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Maria, quem é – capítulos 1 a17
01/02/2020
O Livro do Êxodo
10/02/2020

O Livro do Gênesis

O Livro do Gênesis, livro de religião

O Autor divino da Bíblia é o Divino Espírito. Assim o diz São Paulo: Toda Escritura inspirada por Deus é útil para ensinar, convencer, corrigir e educar na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito, capacitado para qualquer boa obra (2Tm 3,16). O Autor humano do Livro do Gênesis nem sonhava em contar fofocas da família humana. Seu interesse nos relatos do passado era revelar, nos acontecimentos que envolvem a nossa família, o que educasse na justiça e nos capacitasse para as boas obras.

Portanto é inútil e bobo ler o Gênesis procurando coisas como com quem teria casado Caim ou Abel, pois Eva, sua mãe, seria a única mulher da terra! Adão e Eva são representativos do ser humano, como Caim e Abel. São como espelhos, nos quais você e eu podemos olhar para, com a moção interior do Divino Espírito, nos deixarmos instruir, convencer e corrigir.

Aprendendo com estas coisas da Bíblia, lemos que Eva cobiçou e agiu. Foi tentada e caiu. E pôs a culpa na Serpente, símbolo da Tentação. E que Adão pôs a culpa de tudo no próprio Criador: A mulher que me deste por companheira foi quem me deu do fruto da árvore e eu comi (Gn 1,12).

Esta é uma tendência comum na nossa família humana: arranjar desculpas de nossos malfeitos, pôr a culpa em alguém ou em alguma coisa. Mas quem resiste a este doce, diz aquela mesma pessoa que se declarou em dieta. Pobre doce! É comido e é culpado! Pôr a culpa em Deus: Foi ele quem me fez assim, diz o Pau-que-cresce-torto.

O bonito é acolher a Revelação de Deus: diante da culpa de Eva, ele não culpabiliza a mulher. Pelo contrário, ele a exalta. Diz à Serpente: Porei inimizade entre Ti e a Mulher, entre a tua descendência e a descendência dela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás no calcanhar (Gn 3,15). Os pensadores cristãos, meditando esta palavra, a compreendem como um anúncio de salvação. A Mulher não continuará na falsa amizade da Serpente. Ela terá futuro, terá descendência. A descendência dela, Jesus, vencerá o Demônio. Por isso, Nossa Senhora muitas vezes é representada pisando na serpente.

A Serpente, a tentação continua seduzindo a nós, degredados filhos de Eva, como rezamos na Salve Rainha. Só que o mal que pode fazer não nos extermina. O cristão, o homem de Deus capacitado para toda boa obra, é também filho de Maria, a Mulher (). Esta é a garantia de Jesus, nosso Senhor e Redentor: Ide ao mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão os demônios, falarão línguas novas, pegarão em serpentes e se beberem algum veneno mortal não sofrerão nenhum mal; imporão as mãos aos enfermos que serão curados (Mc 16,17-18).

Antes que pensemos mal das cobras, animais muito úteis, que mais sofrem do ser humano do que o ser humano delas, leiamos: O Grande Dragão, a Antiga Serpente, chamado Diabo e Satanás, o Sedutor do mundo inteiro, foi derrubado! (Ap 12,9). O jeito tímido das cobras, se escondendo, rastejando, a força da mordida das que são peçonhentas sugeriram a comparação entre o Tentador e a Serpente antiga: para falar das coisas invisíveis da fé, aprendemos a recorrer às coisas visíveis do dia-a-dia. O modo de agir da cobra lembra o modo de agir da tentação na alma humana. O cristão, amando a Deus sobre todas as coisas, caminha neste mundo guardando a fé e combatendo o bom combate. Só lhe resta, como a Paulo Apóstolo, aguardar a coroa indestrutível de glória e justiça (ver 2Tm 4,7-8; 1Pd 5,4).

 

O Livro do Gênesis 

No tempo do cativeiro da Babilônia, um sábio de Israel, inspirado pelo Espírito Santo (ver 2Pe 1,20 e 2 Tm 3,16), compôs este Livro santo para que o Resto de Israel não esquecesse da Aliança com o Senhor (Adonai), o Único Deus. Ele abre o livro com o Poema da Criação (Gn 1,1 a 2,4). Ensina que tudo o que existe só existe pela Palavra Criadora do Altíssimo: E Deus disse (…) e assim foi! Bonito e verdadeiro refrão, marcando a canção de amor do Pai nosso num tempo de Aliança! Pois 7 são os dias; 7=3+4; 3, número indivisível, número de Deus; 4, as 4 direções do mundo: norte, sul leste, oeste, o conjunto de todas as criaturas! Assim 3+4=7!  Num tempo em que os números eram letras e significavam mais coisas do que quantidades, assim 7 é o número da Aliança entre o Criador e sua Criação maravilhosa.

O autor transmite, de um modo narrativo e simpático, que qualquer um pode guardar de memória, como o homem e mulher são obra de Deus, feitos para cultivarem o jardim, isto é, serem felizes colaboradores da obra da Criação. O mal, a negação e ausência de bem, vem da cobiça, da ambição de assumir o lugar de Deus, com isto destruindo a relação de amor e gratidão. Deste modo se perde a qualidade de vida, vida de filhos! Pecado! Que pena! Mas o Senhor, em vez de uma boba tanga de folhas de figueira, dá um agasalho bom e quentinho para os primeiros homens (Gn 2,4 a 3,24)! O pecado original é querer se igualar a Deus, deixando-o de lado, comendo a fruta da árvore da ciência do bem e do mal. Que engano! Deus é todo bom, é puríssimo bem, e não tem nada a ver com a ciência do mal! Só vamos ficando parecidos com ele pela ciência do bem (Eclo 19,20-22)! A forma completa desta ciência do bem é o Evangelho de Jesus!

Depois, nosso escritor sagrado vai nos catequizar, sempre através das narrativas, as memórias do povo, ensinando a fé no Deus Único e Verdadeiro, a maravilha da sua Aliança com Noé e Abraão, para, com o tempo, o Povo de Deus se tornar uma Bênção para todos os povos (Gn 12,3). Ele não é mais um historiador, nem mais um contador de estórias. Ele é um santo sábio que fala sério para nos transmitir a graça de ver a vida da humanidade não como um filme qualquer, mas como a História de nossa Salvação. Sim! A bênção original é mais forte do que o pecado original!

