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Mas há esperança na dor
O cântico 3º começa com uma queixa contra Deus. Diz o orante com coração partido diante do sofrimento do povo e da ruína da Cidade Santa, Jerusalém:
“Eu sou um homem que provou a dor sob a vara de Sua cólera, porque Ele me guiou e conduziu para as trevas e não para a luz. Está voltando sua mão contra mim o dia todo. Consumiu minha pele e minha carne e me quebrou os ossos. A meu redor levantou um cerco de veneno e de amargura e me confinou nas trevas como um morto de outrora. Cercou-me com um muro sem saída, carregando-me de cadeias. Por mais que eu grite ‘Socorro’! Ele se faz surdo à minha súplica”!
Tantas vezes, em meio a sofrimentos como das guerras, das tiranias, das epidemias, da fome, das prisões asquerosas, nossas súplicas parecem inúteis e o alívio não chega. Parece que Deus não existe ou não quer ouvir nossos gritos e gemidos. Nem lembramos como temos sido surdos a Sua Voz, às inspirações de Seu Divino Espírito…
Esta passagem lembra o cerco de um grande exército, que ergueu muros e trincheiras para que ninguém pudesse fugir da cidade sitiada. Mas, embora o orante se queixe de que Deus não o escuta, ele continua a insistir na súplica. Reza sem cessar (1Ts 5,17)! Sem desistir! Como disse São Pedro: “A quem iríamos? Só Tu tens palavras de vida eterna”! (Jo 6,68).
E vem um sopro de consolação, ânimo, alívio:
“Mas algo existe que trago à memória e me dá esperança: a misericórdia do Senhor não tem fim e Sua compaixão não se acaba! Pelo contrário: cada manhã se renovam! Como é grande Sua fidelidade! O Senhor é bom para os que n’Ele esperam e o buscam! É bom esperar em silêncio a salvação do Senhor. Tudo irá bem ao homem, se suportar o jugo desde jovem” (ver Mt 11,30 “Pois meu jugo é suave e meu peso é leve”).