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A mulher bíblica
Ora sem dúvida, havia mulheres trancafiadas nos haréns de Davi e Salomão e dos outros reis, que imitavam os potentados vizinhos. Mas, na maioria do povo, cada homem tinha sua esposa e lhe procurava ser fiel, criando seus filhos como a Lei prescrevia:
“Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus e é somente Um! Amarás o Senhor Teu Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças. As palavras que hoje Eu te digo permanecerão em tua memória e tu as inculcarás a teus filhos e falarás delas estando em casa ou a caminho, deitado ou de pé. Tua as atarás em teu punho, como um sinal, serão, na tua testa, um sinal. Tu as escreverás nos umbrais de tua casa e em seus portais” (Dt 6,4-9).
Não tinha sido trabalhoso ensinar coisas assim a Jesus, pois toda a grandeza de Deus habitava n’Ele, como lemos em São Paulo: “N’Ele habitava a plenitude da Divindade” (Cl 2,9). Plenitude quer dizer toda a grandeza, a beleza, o poder, a dignidade, a santidade, a bondade, a ternura… Deus todo estava em Jesus e Jesus, o Verbo feito carne, estava voltado para Deus e era Deus (ver Jo 1,1-2). Sua Humanidade, unida à Sua Divindade, ouvia estas palavras e as acolhia de todo o Coração. Elas Lhe soavam como música, ainda mais vindas dos lábios de Maria, Sua Mãe, e de José, que adotara como Pai nesta terra.
Maria, como as mulheres de Israel podia ter iniciativas e as tomava com naturalidade, segundo o antigo texto, tomado talvez por Salomão mesmo, quando compilou, conforme se dizia, o famoso Livro dos Provérbios:
Uma mulher de valor quem a encontrará?
Ela vale muito mais do que o coral!
Nela confia plenamente seu marido
E a ele não faltará proveito.
Ela lhe proporciona a felicidade, não a ruína,
Todos os dias da vida.
Ela procura diligentemente a lã e o linho,
Que suas mãos trabalham com alegria.
Como os navios mercantes,
De longe traz seu alimento.
Noite ainda, ela se levanta,
A fim de preparar a refeição para sua família
E distribuir as tarefas entre suas empregadas.
Põe suas vistas num terreno e o compra.
Com o fruto do seu trabalho
Planta uma vinha.
Cinge seus rins de força
E firma seus braços.
Verifica se seus negócios vão bem
E sua lâmpada não se apaga de noite.
Põe sua mão na roca,
Maneja na palma o fuso.
Abre ao miserável suas mãos,
Estende-as ao pobre.
Quando neva, não teme por sua família,
Pois todos usam roupas forradas.
Confecciona para si coberta e veste linho fino e púrpura.
Nas reuniões sociais,
Seu marido é respeitado,
Ao sentar-se com os anciãos do lugar… (Pr31,10-23).
Sim, de José se tinha dito: “Vejam só! Ele fez um bom casamento! Sua mulher é trabalhadeira, uma hábil artesã e sabe usar as ervas que curam como se fosse uma anciã de muita experiência”.