  1. Paiva, SJ

Gn: Livro do Gênesis; 2Tm: 2ª Carta a Timóteo; 2Pe: 2ª Carta de Pedro; Eclo: Livro do Eclesiástico (ou Siracida).

 

CAIM E ABEL SÃO MUITO POPULARES

  1. Paiva, SJ

São muito populares e conhecidos, hoje, e eram muito populares, quando um Escritor inspirado usou sua história para iluminar os corações e mentes das pessoas de seu tempo e de todos os tempos. Assumida pelo Povo de Deus como instrução da Sabedoria do Senhor, o drama dos dois irmãos é muito nosso. Caim era agricultor e “industrial”, homem “de cidade”. Abel era pastor, homem “do campo” (Gn 4,1-16). Historicamente, pastores e agricultores, gente da cidade e gente do campo sempre tiveram suas diferenças, que chegaram até mesmo ao derramamento de sangue. Dentro das famílias, as brigas por herança, os ciúmes e também assassinatos, acontecem. Não há geração, nem lugar do mundo que não tenham suas tristezas para contar a respeito. E o que são as guerras e guerrilhas, opressões e terrorismos, muros de condomínios e favelas, senão repetidas histórias de Caim e Abel?

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Uma vez, em Paulo Afonso, as pessoas do Movimento Bíblico me perguntaram se Caim e Abel existiram. Tive de responder: Olhemos em volta! Não só existiram mas continuam a existir! Um grande e santo homem, Dom Luciano Mendes de Almeida, jesuíta, um dia disse que no mundo havia abundância de recursos naturais e humanos, notável ciência e técnica. O que tem estado em falta é a caridade.

Até nas coisas pequenas, e, talvez, sobretudo nelas. Contaram-me que uma senhora criticava asperamente o Padre, no banco mesmo da Igreja, durante a Missa, porque o pobre fazia a homilia sentado. Na verdade, Jesus costumava sentar para falar ao povo: uma vez na barca de Simão Pedro (Lc 5,2), outra vez na encosta da montanha (Mt 5,1). Lembram-se?

A Caridade é a vida da Trindade: Deus é amor. Quem ama permanece em Deus. Quem ama seu irmão, mesmo inimigo, neste permanece o Amor de Deus (ver 1Jo 4). Só o dom maior da Caridade (1Cor 12,31-13,13) pode nos curar do “complexo de Caim e Abel”.

 

AS 77 VEZES DE LAMEC E AS 70 VEZES 7 DE JESUS

 

Foi Pedro, Apóstolo, quem perguntou a Jesus: Senhor, quantas vezes terei de perdoa o meu irmão se ele peca contra mim? Até 7 vezes? E Jesus lhe respondeu: Eu não te digo até 7 vezes, mas até 70 vezes 7 (Mt 18,21-22; Lc 17,4). A “matemática de perdão” de Jesus é formidável! Temos dificuldade de perdoar uma única ofensa e Ele nos quer perdoando 490 vezes quem nos fere? Enfim, o que vale é a misericórdia: Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso (Lc 6,36). Os misericordiosos são felizes, porque serão tratados com misericórdia (Mt 5,7).

Mas de onde Nosso Senhor tirou os números de sua “conta da misericórdia”? Ora, da Bíblia! Sim, do livro de Gênesis. Já mostro!

Caim matou seu irmão, e o Pai do Céu não matou Caim, mas o marcou para que ninguém o assassinasse: Pois bem, se alguém matar Caim, 7 vezes encontrará vingança! (Gn 4,15). Esta história de matar um por que um matou outro só dá mortes sucessivas! O Pai do Céu nos avisa pelo sábio autor do Gênesis que o mal feito por alguém contra outra pessoa não torna justo fazer-lhe mal! Nada de “matou? Tem é que morrer!” Por isso o Senhor marcou Caim com um sinal, para que não fosse morto pelo primeiro que o encontrasse Gn 4,15).

Mais sossegado, Caim pôde formar família e até fundar uma cidade (Gn 4,17-22). Um dos seus descendentes foi o simpático Jubal, pai dos tocadores de flauta e harpa (Gn 4,21). Isto prova que o dito popular “filho de peixe, peixinho é” não é pura verdade! Não há gente boa neste mundo que não tenha alguns “pestinhas” entre os seus antepassados. Mesmo Jesus, o Santo, o Forte, o Imortal, teve pessoas que cometeram inclusive crimes entre seus antepassados (por exemplo, Davi).

Contudo, um bisneto de Caim, Lamec foi terrível! Ele teve duas esposas Ada e Sila. Não sabemos o que fez Lamec ficar tão enraivecido e descontrolado, mas, um dia, ele disse às suas mulheres: Ada e Sila, escutai minha palavra! Matei um homem por uma ferida e um jovem por um arranhão! Sete vezes será vingado Caim, mas Lamec será vingado 77 vezes! (Gn 4,23).

Esta é “a conta de Lamec”, contabilidade medonha, ainda em vigor nas guerras, revoluções e violências pelo mundo afora: Ah, você fez isto! Você me paga! Vai ver só! A primeira Guerra Mundial teve como pretexto vingar o assassinato de um casal de príncipes. Bombardeios querem “retaliar” um atentado terrorista. Na verdade a conta de Lamec só gera desastres! Melhor a conta da misericórdia! Melhor a “doutrina” de minha Mãe, Adelaide: Quando dois irmãos brigam nenhum tem razão! Os dois para o castigo! E não saiam, enquanto eu não chamar! E como custavam passar dez minutos sem brincar com meu irmão!

Pergunta: Quem foi Lamec? Envie-nos sua resposta e concorra a uma Bíblia com zíper!

 

A Torre

 

Parece que é costume velho tentar fazer torres que cheguem ao céu! Tem gente que pensa que assim mostra poder, mostra que nem precisa de Deus. Bobagem! O céu de Deus é uma dimensão imensa de amor e vida, que não dá nem para imaginar (1Cor 2,9)! Muito antigamente tentaram fazer uma torre assim, e dela ninguém se esquece: a Torre de Babel! Foi na bela planície de Senaar, entre os grandes rios Eufrates e Tigre. Todos estavam de acordo. Todos falavam uma mesma língua. A terra era boa e havia comida à vontade. Com argila da melhor qualidade e ainda muita árvore para derrubar e fazer carvão, logo começaram a fabricar muitos tijolos. Inventaram até um carrinho muito útil para carregar o material: com só uma roda na frente, uma plataforma para a carga e dois braços para o carregador segurar e empurrar. O carrinho-de-mão fez tal sucesso que é usado até hoje. Beleza!

