncias: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da vida. A castidade permite liberdade na escolha da pessoa com quem se vai partilhar a vida e permite liberdade no bom uso do corpo e das faculdades sexuais um do outro, permite a abstinência sexual quando necessária ou conveniente, como acontece por problemas de saúde, viagem, trabalho, deficiência física, etc.
277 Neste caso, como fica o divórcio entre nós cristãos?
A união livre e consciente entre o homem e a mulher, com o fim de constituir família, comunhão de vida e amor, constitui uma realidade nova uma só carne, que a autoridade humana não pode separar (ver Mt 19,1-6). Há casos em que a aparência, na época, foi de uma união assim, mas a realidade não era: ou faltava liberdade e consciência, ou não havia intenção de acolher os filhos, ou houve alguma outra coisa grave que, na ocasião, permaneceu oculta por malícia ou ignorância. Nestes casos, a Igreja pode usar seu poder de ligar e desligar (ver Mt 16,19 e 18,18) e declarar que o casamento foi nulo, isto é, não existiu na verdade, aconteceu só na aparência.
278 No caso de traição e infidelidade não é permitido o divórcio, conforme muitas denominações cristãs (igrejas) interpretam?
Lemos no mesmo Evangelho de Mateus: Também está dito: “Todo aquele que se divorciar da sua mulher sê-lhe uma certidão de divórcio”. Mas eu vos digo: todo aquele que se divorciar de sua mulher – exceto em caso de união ilegítima – expõe-na ao adultério. E que se casar com ela, comete adultério (Mt 19,9).
No tempo e na terra de Jesus não havia a mesma instituição do divórcio que hoje é comum em grande número de países. Mas o homem podia repudiar a mulher, mandá-la embora. Jesus diz que o laço entre os dois se mantém. Por isso, o marido a expõe ao adultério e quem casar com ela comete adultério.
A Igreja não aceita que o pecado da infidelidade e da traição tornem justa uma separação seguida de novo casamento, baseada na palavra de Jesus, segundo este texto: exceto em caso de união ilegítima. O original grego diz: exceto em caso de “porneia”. Este termo, “porneia” é do significado de palavras que ainda hoje usamos em português, como pornografia. No caso de uniões imorais, como concubinato, “casamentos” com várias esposas ou vários esposos, o cristão está obrigado a deixar as concubinas e escolher uma só esposa.
Esta leitura que a Igreja faz com toda sua autoridade, é confirmada pelo continuidade da leitura desta passagem de Mateus: Os discípulos então disseram: “Se é esta a condição do homem em relação à mulher, não vale à pena casar!” Ele lhes respondeu: “Nem todos são capazes de aceitar esta doutrina, mas só aqueles a quem Deus deu este poder” (Mt 19,11).
279 Que outros textos do Novo Testamento falam da estabilidade do casamento e se opõem ao divórcio?
Este ideal cristão é exposto em várias outras passagens, por exemplo:
• Mc 10,2-12: Chegando uns fariseus, perguntaram-lhe para criar-lhe uma armadilha: “É permitido ao marido divorciar-se de sua mulher?” Mas ele, por sua vez, lhes perguntou: “O que Moisés determinou para vós?” Eles disseram: “Moisés permitiu fazer uma certidão de divórcio para repudiar.” Jesus replicou: “Ele vos deu este mandamento por causa da dureza de vosso coração. Mas, no princípio da criação (ver Gn 1,27 e 2,24) Deus os fez homem e mulher. Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois se tornarão uma só carne”. Assim já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe.” Em casa, os discípulos lhe perguntaram de novo sobre este ponto. Jesus respondeu-lhe: “Todo aquele que repudiar sua mulher e se casar com outra comete adultério em relação à primeira. E se a mulher se divorciar do seu marido e se casar com outro, comete adultério.”
• Lc 16,18: Todo aquele que repudia a mulher e se casa com outra é um adúltero. Como também é adúltero aquele que se casa com uma repudiada.
• Rm 7,1-3: Ou então ignorais irmãos – e eu falo a pessoas que conhecem a Lei – que a Lei é obrigatória para homem só enquanto ele vive? Por exemplo: a mulher casada só está ligada por lei ao marido enquanto ele viver. Morto o marido, está livre da lei que a ligava ao marido. Por isso, se ela se unir a outro homem enquanto o marido viver, será chamada de adúltera. Mas, quando o marido morrer, estará livre dessa lei e não será adúltera se casar com outro homem.
• 1Cor 7,10-11: Aos casados ordeno – não eu, mas o Senhor – que a mulher não se separe do seu marido. Quando acontecer um caso de separação, que fique sem casar ou faça as pazes com o seu marido. E o marido não se divorcie de sua esposa.
280 Mas o que dizer quando um casamento vai mal e falta amor?
O esposo ou esposa cristão há de levar em conta o conselho do Apóstolo: Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vós, que sois espirituais, ajudai-o a corrigir-se, mas isto com espírito de doçura. Toma cuidado com tua pessoa. Tu, também, não podes ser tentado? Carregai os fardos uns dos outros e cumprireis assim a Lei de Cristo … Não desanimemos em fazer o bem. A colheita virá a seu tempo senão relaxarmos. Façamos o bem a todos, principalmente a nossos irmãos de fé (ver Gl 6,1-10). Falando a um cristão ou a uma cristã casado com um pagão ou pagã, e tendo problemas por isso, ele também diz: Pois o marido que não crê será santificado pela mulher que crê; e a mulher que não crê é santificada pelo marido que não crê (1Cor 7,14). Assim, faltando o amor conjugal, não falte no cristão ou cristã a caridade que tudo crê, espera e sofre (1Cor 13).
