Um Santo que se preparou desde garoto
João Bosco sabia o que queria! Nascido e 1815, num povoado da região de Turim, norte da Itália, ficou órfão de pai aos dois anos. A mãe, Margarida, lutou contra a pobreza para levar família. Por sua vez João, aos dez anos, teve um dos seus primeiros sonhos proféticos, no qual Cristo o levava no meio de um bando de guris vadios que o destratavam e xingavam. João sentiu raiva e queria distribuir uns socos e pontapés, mas Cristo o conteve e lhe disse: “Não com pancadas, mas com mansidão e amor os farás amigos”.
Por isso, João Bosco, decidindo-se a ser padre para ajudar aquela meninada e rapaziada, aproveitou oportunidades de aprender números de mágica e de circo. Seriam uma porta para que o pessoal se achegasse a ele e ele os pudesse aproximar de Cristo e do seu Evangelho. Estavam nascendo seus famosos oratórios e também toda uma pedagogia, que se espalharia, através dos seus salesianos e das Irmãs de Maria Auxiliadora, pelo mundo afora, em particular pelo Brasil.
Certamente Cristo não teve tempo de lhe falar de números de circo, mas João Bosco “sabia das coisas” e aproveitava as ocasiões. Também aprendeu logo que sendo padre, teria de ser padre pobre. Sua Mãe o confirmou: “Filho, eu nasci pobre, vivi como pobre e desejo morrer pobre. Se queres ser padre para ficar rico, eu nunca te irei ver”.
João Bosco, com muito empenho, vencendo as dificuldades, com ajuda de vizinhos, conseguiu fazer o seminário, e, com 26 anos, foi ordenado sacerdote. Passaram a chamá-lo, conforme o costume italiano, de “Dom Bosco”, e assim seu nome viria a ser universalmente conhecido.
Teve como diretor espiritual um santo, São José Cafasso, que lhe disse que suas Índias, para onde o jovem padre pensava ir, eram as ruas de Turim, a fervilhante cidade industrial, bastante poluída, com pais ausentes de casa, trabalhando até 14 horas por dia, e filhos e filhas sem cuidados, sem educação, literalmente “ao deus dará”.
E Dom Bosco, confiante na Providência e na intercessão de Nossa Senhora, a Auxiliadora, começou, com suas artes circenses a fazer amizades entre a juventude abandonada das ruas de Turim, teve a ideia de criar o que chamou oratórios: brincadeiras, jogos, educação, oração. Logo vieram oficinas de artesanato, alfabetização, casas de hospedagem, lugares para em que o pessoal pudesse ter espaço e se divertir. Até autoridades eclesiásticas se espantaram com a novidade quiseram pôr obstáculos.
Com inalterável bom humor, Dom Bosco foi adiante e, em 1864 fundou o Instituto Salesiano, cujo nome lhe veio de São Francisco de Sales, célebre por sua mansidão. Conheceu uma fundadora, Santa Domingas Mazzarello. Assim as “Filhas de Maria Auxiliadora” se tornaram aliadas e até são chamadas de “salesianas”.
Mamãe Margarida foi chamada para ajudar na primeira casa da garotada. Como jogavam bola no campinho dos fundos e a bola vinha nos varais de roupa limpa, Mamãe afinal se cansou e disse ao filho que pensava em voltar para a paz de sua casa pobre no povoado. Dom Bosco não lhe disse nada, apenas a levou até a saleta, de cuja parede pendia o Crucifixo. E apontou para ele. Mamãe Margarida continuou com os meninos levados.
Dom Bosco revolucionou a educação com seu método preventivo. Não sabemos se ergueu uma cerca para proteger as roupas do varal, mas seria típico dele, que, uma vez teria dito: “Se não quiserem que o menino chute bola no corredor, não deixem a bola no corredor”. Até os mais teimosos acabavam vencidos pela constante bondade e mansidão do santo.
Também as prisões de Turim receberam a visita amiga de Dom Bosco, que chegou a obter permissão oficial para levá-los a passeios e piqueniques nos campos ao redor de Turim.
Não sabemos como, mas ele arranjava tempo para escrever, promoveu boas leituras em livretos, lançou-se à formação de missionários colaboradores. Já em 1875 enviou os primeiros à Patagônia, sul da Argentina. Em 1883, ele enviou uma vanguarda ao nosso imenso Mato Grosso, aonde estão até hoje. Trabalharam entre os brasilíndios Bororos e Xavantes, antes da saga do Marechal Rondon, que poderia ser considerado um salesiano de coração.
Dom Bosco nasceu para os céus em 31 de janeiro de 1888. O Instituto Salesiano contava com 64 casas, espalhadas pela Itália e pelo mundo e os padres salesianos já eram cerca de mil.
O Papa Pio XI teve a alegria de canonizá-lo em 1934. Ele é tido como modelo acabado de sacerdote educador. Podemos pedir-lhe, confiantes que acuda nosso Brasil, com tanta gente atirada, pela miséria, nas nossas ruas.