E começou a grande obra! Ia ser um espanto! Ia chegar até os céus! Seria o centro famoso de todos, que pensavam em se espalhar, ocupando a terra toda. Ali estaria a marca do orgulho e da capacidade deles, como “capital” para a humanidade dona do mundo!

Também no nosso tempo há “arranha-céus” por todo o lado. Não faz muito dois aviões bateram contra duas dessas poderosas torres e elas vieram abaixo em horrendos minutos! Os pilotos queriam destruição. Conseguiram. Ninguém imaginava que fosse possível tamanho desastre!

Nos dias antigos de Babel, não passava pela cabeça de ninguém que a orgulhosa Babilônia, senhora de meio mundo, dona dos povos, cuja escrita era usada pelos comerciantes em suas listas e tabelas, pusesse sumir com suas orgulhosas torres na máquina de moer das guerras. Mas o orgulho humano sempre termina em desastre. Muita gente pensou em conquistar a terra. Dessa gente só ficam umas páginas nos livros: Assurbanipal, Nabucodonosor, Dario, Alexandre, César, Átila, Gengis Kahn, Napoleão! Hitler… Quem mais? Nem dá para lembrar! Passaram! Só criaram confusão!

Assim aconteceu com a Torre de Babel. Seus construtores se desentenderam. O Senhor simplesmente confundiu suas línguas. Já não eram um só povo bem alimentado e feliz na planície de Senaar! Da pretensão deles só restou poeira e uns versículos na Santa Bíblia (Gn 111-9).

Enquanto isto…

 

NOÉ, HOMEM HONRADO

Em tempos difíceis, que barco você prefere para escapar do dilúvio? Não precisa ser dilúvio de água. Pode ser da lama da corrupção e das maracutaias. Pode ser de bombas e tiroteios. Sem dúvida você não vai escolher um navio de capitão desonesto, que está mal cuidado e ainda cobra caro. Na Bíblia, para salvar as pessoas de um mar de maldade crescente, o Pai admirável escolhe um capitão honesto: O Senhor, vendo que, na terra, crescia a maldade do homem e que toda a sua atitude era sempre perversa, arrependeu-se de ter criado o ser humano na terra, e seu coração se afligiu (…). Naquele tempo, Noé foi um homem direito e honrado, que conversava com Deus (…). A terra estava corrompida diante de Deus e cheia de crimes (…). Disse Deus a Noé: “Fabrica uma arca…” (ver Gn 6,5-22).

Arca rima com barca. Quem gosta de embarcações, vai ficar curioso sobre o tamanho da barcaça de Noé e seu método de construção. Quem gosta de geografia, ficará horas debatendo se ela aportou ou não no monte Arará. Quem gosta de geologia ou arqueologia, ficará contente de descobrir a enorme camada de lodo, que comprova uma formidável inundação na parte final dos vales do Eufrates e do Tigre, onde ficou a memória do tremendo dilúvio, “que afogou todo o mundo”. Quem gosta de lendas, vai colecionar antigas memórias de outros colossais cataclismos, recontados por gerações em diferentes partes da terra.

E quem gosta de Deus?

Ah! Esta pessoa vai ler a narrativa com o mesmo Espírito com que foi recolhida e posta na Bíblia: como revelação do Amor do Pai. Ele não fica indiferente diante de nossas malícias e crimes, de nossos roubos, fraudes e chacinas. Ele dá vocação aos seus amigos para defenderem a vida. Assim. Noé atravessa os tempos de provação, salvando, socorrendo. Cumpre sua divina vocação. Ele escolhe, pois, a vida (Dt 30,19). Que vida? Não somente a vida humana, mas toda a vida, sem deixar de lado sequer as pulgas, que certamente entraram em sua arca no pelo da cachorrada, se assim você quiser imaginar!

O que nos vale e salva em tempos duros e cheios de maldade é em tudo buscar e achar a vontade de Deus, como dizia Santo Inácio de Loyola, e cumpriu o grande patriarca: Noé fez tudo o que Deus mandou (Gn 6,22). Fora desta bela, boa e santa vontade não há salvação.

 

O DILÚVIO: o que terá acontecido?

 

Nas ilustrações de livros para crianças e na imaginação de muita gente, Noé é um simpático avô, acolhendo uma procissão de bichos (liderados por leões, zebras e elefantes!), que entram docilmente na sua enorme arca! E havia pessoas catando pelo mundo afora memórias de grandes enchentes para provar por “a+b” que o dilúvio atingiu todo o globo terrestre! Aí já não falamos de coisas da Bíblia, mas de coisas que ficam “fora da Bíblia”!

O relato bíblico sobre Noé está no conjunto dos relatos do Livro do Gênesis. No primeiro capítulo, aparece como bênção divina que as águas tenham recuado, permitindo que houvesse terra firme e vida humana (Gn 1). A obra de Deus é criação, organização, ornamentação. O pecado é causa de destruição e confusão. Nas grandes enchentes terra, água e céu, tomado de baixas, escuras e pesadas nuvens se misturam. São símbolos claros do pecado e corrupção de uma sociedade que não se preocupa senão com se “desenvolver”, não observa os “sinais dos tempos”, não cuida do “jardim” (Gn 2). O desastre pega a estes descuidados sem lhes deixar recurso.

