“Jamais se convertam” (Mc 4,10-12) *
Mas aos demais é comunicado apenas em parábolas para que de modo que olhando não vejam, ouvindo não entendam e jamais se convertam e não lhes sejam perdoados os pecados”.
Jesus se serve de uma palavra do profeta Isaías, o qual, no momento do seu chamado, recebe de Deus uma missão que, à primeira vista, parece escandalosa:
“Vai e dize a este povo: ‘Escutai com vossos ouvidos, sem entender. Vede com os vossos olhos, sem perceber. Obceca o coração deste povo, ensurdece seus ouvidos, fecha-lhes os olhos, para que não veja com os olhos, nem entenda com os ouvidos, nem compreenda com o coração, nem se convert, nem seja curado’ ’’ (Is 6,9-10).
Deus, sem dúvida, envia o porfeta para pregar a conversão, mas a dureza dos corações do povo provoca o resultado oposto. Ou seja, não é Deus quem endurece os corações dos filhos de Israel, – assim como não é Ele quem endurece o coração do faraó (Ex 4,21; 7,3; 9,12). Mas sua palvra eficaz produz sempre algum efeito. Não pode deixar o coração humano na situação inicial. Ou ela é acolhida, e provoca a conversão, ou não é rejeitada, e, então, tem como efeito (daí o “de modo” usado por Jesus) um maior endurecimento do coração acabando assim de afastar ainda mais o evento da conversão.
A experiência de Jesus, por outro lado, será a mesma feita pelos seus discípulos depois da Páscoa da Ressurreição: também a pregação do Evangelho feita pela Igreja baterá de frente com a mesma incompreensão por parte das pessoas, como demonstra o frequente recurso no Novo Testamento a passagem de Isaías acima mencionada, mediante citação (ver At 28,25-27), ou alusões (ver Rm 11, 7-8; 2Cor 3,14).
Nenhum escândalo ou desalento, na consciência de que também o Senhor sofreu esta rejeição. Assim, esta palavra de Jesus deve despertar a nossa responsabilidade fundamental de cultivar “um coração atento” (ver 1Rs 3,9), capaz de deixar que a Palavra de Deus aja em nós.
Esta última, por sua vez, “já que é de Deus, é palavra que não constrange, não reduz o espaço de liberdade, mas o amplia. Pede o consentimento, mas está pronta a enfrentar a recusa. A “fraqueza” da Palavra de Deus escândalo para muitos – é sinal da verdade 26..O que vale também para toda a palavra de Jesus.
26 B. Maggioni “Il racconto di Marco”, Assisi, 2008, p. 102.