281 Mas se houver necessidade de separação?
Neste caso, se a união tiver sido legítima, que não se case de novo, pois cometeria adultério, conforme a palavra do Senhor. Mas leve seu caso à Igreja, se houver motivos para crer que a união tenha sido ilegítima. Por exemplo: aquele moço ou moça que parecia ter suficiente responsabilidade, mostrou, ao longo do tempo, ser irresponsável, incapaz de compromisso. Logo o “sim” com que constituiu o matrimônio era, na verdade, um “não”, e o casamento só aconteceu na aparência. Existem muitos outros casos semelhantes, que, reconhecidos prudentemente, ouvindo testemunhos dignos de fé, a autoridade apostólica da Igreja resolve pela “declaração de nulidade” do que parecia casamento, mas não era.
282 Pode haver casamento entre pessoas de mesmo sexo?
Jesus insiste em que se restaure o matrimônio à realidade querida por Deus Criador no princípio (ver Mt 19,4-5), quando o ser humano foi criado macho e fêmea (ver Gn 1,27). No capítulo 2 do Gênesis, vemos como a mulher á companheira dada ao homem, de tal modo que ele deixará pai e mãe e se unirá a ela e serão os dois uma só carne (ver Gn 2,18-24). Apoiada nas Escrituras e inspirada pelo Senhor, a Igreja sustenta que o casamento só pode existir entre um homem e uma mulher numa união livre e consciente, aberta à bênção dos filhos, conforme a vontade do Senhor: Sede fecundos e multiplicai-vos (Gn 1,28).
Testemunha esta fé no Povo de Deus, a bela oração de Tobias (Tb 8,5-8), citada pelo Catecismo da Igreja Católica (9ª edição, no.1611): Bendito és tu, Deus de nossos pais! Bendito é o teu Nome ara sempre e por todas as gerações! Louvem-te os céus e todas as tuas criaturas por todos os séculos! Criaste Adão e lhe deste Eva para seu amparo valioso e de ambos procedeu a linhagem dos homens. Com efeito disseste: “Não é bom que o homem fique só. Vamos lhe fazer uma companheira semelhante a ele”. Ora, o Senhor bem sabe que não é por uma paixão depravada que agora tomo por esposa esta minha irmã (noiva), mas é com intenção pura. Digna-te a ter compaixão dela e de mim, e junto cheguemos a uma adiantada idade.
283 Encontramos condenação das relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo no Novo Testamento?
Sim. O Catecismo da Igreja Católica lembra três textos do Apóstolo:
• Rm 1,24-27: Por isso Deus os entregou à imundície pelos desejos de seus corações, de modo que rebaixaram seus próprios corpos. Confundiram o verdadeiro Deus com seres falsos, prestando culto e adoração às criaturas em lugar do Criador, o qual é bendito para sempre, amém! Por isso Deus também os entregou a paixões vergonhosas. Suas mulheres transformaram as relações naturais em relações antinaturais. Do mesmo modo também, homens abandonaram o uso natural da mulher e se apaixonaram uns pelos outros: homens fazendo coisas vergonhosas com homens e experimentando em si mesmos o pagamento devido pela loucura.
• 1Cor 6,9-10: Ora, não sabeis que os que praticam injustiça não terão parte no Reino de Deus? Não vos enganeis! Nem os que se prostituem, nem os adoradores de ídolos, nem os adúlteros, nem pessoas que se deitam com pessoas de mesmo sexo (cf. Nota do n0 269), nem os ladrões, nem os avarentos, nem tampouco os beberrões, os injuriadores e os salteadores terão parte no Reino de Deus.
• 1Tm 1,8-11: Sabemos que a Lei (de Moisés) é boa, se for usada como se deve. Sabemos que ela não foi feita para o justo, mas para os transgressores da lei, os rebeldes, os ímpios e os pecadores, os sacrílegos e os profanadores, os assassinos dos próprios pais e mães, os outros assassinos, os imorais, os que praticam o homossexualismo, os traficantes de escravos, os mentirosos e os que juram falso e fazem tudo o mais o que contraria a doutrina certa. É isto o que ensina o Evangelho do Deus glorioso e bendito, que a mim foi confiado.
284 Mas uma pessoa não é culpada de suas tendências e, nos nossos dias, há muito os que defendem a legitimidade do relacionamento sexual e conjugal entre pessoas de mesmo sexo. O que pensar?
Na verdade, ninguém é culpado de suas tendências, mas é responsável pelo que faz com ela, se tem o uso da razão. Por isto devemos levar a sério o que ensina o Apóstolo: Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas não me deixarei dominar por coisa alguma … O corpo não é para a relação sexual desonesta, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo (1Cor 6,12-13).
Também é verdade que, nos nossos dias, assistimos um processo contínuo de legitimação da homossexualidade, sendo que, em vários países, é permitido o casamento homossexual e a adoção de filhos. Sobre a opinião pública num determinado momento da história, vale o que está escrito: Para mim o mundo está crucificado e eu para o mundo (Gl 6,14). E também: Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do espírito para chegardes a conhecer qual seja a vontade de Deus, a saber, o que é bom, agradável e perfeito (Rm 12,2).
285 Como tratar uma pessoa que pratica o homossexualismo?
Para o trato com todos vale o mandamento do Senhor, mesmo se não estamos de acordo com alguns dos seus atos ou comportamentos: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 13,34).
286 Quais são as três formas principais de viver a castidade?
A primeira, é a castidade dos esposos; a segunda, dos viúvos; a terceira, dos solteiros (dos não casados).
