Dois peregrinos pela justiça
Cardeal Martini
O primeiro peregrino é Inácio (de Loyola). Sabemos que o original de sua Autobiografia não tinha título, ainda que se há imposto, desde a versão francesa de 1922 o título ”O relato do peregrino”. Neste valioso documento – ditado a partir de 1553 ao Padre Gonçalves da Câmara – Inácio fala de si mesmo como de um “peregrino” (…).
Quiséramos compreender o motivo ou finalidade que levaram Inácio a definir-se como um “peregrino”. Ditou sua Autobiografia praticamente nos últimos anos de sua vida, quando sua atividade era burocrática. Vivia em Roma, onde passava a maior parte do tempo escrevendo cartas aos primeiros jesuítas, espalhados pelo mundo, visitando e conversando com o papa e os cardeais. Considerava-se a si mesmo – então mais que nunca – evocando etapas de sua história, como um peregrino?
Talvez eu possa antecipar uma resposta. A Autobiografia é um amplo relato da peregrinação de Barcelona a Jerusalém e de Jerusalém a Roma. Logo nos vem à mente o livro dos “Atos dos Apóstolos”, segundo o qual a fé se assenta primeiro em Jerusalém, depois em Samaria, na Cilícia, em Antioquia – ainda que sempre se referindo à Cidade Santa, Jerusalém. Os Apóstolos chegam a Roma e, por Roma, ao mundo inteiro. Vemos o paralelismo e advertimos que se dá, portanto, uma realidade muito simbólica para “o peregrino” Inácio.
O segundo peregrino é José. Nas Sagradas Escrituras todos os patriarcas são peregrinos. Assim Abraão e também Jacó, que fez longas viagens e tantos outros. Escolhi o caso bíblico de José, filho de Jacó, porque o considero de particular interesse e utilidade para nossos dias. Sua história é a história da busca por seus irmãos, que se prolongou ao longo de sua vida.
De imediato quero sublinhar uma palavra chave da narrativa:
“Israel disse a José: ‘Teus irmãos estão pastoreando as ovelhas em Siquém. Quero mandar-te aonde eles estão’. E ele respondeu: ‘Aqui me tens’ (Gn 37,13)”.
Logo ocorrem algumas assonâncias: “Tu não queres sacrifícios nem oferendas, mas me abriste os ouvidos. Não pedes holocaustos nem vítimas, então eu te digo: ‘Aqui estou’ (Sl 40,7-8)”.
O Autor da Carta aos Hebreus retoma este versículo do Salmo para aplicá-lo à Encarnação do Verbo:
“Não quiseste nem sacrifícios nem oferendas, mas me deste um corpo.
Não aceitaste holocaustos nem sacrifícios expiatórios.
Então eu te disse: ‘Aqui venho, Senhor, para fazer tua vontade’ (Heb 10,5-7)”.
Dois peregrinos pela justiça
O primeiro peregrino é Inácio (de Loyola). Sabemos que o original de sua Autobiografia não tinha título, ainda que se há imposto, desde a versão francesa de 1922 o título ”O relato do peregrino”. Neste valioso documento – ditado a partir de 1553 ao Padre Gonçalves da Câmara – Inácio fala de si mesmo como de um “peregrino” (…).
Quiséramos compreender o motivo ou finalidade que levaram Inácio adefinir-s como um “peregrino”. Ditou sua Autobiografia praticamente nos últimos anos de sua vida, quando sua atividade era burocrática. Vivia em Roma, onde passava a maior parte do tempo escrevendo cartas aos primeiros jesuítas, espalhados pelo mundo, visitando e conversando com o papa e os cardeais. Considerava-se a si mesmo – então mais que nunca – evocando etapas de sua história, como um peregrino?
Talvez eu possa antecipar uma resposta. A Autobiografia é um amplo relato da peregrinação de Barcelona a Jerusalém e de Jerusalém a Roma. Logo nos vem à mente o livro dos “Atos dos Apóstolos”, segundo o qual a fé se assenta primeiro em Jerusalém, depois em Samaria, na Cilícia, em Antioquia – ainda que sempre se referindo à Cidade Santa, Jerusalém. Os Apóstolos chegam a Roma e, por Roma, ao mundo inteiro. Vemos o paralelismo e advertimos que se dá, portanto, uma realidade muito simbólica para “o peregrino” Inácio.
O segundo peregrino é José. Nas Sagradas Escrituras todos os patriarcas são peregrinos. Assim Abraão e também Jacó, que fez longas viagens e tantos outros. Escolhi o caso bíblico de José, filho de Jacó, porque o considero de particular interesse e utilidade para nossos dias. Sua história é a história da busca por seus irmãos, que se prolongou ao longo de sua vida.
De imediato quero sublinhar uma palavra chave da narrativa:
“Israel disse a José: ‘Teus irmãos estão pastoreando as ovelhas em Siquém. Quero mandar-te aonde eles estão’. E ele respondeu: ‘Aqui me tens’ (Gn 37,13)”.
Logo ocorrem algumas assonâncias: “Tu não queres sacrifícios nem oferendas, mas me abriste os ouvidos. Não pedes holocaustos nem vítimas, então eu te digo: ‘Aqui estou’ (Sl 40,7-8)”.
O Autor da Carta aos Hebreus retoma este versículo do Salmo para aplicá-lo à Encarnação do Verbo:
“Não quiseste nem sacrifícios nem oferendas, mas me deste um corpo.
Não aceitaste holocaustos nem sacrifícios expiatórios.
Então eu te disse: ‘Aqui venho, Senhor, para fazer tua vontade’ (Heb 10,5-7)”.
Este desígnio, esta vontade consiste para nós em nos santificarmos pelo oferecimento do corpo em união ao oferecimento de Jesus (…)
É, portanto, muito profunda a resposta de José: “Aqui me tens” – estou disposto a ir em busca de meus irmãos…
Este desígnio, esta vontade consiste para nós em nos santificarmos pelo oferecimento do corpo em união ao oferecimento de Jesus (…)
É, portanto, muito profunda a resposta de José: “Aqui me tens” – estou disposto a ir em busca de meus irmãos…