SALMO 136 (135)
1 Louvai a Javé, porque ele é bom,
Js 24,1-13; Sl 135
pois eterno é o seu amor.
Sl 100,5
2 Louvai o Deus dos deuses,
pois eterno é o seu amor.
3 Louvai o Senhor dos senhores,
pois eterno é o seu amor.
4 Só ele fez grandes prodígios,
Sl 77,18
pois eterno é o seu amor.
5 Fez os céus com sabedoria,
Pr 8,27-29
pois eterno é o seu amor.
6 Firmou a terra acima das águas,
pois eterno é o seu amor
7 Fez as grandes luzes,
Gn 1,16
pois eterno é o seu amor.
8 O sol para reger o dia,
pois eterno é o seu amor.
9 A lua e as estrelas para reger a noite,
pois eterno é o seu amor.
10 Feriu o Egito nos seus primogênitos,
Sl 78,51; 135,8; Ex 12,29
pois eterno é o seu amor.
11 Fez Israel sair do meio deles,
pois eterno é o seu amor,
12 com mão poderosa e braço estendido,
pois eterno é o seu amor.
13 Partiu o Mar dos Juncos em duas partes,
Ex 14,21-22
pois eterno é o seu amor.
14 Pelo meio fez passar Israel,
pois eterno é o seu amor.
15 Revolveu o faraó e o seu exército no Mar dos Juncos,
Ex 15
pois eterno é o seu amor.
16 Conduziu seu povo pelo deserto,
Dt 8,2.15
pois eterno é o seu amor.
17 Golpeou os grandes soberanos,
pois eterno é o seu amor.
18 Feriu de morte os reis poderosos,
pois eterno é o seu amor:
19 Seon, rei dos amorreus,
Nm 21,21-35; Sl 135,11
pois eterno é o seu amor
20 Og, rei de Basã
pois eterno é o seu amor.
21 Deu a terra deles em herança,
pois eterno é o seu amor,
22 em herança a Israel, o seu servo,
pois eterno é o seu amor.
23 Na nossa humilhação, ele se lembrou de nós,
Lc 1,48
pois eterno é o seu amor.
24 Libertou-nos dos nossos inimigos,
pois eterno é o seu amor
25 Ele dá o alimento a todos o seres vivos,
Sl 104,27; 145,15-16
pois eterno é o seu amor.
26 Louvai ao Deus do céu,
Dn 2,18
pois eterno é o seu amor!
Comentário de Gianfranco Ravasi
Este é, por excelência, o “Grande Hallel”, o hino em forma de ladainha de louvor, que entrou gloriosamente na liturgia judaica da Páscoa. Com este cântico para solista e coro, ritmado pela antífona kî le`ôlam hasdô, “eterno é o seu amor”, também Jesus, certamente, encerrou a sua última ceia: “depois de haverem cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras” (Mt 26,30). A sigla teológica do Salmo está naquela antífona que a assembléia repete, enquanto o solista enuncia os artigos de fé do “Credo” israelita, e, em particular, naquele vocábulo hesed (hasdô é o mesmo termo mas com o sufixo da terceira pessoa do singular), dominante também em todo o resto do Saltério. Ele pertence à teologia da Aliança e exprime a bondade, o amor, a ternura, a fidelidade, a solicitude, a constância, a misericórdia com que Deus acompanha Israel.
O “Credo” que o solista proclama em 22 dísticos – tantas quantas são as letras do alfabeto – compreende três artigos de fé como no texto em prosa conservado em Josué 24. Há, porém, uma variante, a ser referida, sem dúvida, à experiência do exílio babilônico. O primeiro artigo de fé, não é a revelação de Deus aos patriarcas (Abraão, Isaac e Jacó), mas a criação (vv. 4-9), considerada como o primeiro ato divino no confronto com o homem. Nos versículos 10-20 entra em cena a segunda intervenção divina, fundamental na tradição bíblica, o êxodo do Egito e a sucessiva fatigante travessia do deserto. Deus, o Senhor do cosmo, divide em dois o Mar dos Juncos (melhor tradução do que “Mar Vermelho”), concebido como um monstro do caos despedaçado por Javé. Deus, descrito como um guerreiro, golpeia os adversários do seu povo, o faraó e os reis do deserto, o rei dos Amorreus e o de Basã, na Transjordânia. O terceiro e último ato divino é o dom da terra de Canaã (vv. 21-25): o Credo alcança, portanto, até os dias do salmista, que vive naquela terra que lhe fala de Deus e do seu hesed-amor.
Com este Salmo ocorre uma unificação das duas revelações que pertencem a duas diferentes esferas, a cósmica e a histórica. A criação é inserida como parte da atuação salvífica de Javé na história. Estamos muito longe da teologia islâmica que, mesmo tendo muitos elementos comuns com a Bíblia da qual depende, neste ponto se distancia radicalmente, pois nega qualquer contacto de Deus com a história. Deus é o distante, o diverso, o totalmente outro por excelência. Para a Bíblia Deus é o Emanuel, o “Deus conosco”.