Noé simboliza o homem de fé, que vê, julga, atua. Sendo capaz de meter mãos à obra, certamente não era um velho. As altas idades, na “matemática” dos hebreus, só significam vidas úteis e bem aproveitadas, abençoadas por Deus e muito fecundas. Tanto mais que os “números” eram significados por letras. Estávamos milênios antes da prodigiosa invenção dos árabes: os algarismos e o zero! Os números eram escritos com letras e lidos como palavras! Por exemplo, as letras hebraicas do nome de Davi eram lidas e soavam como “quatorze”. Logo “quatorze” era sinônimo de “davídico”. Na arca de Noé cabia a bicharada útil para um fazendeiro daquele tempo e daquela região: os animais “puros” (Gn 7,1), isto é, os que podiam servir à alimentação de gente religiosa. Eram “7” pares: biblicamente “7” não quer dizer uma quantidade, mas uma “qualidade”: 7 é a soma de 3 (número de Deus) e 4 (número de pontos cardeais, isto é, número das coisas criadas). Isto é, na sua arca o sábio patriarca levou os bichos úteis para recomeçar seu trabalho e conseguir o sustento de sua gente!

O “mundo” de Noé era como o mundo de muita gente de nossos dias. Num povoado na selva, sem televisão nem rádio nem celular, o mundo é muito pequenino, e a enchente poderosa maltrata “todo mundo”, alaga “o mundo inteiro”. Para muitos de nós o mundo é a terra. Para alguns, o mundo inclui nebulosas! Mas para todos, se não formos capazes de responsabilidade, estudo, reflexão, observação dos “sinais dos tempos”, os desastres mais previsíveis cairão sobre nós como misérias medonhas!

 

Na boa terra

A pombinha voou, voou e não “encontrou onde pousar os pés” (Gn 8,9). E voltou, pousando na mão amiga de Noé. Mais uns dias, o Patriarca a enviou de novo. A pombinha voltou com um raminho de oliveira no bico. Noé reconheceu que a terra estava enxuta e que ele podia sair da Arca com sua gente e bicharada. E a humanidade ganhou um símbolo: a pombinha com o ramo de oliveira no bico ficou sendo um sinal de paz na terra.

Saíram todos da Arca, pisaram em terra firme e ganharam a bênção de Deus: “Sejam fecundos e se multipliquem sobre a terra” (Gn 8,17). A bênção lá do princípio vencia, novamente, a maldade e a irresponsabilidade humana. Também no começo, o Criador dera a bênção bonita da fecundidade: “Sede fecundos e multiplicai-vos! Enchei a terra!” (Gn 1,28).

E o Senhor também disse: “Nunca mais hei de amaldiçoar a terra por causa dos homens. Pois os pensamentos do coração do homem são maus desde sua juventude. Nunca mais hei de castigar os seres vivos como fiz. Enquanto a terra durar, sementeira e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite, nunca mais cessarão!” (Gn 8,21-22).

Mas os pensamentos dos homens não são os pensamentos de Deus (Is 55,8). Nos nossos tempos, os nossos carros, aviões, fábricas e guerras sem fim, aquecem a terra e nos ameaçam com o degelo dos polos e a inundação dos países à beira mar: é o “efeito estufa”, causando “o aquecimento global”.

E me disse uma senhora lá nas Minas Gerais: “Padre, não concordo com este mundo que Deus fez!” Perguntei: “A Senhora conhece o mundo que Deus fez?” Ela respondeu: “Ora! É este mundo que está aí!” Comentei: “Mas quando Ele nos entregou o mundo, os rios estavam limpos!”

O relato bíblico nos mostra Deus abençoando, a pomba com o ramo de oliveira, Noé e sua gente, sã e salva, plantando e cuidando da bicharada. A realidade de hoje nos mostra rios e até mares sujos, onde a vida se extingue ou já acabou. O ar também vai ficando imundo e doentio. Mesmo as feras e os animais dos matos já não encontram um lugar seguro. É tempo de tomar juízo: nosso bom Criador não volta atrás em sua palavra de vida. Ele é fiel! Mas nós – parece – preferimos a morte. O pecado e o desejo sem limite de consumir e ter e gastar podem acabar conosco! Que tal pedir a graça de imitarmos Noé e salvarmos a vida nesta boa terra?

 

O homem que escutou Deus: uma família de migrantes

Há muito tempo, há cerca de 1.800 anos antes de Nosso Senhor Jesus Cristo nascer, em Ur dos Caldeus (onde hoje é o Iraque) havia uma família. Eram três irmãos, conhecidos como “os filhos de Terá”: Abrão (ganhou um “a” mais tarde!), Nacor e Arã. Este último, que morreu jovem, foi o pai de Lot, sobrinho de Abrão, e que vamos encontrar mais adiante, se Deus quiser. A Bíblia nos conta que Terá quis sair de Ur. Talvez a vida lá estivesse passando uma fase de carestia. Ele pensava ir para o país de Canaã, mais perto do Mediterrâneo e do grande Egito dos faraós. Mas achou bom lugar no meio do caminho: no norte, vizinho às montanhas, o país de chamado Haran. Foi nesta região que Terá morreu, e foi lá que Abrão ouviu a voz de Deus, e seguiu adiante (Gn 11,27 – 12,1).

Nada de extraordinário! Até hoje brasileiros emigram, buscando vida melhor ou na Europa ou nos Estados Unidos. E todo dia chega gente no Brasil, procurando trabalho e sustento. Os migrantes, em geral, são gente de família. Quando ganham um dinheirinho, mandam parte para os velhos pais, ou esposa e filhos que não puderam vir ainda. Às vezes é a família inteira que migra. Hoje em dia, mulheres “puxam” a migração também, como, na Bíblia Naomi e Rute (mas esta história fica para mais tarde!). Destas origens humildes é bom lembrar. As pessoas humildes têm mais facilidade em reconhecer a Divina Providência guiando a história de suas vidas. As pessoas bem sucedidas têm, muitas vezes, o engano de acreditar que tudo devem a suas qualidades e esperteza. Esquecem facilmente que todos os bens vêm da Mão do Pai…

Por isso, quando Abrão já era conhecido como Abraão, e sua família já era um povo, Israel, Moisés quis lembrar a todos estas origens dignas e humildes, para que fossem sempre agradecidos a Deus Libertador. Por isso ensinou que, quando um israelita fosse apresentar uma oferenda ao Senhor, devia dizer, diante do sacerdote: “Meu pai era um arameu errante. Ele desceu ao Egito com poucas pessoas, e ali viveu como estrangeiro (…) E o Senhor Deus nos tirou do Egito com mão poderosa e braço estendido (…) Conduziu-nos a este lugar e nos deu esta terra, onde mana leite e mel. Agora trago a ti, meu Deus, as primícias dos produtos do solo que me deste”.

