A CHAMA DA ESPERANÇA
Cardeal Tolentino
Não é raro que, numa circunstância ou noutra, a vida também nos deixe a sós, nos transmita a sensação de que estamos isolados de tudo e de todos, entregues a um sofrimento calado, a uma ferida sem retorno, a um naufrágio para o qual não há socorro. Em situação como essas vemos a luz empalidecer e desfazer-se numa inútil poeira cinzenta, dentro e fora de nós. Sentimos a nossa existência como uma cidade sitiada por implacáveis exércitos. Como aquelas pedras que quando éramos miúdos atirávamos aos poços para sondar profundidades abissais que nem sonhávamos, assim o eco vazio das palavras que dizemos e ninguém escuta nos informa sobre a espantosa medida que pode alcançar a solidão.
Mas acontece também que essas horas de dor e míngua se tornem ocasiões para redescobrir a força do amor de Deus. Deus sabe que não é fácil para a semente germinar no desamparo, nem para a frágil flor florescer no frio. O Seu amor não deixa, por isso, de vir ao nosso encontro, e de discutir com o nosso coração soçobrado até fazê-lo acreditar. Desse modo, Deus entreabre delicadamente as Suas mãos para que aí acendamos a chama da esperança já sem temer que ela seja cancelada pelo vento. Deus desafia a termos fé nos gestos mínimos de amor e nos pequenos passos. E faz isso não apenas uma vez, mas todas as vezes que precisarmos.