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O valor do Livro de Daniel e o capítulo 1*
O valor deste livro não é histórico, mas deve ser encontrado no plano do profetismo e do apocalipse, quando o Autor procura animar a resistência do povo em tempo de perseguição. Não é sem razão que vários dos seus textos são ainda hoje muito lidos e usados também na liturgia.
Duas versões antigas e veneráveis da Bíblia grega, a chamada da Septuaginta (Alexandrina, de sábios hebreus de Alexandria no Egito) e de Teodocião (Éfeso).
Há quem identifique no Livro uma seção de narrativas didáticas e outra de apocalipse, isto é, forma literária que se exprime por forte sentido simbólico, carregado de imagens, revelador para os leitores daqueles tempos, necessitado de uma leitura sábia e interpretativa para nós, distantes daquela época e de suas lutas.
Atribuía-se a um personagem do passado para reunir, num único texto, a decifração teológica do passado e o anúncio de para onde leva o plano de Deus.
O capítulo 1º introduz as narrativas didáticas, que servem para conter o ensino, trazendo a confiança na providência divina. Nesta passagem ficamos conhecendo Daniel e seus três companheiros, colocados na corte babilônica, entre os funcionários, como era costume, do palácio real. Eles mantêm o regime alimentar religioso dos israelitas, mostrando-se mais robustos e apresentáveis que os jovens pagãos.
A Profecia se tinha extinguido no tempo do Livro. A narrativa pedagógica e o apocalipse são, resumindo, grandes reflexões sapienciais. Mas, um sopro do espírito profético pervade o Livro que deixou marcas notáveis no Novo Testamento. Assim o título que Jesus assumiu: “o Filho do Homem”.
Os 4 jovens se chamam Daniel, Ananias, Misael e Azarias. Eles são formados na cultura pagã e de profundas raízes orientais (por exemplo, de Daniel se diz que ele era um intérprete das visões e sonhos) mas também herdeiros da cultura hebraica – “conhecimento profundo de todos os livros do saber”). Portanto, para o Autor o conhecimento já não tinha só fontes orais, mas o que hoje chamamos de “escrituras”.
*Ilustração: o Profeta Daniel, escultura de Aleijadinho