Bonito! Ser agradecido! Todos os bens vêm do nosso Criador!

 

“A vida é duro combate” – também para Abraão!

Nosso poeta, Gonçalves Dias tem um verso que ficou na memória de muita gente por este Brasil afora: “Não chores, meu filho, não chores, a vida é duro combate…” Não é porque alguém é escolhido por Deus para uma missão especial que sua vida vai ser “maré mansa”!

A memória de Israel recordava como o Patriarca passou “por poucas e boas”. Quando colocaram as histórias das lutas da sua vida no papel, muito tempo depois, ficaram em dúvida qual a versão mais exata. Sabiam que tinha havido um problema no Egito. Alguém poderoso se encantara com Sara (Abimelec? Um Faraó?). Abraão, estrangeiro num país de maravilhas e cheio de poder, a chamava de “irmã”. Ela foi parar no harém da autoridade! (ver Gn 12,10-20 e Gn 20!). Ter uma mulher muito bonita na família tem sido causa de grandes aflições, sobretudo em tempos “sem rei nem lei”.

Mas como teria acontecido o fato mesmo? Eram conhecidas duas narrativas! Em vez de escolher uma delas, ou em vez de misturar as duas e fazer uma terceira, o sábio escriba que redigiu o Livro do Gênesis colocou o mesmo relato duas vezes, com variações. Assim nos ensina a não nos perdermos em pormenores, mas irmos direto ao assunto: como ninguém tem de ficar imaginando que a bênção de Deus é uma proteção mágica contra todo aborrecimento e problema!

Nestes dois relatos, aparece uma dificuldade para muitos leitores: Abraão teria mentido, quando afirmou que Sara era sua “irmã”? Na verdade ele “despistou”, porque as mulheres bem-amadas, noivas ou esposas, também eram chamadas de “irmãs”, como se lê, por exemplo no Cântico dos Cânticos: “Entro em meu jardim, minha irmã, minha noiva (…) Ouço bater o bem amado! Abre-me, minha irmã, minha amiga, minha pombinha toda formosa…” (Ct 5,1-2).

Do mesmo modo Lot, filho de Haram, irmão de Abraão, seu sobrinho, portanto (Gn 11,27-31), é, algumas vezes, chamado de “irmão” do Patriarca. Por exemplo: “E Abrão disse a Lot: ‘Não haja discórdia entre mim e ti, entre meus pastores e os teus, porque somos irmãos’…” (Gn 13,8).

Muito mais tarde, leitores apressados dos Evangelhos, têm ficado perturbados porque há referências a “irmãos e irmãs” de Jesus! Na verdade, sabemos até, pelo próprio texto bíblico que alguns que são nomeados, eram apenas aparentados, talvez primos, mas não eram filhos de Maria. Por exemplo, Joset e Tiago, filhos da “outra Maria” (Mt 13,55 e Mc 15,40). De Tiago também se diz, em outros lugares, que era “Ben Alfeu”, “filho Alfeu” (Mt 10,3 etc.). A palavra “irmão” ou “irmã” podia significar “irmão ou irmã de sangue”, mas também, simplesmente, “irmão ou irmã” da mesma “tribo” ou “clã”. A única pessoa que é apresentada nos Evangelhos e em todo Novo Testamento e em toda a tradição antiga como “filho de Maria” é Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

 

 

 

A promessa, a risada de Sara e o dom de Deus

 

É um relato bonito! Era a hora mais quente do dia, naquele país, à beira de grandes desertos! Imaginemos o chefe dos pastores, Abraão, repousando diante de sua tenda, à sombra de um grande carvalho (ver Gn 18,1-15). Ele viu três viajantes, a pé, chegando pela trilha. Imediatamente, foi ao encontro deles, e ofereceu-lhes hospitalidade! E que hospitalidade! Mandou Sara preparar bolos, escolheu, pessoalmente, um bezerro e mandou os empregados fazerem um bom assado. E o serviu com coalhada e leite fresco. Mais ainda: “Ficou de pé junto deles, sob a árvore, enquanto comiam!”.

 

Para resumir, o casal Sara e Abraão já ultrapassara da idade de ter filhos. Abraão tivera filhos com algumas concubinas, mas Sara parecia definitivamente estéril. Os 3 hóspedes, agradecidos, já de partida, chamaram Sara e disseram aos dois que dentro de um ano lhes nasceria um filho. Sara não conteve uma risada, pois como seria possível que “depois de idosa” viesse a “sentir prazer”! Com esta risada de ironia, falta de esperança e fé, Sara representa nossa humanidade descrente, que se acha muito “realista” quando acredita que “o mundo não tem jeito mesmo”, ou que “a Igreja está chegando ao fim”, ou que “chegamos a um beco sem saída”.

 

“Mas o Senhor disse a Abraão: ‘Existe coisa por demais maravilhosa para o Deus? Voltarei a ti no próximo ano, por este tempo, e Sara terá, então, um filho’ ”. Abraão confiou. No ano seguinte, o casal se alegraria com o nascimento de Isaac (Gn 21,1-7). Como viria a dizer o Arcanjo Gabriel a Maria, filha de Abraão: “A Deus nada é impossível!” (Lc 1,37).

 

No texto do capítulo 18 de Gênesis, no 1º versículo, está escrito: “O Senhor apareceu a Abraão…” No versículo seguinte, lemos: “(Abraão), tendo levantado os olhos, viu 3 homens…” Mais adiante, no versículo 9, são “os 3 homens” que chamam Sara, para que ela também ouvisse a promessa. Contudo, logo é dito: “O Senhor disse a Abraão…” Então, o texto usa ou Um por Três ou Três por Um! Por isso, muitos leitores cristãos, através dos séculos, têm visto aqui um anúncio da revelação, por Cristo, do Mistério da Trindade: Deus é um só em três Pessoas! “Em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” somos todos batizados!

 

 

 

Isaac: o Filho da Velhice e da Promessa (Gn 21-22)

 

“O Senhor visitou Sara – como havia dito – e cumpriu o que prometera” (Gn 21,9). Isaac nasceu como dom muito especial de Deus para aqueles pais cansados de esperar um filho próprio, “para cumprir o prometido” (Rm 21,11). O nascimento prodigioso é marca da intervenção livre e fecunda do Altíssimo: “Portanto a herança provém da fé. Comprova-se, então, que é por um dom gratuito que a promessa está garantida para toda a descendência” (Rm 4,16).

