O Papa em Chipre declara que o ódio nos escraviza e o amor nos faz livres
Em Chipre, o Papa Francisco: “Os campos de concentração do século XX? Eles ainda existem, mas para os migrantes”.
O Santo Padre no encontro ecumênico de Nicósia: “O arame farpado é símbolo do ódio. Que Deus desperte nossas consciências!”
DOMENICO AGASSO
Vatican insider, 3 de dezembro de 2021
Em Nicósia – capital da parte grega de Chipre, cortada por uma muro, que a separa da parte turca da cidade, o Papa afirmou que o arame farpado é “símbolo do ódio. Que Deus desperte nossas consciências”! “Onde estão os campos de concentração e morte do século XX? Existem ainda hoje, para os migrantes”, exclamou o Papa falando de improviso, durante a prece ecumênica com os migrantes na Igreja paroquial da Santa Cruz em Nicósia, no seu segundo dia de visita a Chipre, antes de seguir para a Grécia. Entre os migrantes presentes ao encontro, estavam alguns que serão transferidos para a Itália, por iniciativa do Santo Padre, em colaboração com a Comunidade Santo Egídio.
Ele afirmou: “Nós nos lamentamos quando lemos a história dos campos de concentração e morte do século passado, dos nazistas e de Stalin. E pensamos: ‘Como isto pôde acontecer’? Mas continua acontecendo ainda hoje, nos nossos arredores, pontes de escravidão. Vi alguns documentários filmados, histórias de tortura. Conto-lhes isto porque me abriram os olhos. É a luta deste momento: o sofrimento de irmãos e irmãs. Não podemos nos calar”.
Na última das capitais europeias ainda separada em duas partes por um muro, na igreja mesma que se encontra vizinha à barreira de divisão entre a parte da ilha de Chipre entre a zona grega-cipriota e a zona turco-cipriota, o Santo Padre disse: “Desculpem-me – continuando de improviso – mas quero lhes falar do que me vem ao coração. Os arames farpados nesta guerra de ódio que dilacera um país, também se colocam em outros lugares, para não permitir a entrada dos refugiados, dos que chegam procurando a liberdade, pão, ajuda, fraternidade, alegria, que fogem do ódio e se deparam diante de um ódio que se chama arame farpado”. O Papa acrescenta: “Que o Senhor desperte as consciências de todos nós diante destes fatos. Não podemos calar e olhar para o outro lado, como nesta cultura da indiferença”.
O Papa menciona que, “quando os interesses de grupos, ou os interesses políticos, ou nacionais, levam tantos de nós a ficar de lado, sem pretendermos, como escravos. Pois o interesse sempre escraviza, sempre cria escravos. O amor, contrário ao ódio, ele nos faz livres”.
Como sinal “da solicitude do Santo Padre para com as famílias e pessoas migrantes, a Viagem Apostólica a Chipre será acompanhada nas próximas semanas por um gesto humanitário de acolhida de cerca de 12 refugiados…” A intenção é chegar a um total de 50 em janeiro e fevereiro próximos.