Sobre a castidade dos esposos, lembramos o conselho do Apóstolo: É bom que o homem não toque em mulher, mas, pelos perigos da incontinência, cada homem tenha a sua esposa, e cada mulher o seu marido. O marido cumpra seu dever para com a esposa e, do mesmo modo, a esposa com o seu marido. A esposa não pode dispor do seu corpo, porque ele pertence a seu marido. Do mesmo modo, o marido não pode dispor do seu corpo, porque ele pertence a sua esposa. Não vos negueis um ao outro, a não ser de comum acordo e por breve tempo, par avos entregardes à oração (ver Tb 6,18 e 8,4). Depois, voltai a conviver, para que Satanás não se aproveite de vossa incontinência e vos tente (1Cor 7,1-5).
Sobre a castidade das viúvas, e, sem dúvida, dos viúvos, Paulo tem o seguinte conselho: A mulher está ligada ao seu marido, enquanto ele viver. Mas, quando o seu marido morrer, ela estará livre para se casar com quem quer que seja no Senhor. Mas, na minha opinião, ela será mais feliz se ficar assim. E penso que eu também tenho o Espírito de Deus (1Cor 7,40). Tratando mais longamente da situação das viúvas, noutra carta, o Apóstolo diz: Quanto à viúva que se entrega aos prazeres, embora viva, já está morta. Lembra-lhes também isto para que sejam pessoas corretas. Por isto, recomenda, que as viúvas mais novas voltem a se casar, e que só sejam inscritas entre as viúvas na Igreja as que tiverem acima de 60 anos (ver 1Tm 5,3-16).
Quanto à castidade dos solteiros, fica claro que não é permitido ao cristão fornicar (ter relações sexuais fora do casamento legítimo, ou, no casamento ilegítimo de modo desonesto, sem consideração ao cônjuge, etc.; ver 1Cor 6,18), nem prostituir-se (pagar para ter estas relações sexuais; ver Gl 5,19): Mortificai, portanto, para sempre, os vossos membros terrestres, isto é, as relações sexuais desonestas, a paixão desregrada, os maus desejos e a cupidez, que é uma idolatria. Essas coisas atraem a ira de Deus sobre aqueles que resistem a seu apelo. Assim também vós procedíeis outrora, vivendo nos mesmos pecados. Mas, agora, rejeitai vós também tudo isso: a ira, a irritação, a maldade, a injúria. A linguagem indecente esteja longe dos vossos lábios (Cl 3,5-8).
Um bom conselho resume tudo: No mais, irmãos, aprendestes de nós como vos deveis comportar para agradar a Deus. E é assim que vos comportais. Contudo vos rogamos e insistimos, no Senhor Jesus, que façais progressos. Bem sabeis que determinações vos demos pela autoridade do Senhor Jesus. Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação! Que vos afasteis da impureza! Que cada um saiba usar do próprio corpo com santidade e respeito, sem se deixar levar pela paixão, como os pagãos, que não conhecem a Deus … Deus não nos chamou par a impureza, e sim para a santidade. Portanto, quem despreza isto, despreza a Deus, que, além do mais, vos dá o seu Espírito Santo (1Ts 4,1-8)
287 O que dizer do celibato e da virgindade consagrados e conservados por causa do serviço do Reino?
O Apóstolo convida-nos a ser seus imitadores, como ele é de Cristo (1Cor 11,1). Particularmente, ele diz: Desejaria vos ver livres de preocupações. O homem solteiro (que vive o celibato) cuida das coisas do Senhor. Procura agradar o Senhor. Mas o que é casado cuida das coisas do mundo e procura agradar a mulher. Fica, então, dividido. Do mesmo modo, a mulher que não está casada, como a virgem (que vive consagrada ao Reino) cuida das coisas do Senhor, para ser santa de corpo e de espírito. Mas a que é casada cuida das coisas do mundo e procura ser agradável ao marido. Eu vos digo isto para o vosso próprio interesse. Não quero preparar-vos uma armadilha, mas sim levar-vos para o que é honesto e vos unir ao Senhor sem divisões (ver 1Cor 7,32-35).
Esta novidade do cristianismo tem raízes no próprio exemplo de Cristo Jesus. Quando os discípulos acharam muito dura sua doutrina sobre o casamento, negando o costume e a lei do divórcio, disseram-lhe: “Se esta é a condição do homem em relação à mulher, não vale à pena casar”. Ele lhes respondeu: “Nem todos são capazes de aceitar esta doutrina, mas só aqueles a quem Deus der tal poder, Com efeito, há os impossibilitados para o casamento (“eunucos”, impotentes), que assim nasceram do seio materno. Há os que ficaram impossibilitados por intervenção alheia (“eunucos”, castrados). E há os que não querem se casar (“eunucos”, os que permanecem solteiros e renunciam à vida sexual ativa por livre decisão) por amor ao Reino dos céus. Compreenda bem quem puder (Mt 19,10-12).
A recompensa a quem renunciar a constituir família para seguir a Cristo e viver pelo anúncio do Reino é grande: Então, Pedro, tomando a palavra, disse (a Jesus): “Eis que abandonamos tudo e te seguimos. Qual será, então, a nossa recompensa?” Jesus respondeu: “Eu vos declaro esta verdade: na nova geração, quando o Filho do homem se assentar no trono de sua glória, vós, que me seguistes, vos sentareis também sobre doze tronos, para julgardes as doze tribos de Israel. E todo aquele que abandonar casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos por amor do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna. Muito dos primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros (Mt 19,27-30; ver Mc 10,28-31; Lc 18,28-30 explicita “mulher” na enumeração).
O Apocalipse celebra a virgindade vitoriosa com Cristo: Cantavam um cântico novo diante do trono … Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que foram resgatados da terra. Eles são os que nunca se contaminaram com mulheres, porque são virgens (isto é, guardaram a continência em vista da batalha: cf. 1Sm 21,6). São eles que acompanham o Cordeiro para onde quer que ele vá. São resgatados dentre os homens, como primícias para Deus e para o Cordeiro. Na sua boca não se achou mentira. Eles são irrepreensíveis (Ap 14,3-5).
Por estas passagens se reconhece que só é válida a escolha do celibato com sinceridade interior, acolhendo cada um o dom e o apelo do Espírito por causa do Reino de Deus.
Este é um chamado particular e radical, conforme se vê na resposta que Jesus a alguém que queria segui-lo em sua vida peregrina, mas que pedia um tempo para enterrar seu pai: Segue-me. Deixa que os mortos enterrem seus mortos (Mt 8,21-22).
A Igreja vê uma ligação estreita entre a pobreza e a virgindade de Cristo e destas pessoas chamadas a uma particular imitação e seguimento do Senhor: Em tanta variedade de dons, todas as pessoas que são chamadas por Deus à prática dos conselhos evangélicos e fielmente os professam, consagram-se de modo particular ao Senhor, seguindo a Cristo, que, sendo virgem e pobre (Mt 8,20; Lc 9,58) remiu e santificou todos os homens pela obediência até a morte da cruz (Fl 2,8; ver Concílio Vaticano II, Decreto “Perfeita Caridade”, no. 1).
288 Como devemos considerar os filhos?
Os filhos são um dom de Deus. A fecundidade da raça humana é uma bênção original, isto é, anterior ao próprio pecado original: E Deus os abençoou e Deus lhes disse: “Crescei e multiplicai-vos” (Gn 1,28).
Jesus, mostrando este amor criador do Pai, acolheu as crianças e quer que nós também a acolhamos: Quem acolher uma criança destas em meu Nome, é a mim que recebe (Mt 18,5).
Assim, os pais devem cuidar amorosamente dos filhos: Pais, não irriteis vossos filhos. Educai-os na disciplina, corrigindo-os e instruindo-os no Senhor (Ef 6,4; Cl 3,21).
289 O casal deve ter tantos filhos quantos vierem?
A Igreja compreende que não basta gerar filhos. Como insiste o Apóstolo, os pais têm o dever de educá-los e instruí-los no Senhor (Ef 6,4). Por isso mesmo, a paternidade e a maternidade devem ser responsáveis, isto é: os pais devem pensar em quantos filhos podem ter de modo a educá-los como convém.
Quanto aos métodos para exercer esse dever, a Igreja insiste que sejam preferidos os que aperfeiçoam os sistemas da natureza (prudente emprego dos períodos férteis e não férteis da mulher) e não os suprimam ou contrariem (“pílulas”, cirurgias, e, sobretudo o aborto).
290 O que ensina o 7º mandamento da lei de Deus?
O sétimo mandamento ensina a não furtar (Ex 20,15; ver Lv 19,11). Jesus o repete ao moço que queria ganhar a vida eterna: “Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos”. O rapaz perguntou: “Quais?” Respondeu, de novo, Jesus: “Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás…” (Mt 19,18; Mc 10,18-19; Lc 18,20).
291 Há muitas maneiras de furtar ou roubar?
Sim, por exemplo: é furto reter o salário do trabalhador ou pagar-lhe um salário injusto (ver Dt 24,14-15; Tg 5,4); ou fraudar os sistemas públicos de amparo aos pobres, desvalidos e trabalhadores humildes; ou fraudar os fundos públicos, destinados ao bem comum; ou sonegar impostos; ou subornar funcionários e outras pessoas para obter vantagens às custas do direito e da justiça; ou prejudicar o bem comum, abusando do direito de propriedade; ou fraudar nas relações de compra e venda (ver Dt. 25,13-16); ou praticar especulação financeira ou comercial (ver Am 8,4-6), etc.
292 O direito à propriedade privada está amparado pela Escritura?
Sim, lembremos que um dos grandes crimes denunciados pelo profeta Elias foi o praticado por Jezebel contra Nabot, o dono da vinha, que não a queria vender ao rei Acab (1Rs 21). Por isto, Jezebel simulou um julgamento e o fez matar. O 7º mandamento ordena o respeito às pessoas, respeitando-se seus bens e seus legítimos direitos. Jesus abençoou Zaqueu quando este reconheceu ter fraudado seus próximos e prometeu reparar o dano cometido: Zaqueu se pôs de pé e disse ao Senhor: “Vê, Senhor! Vou dar metade dos meus bens aos pobres, e a quem fraudei, vou restituir quatro vezes mais!” Jesus lhe respondeu: “Hoje chegou a salvação a esta casa, pois também este homem é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar o que estava perdido” (ver Lc 19,8-9).
293 Que direito limita e impõe responsabilidades aos proprietários?
O direito à vida é maior do que o direito à propriedade. Os bens desta terra foram destinados, em primeiro lugar, a toda à humanidade: Por fim, Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, as aves do céu, sobre os animais domésticos, todos os animais silvestres e todos os répteis … E Deus criou o seu humano à sua imagem, à imagem de Deus Ele o criou, homem e mulher Ele os criou. Deus os abençoou, dizendo: “Sede fecundos e multiplicai-vos. Enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todo os animais que rastejam sobre a terra”. Deus disse: “Eu vos dou por alimento toda planta que contém semente sobre a superfície da terra e todas as árvores frutíferas, que contêm semente: isso vos sirva de alimento. A todos os animais silvestres, a todas as aves do céu e a tudo que rasteja sobre a terra, animado de sopro de vida dou, para que se alimentem, as plantas verdes” (Gn 1,26-28).
Entretanto, se alguém ou o governo, numa situação de emergência desapropria o particular, fica o dever de reparar sua perda, logo que possível e de modo legal e razoável. Desta maneira todos os direitos são harmonizados e a sociedade pode viver confiante e em paz.
294 O que mais orienta e delimita o direito à propriedade privada?
A responsabilidade ecológica e social orienta e delimita também o direito à propriedade. A leitura atenta do texto de Gênesis 1,26-28, mostra que o domínio do homem não pode ser arbitrário nem ser abusivo. Os animais de todo o tipo recebem a vida como dom de Deus, como, do mesmo modo, as plantas (ver Mt 6,26). Diante do nosso meio ambiente temos de nos lembrar de que somos administradores dos dons de Deus (1Pd 4,10), responsáveis por eles, lembrando a parábola do Senhor: Quem é, então, o servidor fiel e prudente, que o patrão encarregou de cuidar das pessoas de sua casa, para lhes dar alimento no tempo devido? Feliz o servidor que o patrão, quando chegar, encontrar procedendo deste modo! Em verdade eu vos digo: ele lhe dará a administração de todos o seus bens. Mas se o mau servidor pensar consigo mesmo: “O patrão está demorando”; e começar a espancar os companheiros, a comer e a beber com os bêbados, o patrão daquele servidor chegará num dia e numa hora em que ele não espera, numa hora que ele não sabe. Então o castigará severamente e fará com que partilhe do destino dos hipócritas. E lá haverá choro e ranger de dentes (Mt 24,45-51).
295 Qual é a virtude que ajuda a viver conforme o 7º mandamento?
A virtude da justiça solidária ajuda a viver plenamente este 7º mandamento. Um palavra da 1ª Carta de São João ajuda a compreendê-la: Eis como reconhecemos o amor: Ele (Jesus) entregou a sua vida por nós. Assim nós também devemos dar a vida por nossos irmãos. Se alguém tiver bens neste mundo e vir seu irmão passando necessidade e lhe fechar o coração, como o amor de Deus permanecerá nele? Filhinhos, não amemos só de palavras nem só de língua, mas com atos e de verdade (1Jo 3,17-18).
Certamente, este ensino do Apóstolo, recorda a condenação do rico, que se banqueteava todos os dias, e não tinha olhos para ver a miséria de Lázaro, à sua porta (Lc 16,20-31). Recorda também o bom samaritano, que cumpriu seu dever acudindo o desconhecido necessitado e partilhando o que podia com ele (Lc 10,25-37).
296 Há outras virtudes importantes para viver bem o que ensina o 7º mandamento?
Sim, uma destas virtudes é a virtude da temperança, que significa moderação e simplicidade no uso dos bens, evitando todo o desperdício e ostentação. Não devemos ser filhos pródigos, que gastam em festanças a herança do Pai, bem para toda a família (ver Lc 15,13). O Apóstolo inclui esta virtude nas recomendações a vários tipos de pessoas (ver 1Tm 3,2; 3,11; Tt 2,2). É claro que os administradores públicos e os ricos deste mundo necessitam dela, e as políticas públicas devem zelar pelo patrimônio comum da humanidade, evitando tudo o que for desperdício e esbanjamento.
Outra virtude é a da solidariedade, imitando Nosso Senhor, que, sendo rico, se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (2Cor 8,9).
Estas duas virtudes levam o cristão a buscar fugir de todo comportamento consumista e de se curar da enfermidade da compra compulsiva.
297 O que mais exige o 7º mandamento?
A justiça comutativa, que obriga a reparar o dano causado. Bem o compreendia Zaqueu, quando, convertido pela nova amizade com Jesus, prometeu restituir até quatro vezes aquilo do qual se tinha apropriado indevidamente (Lc 18,8). Também quando, por justas causas ou sem culpa, um prejuízo é causado, há o direito da indenização razoável. Lembremos que Jesus apresenta o caso do proprietário que merecia que o seu capital investido tivesse o razoável retorno sem fazer nenhum reparo a este direito (ver parábola dos talentos: Mt 25,24-29; ou a parábola dos vinhateiros homicidas: Mt 21,33-34). Neste ponto vale o que diz o Apóstolo: ninguém explore ou prejudique o seu irmão (ver 1Ts 4,3-8).
298 O que dizer das apostas e dinheiro gasto em jogo?
Na medida em que alguém corre o risco de se tornar um jogador compulsivo, perdendo o dom do Espírito, que é o autodomínio (ver Gl 5,23), e comprometendo seus recursos para viver, manter a família, ajudar o próximo, pondo em risco a si e aos outros, e chegando ao extremo de se apoderar de recursos de terceiros ou mesmo furtar e assaltar para manter o vício, esta pessoa está desobedecendo o 7º mandamento, além de faltar gravemente contra a virtude da caridade consigo, com os irmãos e com Deus.
Por isso é muito séria a responsabilidade dos administradores públicos e dos dirigentes dos meios de comunicação social para não promover, incentivar e facilitar o jogo. Na verdade, o jogador compulsivo age como o filho pródigo em sua irresponsabilidade (ver Lc 15,13).
299 O que dizer da exploração injusta do trabalho humano?
Tanto a escravidão como qualquer outra injustiça no mundo do trabalho humano deve ser rejeitada, pois o sábado é para o ser humano, e não o ser humano para o sábado (Mc 2,27). Isto é: Tudo é para o ser humano e o ser humano é para Deus (ver 1Cor 3,21-23). Logo o trabalho, a economia, a política, as finanças, o Estado, as instituições, a própria Igreja, etc. são para o ser humano e o ser humano é para Deus. Por isso o Senhor Jesus declara, citando as palavras de Isaías (Is 61,1-2), que veio libertar os cativos e os oprimidos: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com o óleo para anunciar a Boa Nova aos pobres. Enviou-me para proclamar aos prisioneiros a libertação e aos cegos a recuperação da vista; dar a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor (Lc 4,18-19).
300 O trabalho é uma bênção ou é um dever?
O trabalho é uma bênção e é um dever. Já antes do pecado, o ser humano tinha a missão de submeter a terra (Gn 1,28 ), ou, em outra linguagem, cuidar do jardim (Gn 2,15). O próprio Senhor Jesus quis ter como pai na terra um trabalhador, São José, e ele mesmo foi trabalhador (ver Mt 13,55; Mc 6,3). O trabalho cria um ambiente favorável à vida humana e dá espaço à criatividade, corresponsabilidade, cooperação, etc. Acolher esta bênção é um dever. Por isso é falta grave viver na dependência de outros e fugir ao trabalho, podendo a pessoa trabalhar. Daí que o Apóstolo diz sobre estes parasitas: Quem não trabalha não coma (2Ts 3,10).
301 O que dizer a respeito de pessoas e instituições que vivem acumulando bens sem ter a devida responsabilidade social?
Continua válida a denúncia do Apóstolo: Agora vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que vão cair sobre vós! A vossa riqueza está podre e as vossas vestes estão sendo roídas pelas traças. Cobriram-se de ferrugem o vosso ouro e a vossa prata, e essa ferrugem renderá testemunho contra vós, devorando vossas carnes como fogo. Acumulastes tesouros para os últimos dias! O salário que defraudastes aos trabalhadores que ceifaram vossos campos está a bradar alto. As vozes dos ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos. Vivestes sobre a terra entregues ao luxo e à devassidão. E engordastes vossos corações para o dia da matança. Condenastes e assassinastes o justo! E ele não vos resiste! (Tg 5,1-6).
É evidente que todo egoísmo individual e toda política, pratica econômica, política e sistema jurídico egoístas, que possibilitam uma enorme acumulação de riqueza sem responsabilidade social e utilidade humana, consentindo na crescente exclusão de multidões, ofende o Pai nosso, ferindo os direitos dos seus filhos e é condenada pelo 7º mandamento.
Toda acumulação de bens, que faltam aos demais seres humanos, sem a contrapartida de uma utilidade social é uma insanidade denunciada pelo próprio Cristo: Mas Deus lhe disse: “Louco, nesta mesma noite ela (tua propriedade) te será tomada! E para quem ajuntaste?” Assim acontece com quem ajunta riquezas para si, em vez de se enriquecer diante de Deus (ver Lc 12,13-21).
302 Como devem proceder os que detém riquezas, poder, conhecimento, liderança, autoridade?
Devem imitar o Cristo: Pois conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vossa causa, para vos enriquecer com a sua pobreza … Completai, pois, agora, a vossa obra, para que a sua realização corresponda ao ardor da vontade, segundo vossos recursos. pois quando há tal ardor, ele é aceito conforme o que temos, e não conforme ao que não temos, É claro: o alívio de outros não deve ser causa de peso excessivo para vós, mas provir da igualdade. Nesta circunstância presente vossa abundância provê a penúria deles, para que, do mesmo modo, a abundância deles alivie vossa penúria, Então, reinará a igualdade. Está escrito (Ex 16,18): o que colheu muito, não teve sobra; o que colheu pouco, não teve falta (2Cor 8,9-15). Este princípio de equilíbrio e de igualdade deve inspirar as leis e costumes de uma sociedade segundo o Evangelho e inspirar, do mesmo modo, os que detém maior ciência, poder e autoridade.
303 O que determina o 8º mandamento da lei de Deus?
Na versão do Antigo Testamento, o 8º mandamento diz: Não darás depoimento falso contra o teu próximo (Ex 20,16). Na versão catequética: Não levantarás falso testemunho.
Esse mandamento proíbe, diretamente, dizer, testemunhar, depor que viu o que não viu, ouviu o que não ouviu.
Quando Jesus enumerou os mandamentos para o jovem que lhe perguntava sobre a vida eterna, citou: Não levantarás falso testemunho (ver Mt 19,18).
No entanto, o Senhor Jesus foi mais fundo e revelou que qualquer forma de mentira é nociva: Que o vosso falar seja “sim”, se for sim; “não”, se for não. O que disseres além disto vem do Maligno (Mt 5,37).
Paulo tem em mente este ensino de Jesus, quando argumenta com os discípulos de Corinto: Será que agi com leviandade ao tomar esta resolução? Ou será que faço meus projetos levado por sentimentos humanos, como quem fala ao mesmo tempo “Sim” e “Não”? Pelo contrário a fidelidade de Deus faz com que nossa linguagem para convosco não seja “Sim” e “Não”. Pois o que o Filho de Deus e o que eu, Silvano e Timóteo vos anunciamos não era “Sim” e “Não”, mas só houve nele o “Sim” (2Cor 1,17-19).
Do mesmo modo o Apóstolo Tiago ecoa a Palavra do Mestre: O vosso “Sim” seja “Sim”, e o vosso “Não” seja “Não”, a fim de não serdes merecedores de acusação (Tg 5,12).
304 Quem é o “Pai da mentira” segundo Jesus?
Aos seus adversários que insistiam em dizer que eram filhos de Abraão, Jesus disse: Por que não entendeis a minha linguagem? É porque não podeis ouvir a minha palavra. Vós tendes o diabo como pai, Ele foi assassino desde o começo do mundo, e jamais esteve com a verdade, porque nele não há verdade. Quando ele mente, faz o que lhe é próprio. Ele é mentiroso e pai da mentira… (Jo 8,43-44).
305 Então, o que proíbe o 8º mandamento?
Todo tipo de falsidade, mesmo em situações graves. Inclusive de jurar falso, de ser falso diante de Deus (Lv 5,4; 19,12; Mt 5,34). Pois Deus é o Verdadeiro (Rm 3,4), e o Filho Eterno, Jesus, é a Verdade (Jo 14,6). E quem pratica a verdade, da Verdade se aproxima (ver Jo3,21). Por isso mesmo fale cada qual a verdade com o seu próximo (Ef 4,25). Afinal, é a verdade que nos tornará livres! (Jo 8,32)
306 O que exige positivamente o 8º mandamento?
Mesmo diante dos tribunais e dos perseguidores, receberemos graça do Espírito Santo para dar testemunho da verdade (Mt 10,17; Mc 13,9), como Jesus no tribunal de Pilatos: Eu vim para dar testemunho da verdade (Jo 18,37). No mundo moderno, cada vez mais se coloca a questão da verdade no campo da propaganda, em particular da propaganda política, e em todo o conjunto da vida pública e dos meios de comunicação social. Também os cientistas, médicos, todos os membros do sistema judiciário e do mundo das finanças cada vez mais se defrontam com a necessidade de um agir ético, única garantia de uma sociedade livre e justa.
307 Que outros comportamentos são contra este 8º mandamento?
Este 8º mandamento defende a confiança entre as pessoas, a honra da palavra dada e da promessa feita, a possibilidade do cumprimento honesto dos contratos, enfim, a vida social e política, a vida de amizade, a própria confiança entre associados, amigos e familiares. Toda mentira e engano prejudicam o relacionamento humano e insinuam uma dúvida que fere e até mata a confiança, o autêntico diálogo e a amizade.
São faltas graves contra este mandamento: as falsas promessas, a propaganda enganosa, os contratos com cláusulas traiçoeiras ou injustas, as chamadas “mentiras sociais”, a difamação (espalhar erros do próximo prejudicando sua fama sem real necessidade), as calúnias (inventar falsos do próximo), as adulações (elogios com intenção de seduzir a pessoa e iludi-la), os exageros como também seu contrário, diminuir de caso pensado alguma coisa, com a intenção de enganar a pessoa com que se fala: Porquanto nós todos cometemos muitas faltas. Se alguém não comete faltas no falar, este é homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo (ver Tg 3, 1-11).
308 Como fazer, então, para guardar segredo e confidência?
Ou calando-nos, ou mudando de assunto, ou dizendo alguma coisa que seja verdade e que distraia o indiscreto perguntador. O que se sabe em segredo e confidência, na realidade, não está à disposição de quem guarda o segredo ou confidência. Pertence a outro e a pessoa não a possui para divulgá-la. Na verdade, “não sabe de nada”.
Os cristãos que trabalham em propaganda, meios de comunicação, funções públicas precisam cuidar em ser discretos e sinceros no que informam e dizem, sendo capazes de guardar o segredo e a confidencialidade, com muito respeito à honra e dignidade das pessoas. Enfim, devemos ser prudentes com o que dizemos e não dizemos para fazer o bem e evitar o mal (Sl 36/37,27).
A respeito dos pecados com a língua, assim nos aconselhou o Apóstolo: Enfim, irmãos, tudo o que há de verdadeiro, digno, justo, puro, amável, honesto, tudo que é virtuoso e elogiável seja objeto de vosso pensamentos … E o Deus da paz estará convosco (Fl 4,8-9).
309 O que dizer do “juízo temerário”?
O 8º mandamento exige que sejamos verdadeiros, verazes. O juízo temerário é um julgamento que fazemos de alguém sem razão suficiente, instigados por maus sentimentos, preconceitos, precipitação ou leviandade. Assim atribuímos tal ato ou intenção a alguém e pensamos ou falamos mal da pessoa sem ter base objetiva e faltando à caridade. Por isso é preciso ter em conta o que diz o Apóstolo: Cresceremos sobre todos os aspectos na verdade e na caridade em direção a Cristo, que é nossa cabeça (Ef 5,15). E também: por isso, renunciando à mentira, falai a verdade cada qual com o seu próximo, já que somos membros uns dos outros … Nenhuma palavra má saia de vossa boca, mas só o que for capaz de edificar, quando for necessário. Não entristeçais o Espírito Santo de Deus, que vos marcou com seu sinal para o dia da redenção. Amargor, indignação, cólera, gritos, maledicência e toda espécie de maldade sejam banidos dentre vós. Sede antes bondoso e misericordiosos uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente como Deus vos perdoou em Cristo (Ef 4,25-32). Afinal, devemos proceder como filhos da luz, porque o fruto da luz é a bondade, a justiça e a verdade … Não sejamos irrefletidos, mas considerai qual seja a vontade do Senhor… (ver Ef 5,8-17)
310 O que manda o 9º mandamento da lei de Deus?
No Antigo Testamento, no livro do Êxodo, o 9º e o 10º mandamento se encontram no mesmo versículo: Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do próximo, nem seu servo, nem sua serva, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença (Ex 20,17). O 9º mandamento ordena: Não cobiçarás a mulher do teu próximo (e, é claro, “o homem de tua próxima”!)
311 Como Jesus aperfeiçoou este mandamento?
Jesus colocou toda a força do mandamento no coração humano. Disse no “sermão da montanha”: Mas eu vos digo. Todo aquele que olhar para uma mulher com mau desejo já cometeu adultério com ela no seu coração (Mt 5,28).
312 O que é “cobiçar”?
“Cobiçar” é desejar possuir alguma coisa a que não se tem direito legítimo. A cobiça é irmã da inveja, pois alguém tem inveja, quando deseja mal a seu próximo porque ele tem tal e qual qualidade ou talento, ou possui este e aquele bem. Desejar ter , por exemplo, um nível melhor de educação e instrução, ou uma forma física mais adequada, ou uma moradia mais digna e progresso na vida pessoal e para a sociedade, não são “cobiças”, mas justas aspirações das pessoas e povos. Tudo o que favorece à humanização e solidariedade é objeto de direito legítimo e justo desejo.
313 O que exige o 9º mandamento?
Um coração honesto e puro, que não cultive maus desejos e nada queira que fira ou cause prejuízo a uma determinada família ou mesmo a instituição familiar, tão ameaçada através da história e, particularmente nestes tempos, que são maus (Ef 5,16). É preciso escutar a palavra do Apóstolo: Sede imitadores de Deus como filhos queridos. Procedei com amor, imitando a Cristo que vos amou e se entregou por vós como oferta e sacrifício de suave perfume, E não se ouça dizer que há entre vós a prostituição e qualquer espécie de impureza o cobiça, como convém a santos. Nada também de indecência, tolices de anedotas de mau gosto (Ef 5,1-4). Este comportamento honrado, livre da cobiça, corresponde à bem-aventurança: Felizes os puros de coração, porque verão a Deus (Mt 5,8).
314 O que ajuda a viver conforme ao 9º mandamento?
A vigilância do coração, pois é do coração que procedem maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e injúrias. Isto é o que pode tornar o ser humano impuro (Mt 5,19-20).
315 Como viver este 9º mandamento?
Devemos vigiar na oração para que nossos interesses imediatos, o nosso querer, nossos afetos. paixões e instintos não atropelem o mandamento de amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo: Mortificai, portanto, para sempre, os vossos membros terrestres: as relações sexuais desonestas, a impureza, a paixão desregrada, os maus desejos e a cupidez (desejo desregrado de bens deste mundo), que é uma idolatria (Cl 3,5).
Por isto também insiste o Apóstolo: Ninguém explore ou prejudique o seu irmão (ver 1Ts 4,3-8).
316 E o que manda o 10º mandamento?
Como lemos no Livro do Êxodo 20,17, o 10º mandamento ordena que não cobiçar as coisas alheias, isto é, o que pertence ao nosso semelhante ou é do uso e bem público (ver Dt 5,21). Temos de levar a sério a advertência de Jesus: Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração (Mt 6,21). Nosso coração não pode se deixar atrair para se apossar do que pertence a outros ou é destinado ao bem público. Também precisamos estar atentos para que não confundamos nossos desejos desordenados e egoístas com direitos legítimos. Ajuda muito olhar em volta, considerar os outros, e levar em conta seus direitos, bem como nossos deveres.
317 Quando foi que Jesus nos preveniu contra os desejos imoderados de ter as coisas, que acabam causando prejuízo ao próximo e a nós mesmos (inveja e cobiça)? Quando ele nos advertiu conta o cultivo, no coração, de sentimentos de inveja, ou de uma paixão desregrada para acumular bens (cupidez) e contra um apego extremado aos bens deste mundo (avareza)?
Jesus nos preveniu contra estes maus desejos e afetos desordenados, por exemplo, na parábola do homem rico, cujas terras tinham produzido uma boa colheita. E ele pensava consigo mesmo: “Que farei, se não tenho onde colocar a colheita?” Depois disse: “Isto é o que vou fazer: vou demolir os meus celeiros, construir outros maiores e ajuntarei aí todos os meus bens. E direi a minha alma: Ó minha alma, tens muitos bens depositados para longos anos de vida! Descansa, come, bebe, goza a vida!” Mas Deus lhe disse: “Louco! Nesta mesma noite ela te será tomada! E para quem ficará o quem ajuntaste?” Assim acontece a quem ajunta riquezas para si, em vez de enriquecer diante de Deus (Lc 12,16-21).
Esta parábola é uma ilustração da advertência de Jesus, que logo a precede: Disse, então ao povo: “Tomai cuidado com qualquer tipo de avareza, porque a vida de um homem não depende de suas riquezas, embora ele esteja na fartura” (Lc 1215).
318 O que remedia estas paixões do coração humano?
A limpeza de coração, que o 10º mandamento propõe, só pode nascer de um coração de filho, que confia na Providência do Pai. O Pai conhece nossas necessidades, conforme disse o Senhor: Por isso eu vos declaro: não andeis preocupados demais em relação à vossa vida, com que tereis para comer, nem em relação a vosso corpo, com o que tereis para vestir. Reparai como as aves não semeiam nem ceifam, não têm celeiro nem dispensa. No entanto, Deus as sustenta. E como valeis mais do que pássaros! Quem dentre vós, com sua preocupação, pode acrescentar um só momento à duração de sua vida? Portanto, se Não podeis fazer as coisas mínimas, por que estais ansiosos em relação às outras? Reparai como os lírios do campo não trabalham nem fiam. Eu vos garanto: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Portanto, se Deus veste uma planta do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais fará convosco, gente pobre de fé? Não vos perturbeis a respeito do que tereis para comer e beber, nem vos atormenteis, porque as pessoas mundanas é que se dedicam a procurar estas coisas. Mas vosso Pai sabe que precisais delas. procurai, então o Reino de Deus e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. Deixai de lado este medo, pequeno rebanho, porque foi do agrado do Pai dar-vos o Reino (Lc 12,22-34).