 

Em cada dia de nossas vidas, vemos o sol nascer e se pôr, as plantas florescerem e frutificarem… Então podemos esquecer Deus, ou até dizer que o mundo é o mundo e Deus não faz falta… As coisas acontecem porque acontecem. Então, quando a desesperança toma conta de nossos corações, o inesperado acontece: nasce uma criança de um ventre velho, ou… de uma Virgem! E – maravilha! – olhamos tudo com outros olhos e nossos corações acreditam de novo e vibram de esperança, agradecidos por tanto amor: “Abraão não se deixou levar pela incredulidade. Mas, fortalecido pela fé, deu glória a Deus, convicto de que Ele é poderoso também para cumprir o prometido” (Rm 4,20-21).

 

Corremos sempre o risco de achar que o dado é nosso e não cria nenhum laço de lealdade com o doador! É o risco da ingratidão, o contrário da “Eucaristia”, “a boa ação de graças”! Para educar nossa alma no reconhecimento da verdade, formando em nós corações gratos e contentes, Deus nos experimenta: “Purificarei como se purifica o ouro e a prata” (Zc 13,9). Por isso o Senhor chama Abraão para que lhe ofereça Isaac em sacrifício total (holocausto) no Monte Moriá (Gn 22,1). Abraão tem o coração apertado e confuso. Prepara tudo conforme os usos do seu tempo: não exigiam os ídolos dos povos vizinhos, os cananeus, que se queimassem vivos os primeiro nascidos? Mas seu coração também pressente que “oferecer um holocausto ao Senhor” será muito diferente. Por isso, na subida do monte, dá uma resposta inspirada ao filho, que lhe pergunta: “Pai, aqui estão fogo e lenha, mas onde se acha o cordeiro para o holocausto?” E Abraão responde, com fé somente na escuridão em que se move, quando o amor de Deus parece ter desaparecido: “Deus providenciará o cordeiro, meu filho” (Gn 22,8).

 

Bem sabemos como a terrível provação terminou: há um cordeiro nos espinheiros no alto do monte. Deus somente quer a entrega do coração, e rejeita sacrifícios humanos! Ele não é um ídolo, sequioso de aterrorizar seus adoradores, exigindo morte! Ele é o Deus dos vivos, não dos mortos (Lc 20,38). Hoje o Dinheiro, o Petróleo, a Água, a Terra, o Poder exigem opressão e guerras! São ídolos! Mas nós, filhos de Abraão, cremos no Deus da Vida! Cremos em Jesus, o Filho Único e Amado, verdadeiro Cordeiro de Deus, sacrificado no Monte Calvário!

 

 

 

Problemas de Lot

 

Já que falamos de Lot, vamos olhar de perto algumas dificuldades muito duras pelas quais passou este sobrinho de Abraão. Ele também é chamado de seu “irmão”, no sentido de “membro do mesmo clã”, isto é: membros da mesma grande família de migrantes de Haram, descendentes de Taré (Gn 11,31). No capitulo 14 do Livro do Gênesis, o Autor Sagrado relata uma memória do tempo quase esquecido de um rei chamado “Amrafel”, de “Elasar”,  aliado de “Codorlaomor, rei de Elam, e Tadal, rei de Sodoma, Bersa, rei de Gomorra, Senaab, rei de Adamã, Segor, rei de Bala” (Gn 14,1). Estes pequenos reinos se concentraram num vale fértil, “Sidim”, no sul do atual Mar Morto. Estes “reis” não passavam de pequenos senhores, que costumavam ir à guerra contra cidades e povos mais fracos para se enriquecerem com a pilhagem. Numa destas campanhas, perderam uma batalha decisiva, junto aos “poços de betume” (Gn 14,10). Entre os prisioneiros, levaram Lot, que já morava em Sodoma (Gn 13,12), cidade próspera, mas cujos habitantes “eram perversos e grandes pecadores contra o Senhor Deus” (Gn 13,13). E o pacífico pastor Abraão teve de armar sua gente para ir libertar o sobrinho (Gn 14,13-16)!

 

Lot talvez tivesse escolhido acampar nos arredores de Sodoma, para atender sua mulher, que gostava de estar perto de uma cidade, do mercado, da vida mais ativa e colorida. Quando Sodoma e Gomorra e as outras cidades do fértil vale, foram engolidas por um tremendo cataclismo, que a Bíblia atribui ao castigo de Deus, por causa de seus muitos e graves pecados, Lot teve a oportunidade de escapar. Mas sua mulher, possivelmente saudosa das coisas que tinha deixado para trás na fuga, demorou-se olhando para trás, foi pega pela maré de enxofre e cinza e transformada em “estátua de sal” (ver Gn 19).

 

O curioso é que esta história era tida mais como “estória”, metáfora ou lenda, até que os arqueólogos descobriram a biblioteca do rei de Ebla, enterrada nas areias do deserto da Síria. Esta “biblioteca” era mais um arquivo comercial. Ora, nela foram encontrados os nomes das cidades pecadoras, como parceiras comerciais! Assim, vários pesquisadores conservam a mente aberta para a possibilidade de que a catástrofe vulcânica que engoliu as cidades tenha sido um episódio histórico (se você quiser ler alguma coisa accessível sobre estes achados, consulte http://pt.wikipedia.org/wiki/Ebla).

 

Nós costumamos a interpretar os fenômenos naturais como “coisas que acontecem”, e achamos o Autor bíblico muito “antiquado” para falar de castigo de Deus num episódio vulcânico. Mas, na verdade, quem constrói sua casa sobre a areia terá um dia terá de vê-la desabando. Quem mora numa região sujeita a terremotos e erupções, sendo muito apegado a seus bens, e muito ocupado para reparar nos “sinais dos tempos”, sem dúvida terá grandes desgostos e até perderá a própria vida. O Livro do Gênesis menciona os “poços de betume”. Estes poços já mostravam que a região não era tão paradisíaca, quanto parecia aos moradores do Vale de Sitim. Também temos o caso bem estudado da cidade romana de Pompéia, quando os avisos do vulcão Vesúvio foram ignorados por dias. Deste modo a erupção principal aniquilou a cidade. Se nossos corações se prenderem a nossos bens materiais, preferimos nos entregar a um otimismo perigoso, que fecha nossos olhos.

 

Jesus nos fala: “Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que chegou o tempo de sua ruína. Então, os que estiverem na Judéia refugiem-se nas montanhas. Os que estiverem na cidade afastem-se dela. Os que estiverem nos campos não voltem para casa. Porque esses dias serão de castigo, em que tudo quanto foi escrito deve se cumprir…” (Lc 21,21-22). Não é prudente imitar a mulher de Lot e ficar olhando para nossos bens materiais, ignorando os sinais dos tempos! Peçamos a graça de usarmos os bens deste mundo sem nos grudarmos a eles!

 

 

 

Isaac, filho de Abraão, pai de Jacó

 

Isaac não surge a nossos olhos de leitores da Bíblia como uma grande personalidade. Tudo indica que foi um pastor pacífico, em contraste com a vida aventurosa que o Livro do Gênesis parece atribuir a seu pai. Digo “parece” porque os antigos, para facilitar a memória dos narradores em torno da fogueira nas noites calmas, atribuíam a um personagem toda uma série de acontecimentos. Assim procedem ainda muitos povos de nossos dias, que não têm cultura escrita. Podemos dizer que “Abraão”, além de ser uma pessoa, pai de um povo, se tornou o nome de um ciclo histórico. As lembranças daquele tempo foram como que “classificadas” sob seu nome.

 

Nos relatos sobre Isaac, há um fato entristecedor: por causa dos ciúmes de Sara, a concubina Agar, foi mandada embora com o pequeno Ismael, também filho de Abraão! A Providência socorreu, como socorre tanta mãe solteira de todos os tempos, e Ismael se tornou o antepassado dos povos da Arábia. Ismael deixou fama de bom caçador e hábil no arco e flecha. O nome de “Isaac” provavelmente significa “ele ri”. Lembraria o riso de Abraão (Gn 17,17-18) e de Sara (Gn 18,11-15)… O nome de “Ismael”, seu irmão por parte de pai, é mais bonito! Significaria “Que El, Deus, escute!”. Estes relatos (Gn 16.17 e 21) mostram que os antigos narradores de Israel reconheciam um laço de família com os nômades do deserto, às vezes, assaltantes, às vezes comerciantes, como os que compraram José, filho de Jacó, como escravo (Gn 37,25-28 e 39,1).

 

O “ciclo” de Isaac é “fraco”. Suas lembranças ou estão ligadas ainda ao grande vulto de Abraão, ou estão já misturadas às histórias de Jacó, ou parecem apenas reflexos de narrativas do “tempo de Abraão” (Gn 26). Os redatores do Livro do Gênesis só contaram com memórias fugidias para falar do patriarca. Muito mais tarde, o Autor do Eclesiástico, num poema em que faz o elogio dos antepassados, apenas menciona Isaac (Eclo 44,22). Já São Paulo vê em Isaac, descendente biológico de Abraão, mas “filho da promessa” divina, uma imagem anunciando a Igreja nascida pela fé entre os “gentios”, os não judeus. Na Carta aos Hebreus, lemos: “Pela fé, (Abraão) morou debaixo de tendas com Isaac e Jacó, herdeiros da mesma promessa de Deus… Foi também pela fé que Sara, embora estéril, recebeu o poder de ter um filho… Foi pela fé, que Abraão, submetido à prova, ofereceu Isaac em sacrifício. Era seu filho único, que assim oferecia aquele que era o depositário da promessa. Deus lhe havia dito: ‘É pela linha de Isaac que terás uma descendência. Pensava, na verdade, que Deus tem o poder até de ressuscitar alguém dos mortos. Por isso é que ele recuperou seu filho, o que é um fato simbólico” (Hb 11,9-19). Assim o “apagado” Isaac aparece como um reflexo do Pai Eterno que nos deu seu Único, pregado na Cruz por seu Amor até o fim (Jo 13,1)!

 

Rebeca, a admirável (Gn 24-25)!

Abraão, como todo bom pai até bem pouco tempo, devia encontrar uma boa esposa para o Filho da Promessa, Isaac. Encarregou um servidor de confiança a encontrar, com auxílio de Deus, uma jovem para casar com seu filho único. Podemos vê-la, com os olhos da imaginação, esbelta e forte como uma palmeira, tirando água para dar de beber ao rebanho, tão hospitaleira e decidida, dando de beber também ao viajante e a seus animais. O servidor do Patriarca Abraão achou que aquela jovem era a pessoa indicada para os grandes propósitos do patrão. Ficou confirmado, quando ficou sabendo que ela era filha de Nacor, da parentela do próprio Abraão, da família do Abençoado! Se estivéssemos lá poderíamos dizer: “O mundo é pequeno, não?”. Ou então exclamarmos: “Que coincidência!”. Mas, pensando bem, não foi coincidência, obra do acaso, mas providência, obra do Senhor! Foi resposta à esperança de Abraão e à oração de seu servidor: “Senhor, Deus de meu amo, Abraão, propicia-me um encontro e agracia meu amo, Abraão!” (Gn 24,12).

Na despedida, os familiares de Rebeca a abençoaram com palavras convencionais, mais ou menos como nossos votos de boa viagem a alguém: “Tu, ó nossa irmã, multiplica-te mil vezes mil!” (Gn 24,60). Nem por sombras lhes passou pela cabeça que mais de cem versículos da Bíblia falariam da formosa parenta! E não só formosa, mas independente e decidida! Vocês sabem que Rebeca teve gêmeos com Isaac: Esaú e Jacó. Esaú, corajoso, amigo de andar pelos lugares selvagens caçando, capaz de trocar seus direitos de primeiro nascido por uma fumegante sopa de lentilhas (Gn 25,29-34)! Rebeca achou que a família e seu futuro não podiam ser confiados ao filho que saíra primeiro do seu ventre, com o irmãozinho agarrado no seu pé (Gn 25,26). Com uma “cuca fresca” daquelas, ele não seria responsável pela bênção do Senhor Deus. Então, na hora certa, no momento exato, ela resolveu desafiar a tradição, e mudar a história: levou Jacó a enganar o velho e quase cego Isaac e apoderar-se da bênção (Gn 27,1-29), que já era sua desde o episódio da sopa de lentilhas. Esaú também ganhou uma bênção (Gn 27,30-41), mas aquela bênção da promessa, a bênção de “uma descendência mais numerosa do que as estrelas do céu e os grãos de areia das praias do mar” (Gn 22,15-18), a bênção que chegou até nós, passou por Jacó, que viria a ser chamado “Israel”!

E aqui vai uma receita judaica, que me foi passada com o nome de “Sopa de Esaú”:

Ingredientes

350 grs de lentilhas; 2 cebolas; 2 colheres de sopa de azeite de oliva; salsinha, hortelã, cebolinha verde (à vontade); 70 gr de massa de tomate; 1 colher de café de páprica (ou um pouco de pimenta à gosto); sal, à gosto

Modo de preparar

Lavar e deixar escorrer as lentilhas. Cortar as 2 cebolas em fatias bem finas e dourá-las no azeite. Ajuntar as lentilhas, misturando bem. Encher a panela de água com um dedo e meio acima das lentilhas e deixar ferver. Colocar as ervas. Baixar o fogo e cobrir em parte. Deixar cozinhar cerca de 20 minutos. Quando as ervilhas amolecerem e o caldo engrossar, juntar a massa de tomate, a pimenta e o sal. Deixar mais 15 minutos no fogo brando. Servir quente.

Podem confiar! Já experimentei! Bom apetite!

 

O jovem Jacó e sua esperta família

Há famílias de médicos e famílias de lavradores ou de comerciante. E há famílias de gente esperta! Assim era a família da espertíssima Rebeca! Quando aquele rapaz, coberto de poeira, sozinho, sem presentes finos chegou como parente pobre para pedir uma de suas filhas em casamento, o esperto Labão não o mandou de volta. Calculou que poderia aproveitar a mão de obra de um sujeito jovem e forte, que mostrara coragem e habilidade ao percorreu meio Oriente, desde Bersabé, nos limites do deserto do Sinai, até ao norte do país dos dois rios, a Mesopotâmia, região que, hoje, é província setentrional do Iraque. Ainda mais que Jacó se mostrava visivelmente encantado com os graciosos olhos e magnífica silhueta de Raquel, a sua filha mais moça. Fizeram um contrato: por sete anos o rapaz trabalharia como pastor. E diz o narrador bíblico: “Jacó serviu sete anos por Raquel, e estes lhe pareceram poucos dias, de tal modo a amava!” (Gn 29,20).

 

Chegou o dia feliz do “casório”! Somente que, o esperto Labão, entregou para a noite de núpcias, devidamente velada no escuro da tenda, a filha mais velha, Lia, a de olhos sem graça! Se Jacó quisesse também Raquel, no fim de uma semana, teria de ajustar mais sete anos de trabalho! Jacó conformou-se, recebeu Raquel como esposa depois da semana de “lua de mel” com Lia, e ainda ganhou um bônus: a concubina Bala. Labão, bom chefe de tribo, sabia do valor de numerosos filhos e filhas naqueles tempos e lugares! Deixemos um pouco de lado as histórias conjugais de Jacó, para ver como ele foi aprendendo a ser também bom de negócios, com o exemplo do querido sogro!

 

Jacó fez que ia embora, de volta às tendas de Isaac… Labão teve receio de perder a colaboração de tão prestativo genro, e, além disso, tão despretensioso, porque pediu como paga por um novo período de serviço, apenas as crias malhadas dos rebanhos de ovelhas e cabras do amigo sogro! Eram exceções, raridades quase! Conta a Bíblia – e não sei se os zoólogos concordam – que Jacó, bom observador da natureza, teria colocado varas habilmente descascadas, de modo a ficarem listradas, diante dos olhos das cabras e ovelhas prenhes, e elas davam um número extra de crias malhadas! E só colocava as varas diante dos animais robustos: “Deste modo, as crias débeis ficavam para Labão e as robustas para Jacó. E ele se tornou riquíssimo, e teve rebanhos em quantidade, servos e servas, camelos e jumentos” (Gn 30.42-43).

 

Se houvesse um brasileiro por lá, naqueles dias tão distantes, talvez se lembrasse de um ditado que diz: “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”!

 

Jacó vira Israel!

Tendo progredido, dono de seus próprios rebanhos, com duas esposas e mais concubinas, um pequeno e promissor “rebanho” de filhos também, Jacó se despediu de Labão, de volta para junto das tendas de Isaac. Estava preocupado com a vingança de Esaú, e lhe enviou recados: “Eis a mensagem de teu servo Jacó: ‘Fui hóspede na casa de Labão e lá morei até agora. Adquiri bois e jumentos, rebanhos, servos e servas. Quis mandar notícia disto a meu senhor para obter sua benevolência” (Gn 32,6).

Jacó, porém, teve toda razão de se assustar quando soube que Esaú vinha de seus acampamentos nas montanhas de Edom com 400 homens a seu encontro: “Jacó teve grande medo e a angústia o assaltou”. Tomou algumas providências práticas, e, em particular, rezou: “Deus de meu pai Abraão e de meu pai Isaac, Senhor, que me ordenaste: ‘Volta para o teu país, a tua pátria, que eu te serei favorável’. Sou indigno de todos os favores e de toda a bondade que mostraste a este teu servo. Não tinha nada além do meu bastão, ao atravessar o Jordão e eis que torno como dois acampamentos. Salva-me das mãos de Esaú…” (Gn 32,10-13).

No dia seguinte, Jacó separou um bom presente de animais enviando um rico donativo ao irmão. E, de noite, fez sua família atravessar o rio Jaboc, afluente do Jordão pela margem esquerda. Ficou sozinho, talvez querendo rezar. Afinal teria a consciência pesada por ter enganado seu pai Isaac, aceitando a tramóia de sua decidida mãe, Rebeca. Mas não teve uma noite de “paz pela oração”. Pelo contrário! Foi uma noite de luta: “Jacó ficou só. Alguém lutou contra ele até o despontar da aurora. Vendo que não podia dominá-lo, tocou-lhe a articulação do quadril e a articulação da coxa de Jacó se deslocou, enquanto lutava. Disse o personagem: ‘Larga-me, porque já desponta a aurora!’. