Manuel, o menino que falava com Jesus
Sobre o livro:
«Manuel il piccolo guerriero della Luce», di Enza Maria Milana e Valerio Bocci (edizioni Elledici)
VALERIO BOCCI, 11.XII.2020, Vatican Insider La Stampa, Turim, Itália
Há crianças bonitas e saudáveis, correndo felizes, jogando com os jogos de seus celulares. E outras tantas que veem suas vidas serem interrompidas com acontecimentos dolorosos e imprevistos. Vítimas casuais das de violências gratuitas e absurdas, alvos de bombas “inteligentes’, dos quais se fala um momento nos noticiários para logo serem esquecidos.
Outros há que saem desta vida, mas que fazem falar muito tempo de si, porque são normais e especiais ao mesmo tempo. Sem querer nem saber, se tornam mestres e dão lições de vida aos adultos.
Um destes é Manuel Foderà, de Calatafimi, Itália, um menino, “que sonhava em viver até 150 anos” e, em vez disto, como tantos ouras crianças, foi arrancado desta vida por um câncer, quando tinha apenas 9 anos. Ele se definia a si mesmo como “o pequeno guerreiro da luz”. Nasceu para o céu no dia 20 de julho de 2010, depois de ter lutado por cinco anos a golpes de quimioterapia, jogos, sorrisos e orações contra o neuroblastoma que atacara sua bacia.
Uma criança muito normal, mas também muito particular pelo modo como cumpriu o breve tempo de sua vida e pelo que deixou escrito nos seus contos e nas numerosas cartas enviadas aos amigos, médicos, padres, bispo e também ao Papa Emérito, Bento XVI. E, sobretudo, pela coragem com que enfrentou o mal como somente o sabem fazer os pequenos, grandes “por dentro”
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“O amor de vocês será a sua força”
Os primeiros sinais do inimigo invisível surgiram numa manhã que poderia ser como qualquer outra. Manuel acordou com dor na perna e uma febre insistente, o que fez perceber algo de estranho. Veio o médico da família que sacudiu a cabeça, preocupado. Viu que não havia tempo a perder e prescreveu uma série de exames. No dia 27 de julho de 2005, o menino foi levado de ambulância a um hospital para ser internado, o que seria a primeira estação de um caminho da cruz.
Os temores do médico encontraram confirmação. A notícia do desenvolvimento do neuroblastoma “em 4º estágio”. A notícia se abateu com a força de uma tempestade sobre a criança e sua família.
O doutor tenta afastar o medo que lê nos olhos da Mãe, deixando espaço à esperança: “Ainda que o percentual de sobrevivência fosse 10%. Deve lutar e ter esperança pela sua criança! Coragem! Manuel tem necessidade da Senhora, do Papai e do Irmão. O amor de vocês ser a sua força”.
O diagnóstico não admitia nem recurso nem apelo. Num momento, o alegre passarinho, que até agora circulava contente no ninho da família estava gravemente ferido, arriscando a não voar mais.
Os pais deixaram ecoar em si o Salmo 23: “O Senhor é o meu pastor. Ainda que devesse passar por um desfiladeiro escuro, não temerei nenhum mal, porque Tu estás comigo”. Eles sabiam que seriam acompanhados na travessia.
Um amigo, na verdade, especial
Os médicos tinham sido claros: era necessário agredir o inimigo logo, para não lhe deixar muita margem de manobra. No dia 12 de agosto, Manuel entrou com medo no centro cirúrgico para a extração da massa cancerosa. Dois dias depois, foi submetido ao primeiro dos 20 outros ciclos de quimioterapia, com fortes efeitos colaterais: a perda dos cabelos, que Manuel ofereceu como um buquê de flores a seu amigo, Jesus, repetidas hemorragias, e feridas no seu corpo pequeno e frágil.
Os tratamentos se mostraram longos e ineficazes. Manuel alternava momentos tranquilos outros rebeldes, querendo voltar para casa e deixar o tratamento.
A permanência forçada no hospital lhe reservava, contudo, uma agradável surpresa. Veio a saber, pela Irmã Prisca, uma irmã franciscana, que, não muito longe do seu quarto, havia a capelinha do hospital. Manuel pediu para ser levado pertinho do tabernáculo, de modo que pudesse encontrar a cabeça na portinha como para ouvir as batidas do
Coração do seu Amigo.
