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Aflição de Maria e José
Havia uma rotina alegre nessas peregrinações pela Páscoa a Jerusalém, a grande cidade, na época transbordante dos devotos que vinham até de longe, do Egito, de Roma, a capital do Império e de tantos outros lugares. No Pentecostes cristão, Lucas registrou a presença de “partos, medas elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia, da Capadócia, do Ponto, da Província da Ásia, da Frígia, e da Panfília, do Egito, das regiões da Líbia, vizinhos de Cirene, cretenses, árabes” (ver At 2,9-11).
Jerusalém maravilhava esta gente, que se juntava a seu redor muros: “Ao redor de Sião (Jerusalém) dai uma volta, ide ao longo de seu recinto, cantai louvores às suas torres, olhai com carinho os seus muros, examinai com apreço os seus palácios, para narrar às idades futuras, que Ele é Deus: nosso Deus para todo o sempre e quem nos conduz é Ele mesmo” (Sl 48,13-15).
Jesus tinha cerca de 12 anos. Mais um ano, mostrando que sabia e podia ler as Escrituras, poderia ser tido como adulto em Israel e ser contado como membro de uma sinagoga. Com tanta gente da família por ali, ia e vinha com muita liberdade. Maria e José confiavam nele. Ainda mais que iam do acampamento, talvez no Horto das Oliveiras, ao Templo, aonde os levava sua piedade: “Ó Deus, o Teu amor nós evocamos, daqui, do meio do Teu Santuário” (Sl 48,10)!
Na caravana dos nazarenos, ele ia e vinha com os colegas, ora andando com sua Mãe, ora com seu Pai, ora com algum conhecido. Para seu povo e seu tempo ele já era um jovem adulto. Assim, celebrada a Páscoa, quando se iniciou a viagem de volta, seus Pais, que seguiam ela no grupo feminino e ele no masculino, caminharam um dia inteiro sem dar conta que Jesus se tinha deixado ficar em Jerusalém. Aflitos, voltaram atrás. E, “ao 3º dia”, o dia da vontade de Deus, deram com ele num dos pórticos, varandões do Templo, ”sentado entre os doutores, ouvindo-os e lhes fazendo perguntas”. Não havia nada de arrogante na sua atitude, porque não se metia a doutorzinho, ensinando “o Padre nosso ao Vigário”.
“Quando o viram, ficaram comovidos Maria e José. E sua Mãe lhe disse: ‘Meu filho, porque fizeste isto conosco? Teu Pai e eu estávamos aflitos te procurando!’ ”. Sabemos a resposta de Jesus e através de suas palavras, sabemos que ele tinha consciência de quem era e do que devia fazer: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo me ocupar das coisas de meu Pai?” Ele bem que sabia que era filho do Altíssimo, concebido por obra do Espírito no seio virginal de Maria. Quis chamar José de Pai, mas tinha clara noção de ser o Filho Eterno do Pai Eterno.