O Livro das Lamentações – apresentação
Até uns cento e poucos anos atrás, se aceitava tranquilamente que o Livro das Lamentações tinha como Autor o Profeta Jeremias. De lá para cá surgiram estudiosos que o negavam, embora a grande maioria reconheça a unidade dos 5 capítulos, todos seguindo o estilo de “acróstico”, isto é, os versos seguindo as letras do alfabeto: de “a” a “z”, dizemos em português.
Dos 5 capítulos ou cânticos de lamentação, os dois primeiros ressoam como lamentações de luto, sendo que o primeiro chora a queda de Jerusalém diante das tropas da Babilônia, e segundo traz o severo julgamento do Senhor Deus contra os pecados do povo e das classes dirigentes. O terceiro cântico é de alguém que se sente abatido, destroçado, e se volta ao Senhor Deus de Israel em busca de misericórdia e alívio. O quarto, lembra os dias gloriosos de Jerusalém em tremendo contraste com sua atual miséria. Finalmente, o quinto e último evoca os sofrimentos dos vencidos e eleva a súplica pela libertação de Israel.
As Lamentações, muito provavelmente, devem ser datadas dos tempos que se seguiram à conquista pelos babilônios. Elas têm muitos pontos de contato com a grande tradição das Escrituras, em particular evocam a literatura bíblica daqueles tempos: Jeremias, Ezequiel e Isaías 40-55. Deus não abandonou os seus. O infortúnio do ano de 587 aC foi obra dos próprios israelitas (ver Lm 1,15; 2,1-8.17.20; 3,1-18.43-45; 4,11). Os pecados do povo o afastaram da proteção e bênção divinas (ver Lm 1,5.8.14.18; 3,40-42; 4,6.13; 5,7.16). A solução da crise seria a confissão das culpas, a confiança na misericórdia e a observância da Lei, a escuta das profecias. Na verdade, historicamente falando, o resto piedoso de Israel conheceria a volta do exílio, a reconstrução do Templo. Até nossos dias, ultrapassando massacres, deportações, perseguições, o pequeno Povo de Deus, apegado às Escrituras, adorando o Senhor Deus permanece, em contraste com impérios poderosos, como foi a força do nazi-fascismo do século XX: Hitler, Mussolini, Hiroíto e seus exércitos se foram, deixando atrás destruição, luto e dor. Mas o povo massacrado e odiado continua sua caminhada gloriosa.