Entre ele e Jesus o relacionamento se aprofunda dia após dia. Algum tempo depois, na véspera do Natal de 2009,ele escreve numa pequena letra aos amigos da escola. Quando a minha vida era cinzenta e dolorosa – diz com a alegria de quem encontrou “o tesouro escondido no campo”, encontrei um Amigo verdadeiramente especial. Ele me deu Sua Mão e eu me confio a Ele. Deste modo, entrou no meu coração para sempre. É um amigo que não se vê, mas está ali. Nunca me deixa sozinho. Me aperta contra Seu Coração e me diz: “Teu coração não é teu, mas Meu, e Eu vivo em ti”. É um amigo verdadeiramente, verdadeiramente especial”.
Em seguida, como se quisesse revelar o segredo da amizade deles, continuou: “Para Lhe falar e senti-lo próximo, devo usar um celular especial, um celular que se chama ‘prece’. Devo rezar muito e concentrar-me, pois é um momento importante entre eu e Ele”.
O “momento importante tem nome: Comunhão. Com permissão especial do Bispo de Trapani, e consegui a antecipação a Primeira Eucaristia com seis anos no dia 13 de outubro de 2007.
Pouco antes de receber a Hóstia, falou baixinho para a Mãe: “Estou para receber Jesus. Meu coração bate forte…” Logo, mergulha o rosto nas mãos e fica em silêncio num “tu a tu” por diversos minutos. Quando terminou a oração, confiou ainda a sua Mãezinha, Enza, aglo de surpreendente e indecifrável que se tornará para ele habitual: “Mamãe, ouvi a voz de Jesus, como tu ouves a minha. Pude lhe falar e Ele me respondia no meu coração. Que bonito! Estou feliz!”
Depois de outras comunhões, anunciou feliz que irá em casa para umas curtas férias, tomando todos de surpresa, diante de suas precárias condições de saúde. Surpreendendo também os médicos, ele não se enganava. Igualmente, quando, sempre deixando um grande colóquio de agradecimento, fez saber que, no anoitecer, haveria fogos de artifício, coisa que ninguém lhe tinha falado e que muito o entusiasmava. Efetivamente, no escuro da noite floresceram nos céus fogos de luz colorida.
A Comunhão se tinha tornado, como escrevia nas cartinhas de Natal, “O momento mais belo de nossa amizade. Quando O recebo, dentro de mim é como uma bomba de graça e de bênção, que me faz me sentir melhor e protegido, porque Ele me ama muito, mais do que eu Lhe possa amar! Quero que este meu Amigo se tornasse para você um Amigo totalmente especial a ponto de que você não possa viver sem Ele”.
O pequeno guerreiro da Luz
Entre os parabéns que recebe, por sua Primeira Comunhão, estava o de sua querida “fada”, Florinda, que lhe escreveu, entre outras coisas: “Ainda que você seja um menino, Jesus tem necessidade de você para uma missão importante, que você começou com seu sofrimento. Se você caminhar ao Seu lado, poderá levar a todos perdão, consolação, luz e imensa alegria”.
Manuel ficou extasiado com a palavra “missão”. Seu Amigo lhe estaria pedindo alguma coisa importante? Esta coisa ele vai descobrindo Comunhão após Comunhão. Na Páscoa de 2009, escreve à Irmã Teresa, do Mosteiro de Giacalone (Monreale): “Esta manhã, na Comunhão, Jesus me disse: ‘Preciso de ti, porque tu és forte, e preciso para as crianças de coração endurecido’”.
Mesmo uma perita em coisas espirituais, como Irmã Teresa, não pode explicar esta tirada do menino. Pensa somente no Pai, que “esconde estas coisas aos sábios e as revela aos pequeninos”, como Manuel, um pequenino que sempre sente mais a necessidade de dar uma mão a seu Amigo, para converter os de coração duro de quantos não O amam, agindo como um pequeno “guerreiro da Luz”, oferecendo, simplesmente, seus sofrimentos pelas crianças doentes, como ele, e pelos amigos
No dia 25 de novembro de 2008, Manuel escreveu para seu amigo Jose, então seminarista, hoje padre: “Para tua festa resolvi te oferecer um presente. Te ofereço minhas dores para fazer um ramalhete. Quero sofrer um pouco como sofria Jesus”. Também a José, em 27 de abril de 2019, mandou este SMS: “Meu sofrimento está servindo a Jesus para mudar os corações”.
Seu coração de “guerreiro”, que tanto havia amado o seu grande Amigo, parou de bater em 20 de julho de 2010, pouco depois do meio dia. Um meio dia luminoso. Finalmente, Manuel pôde ir abraçar Jesus, saudado por um delicado aplauso dos parentes e amigos, que o acompanharam em sua última batalha, na querida casa de campo da família, com apenas 9 anos de vida. E ele, que queria viver até 150 anos, agora, simplesmente, vive para sempre.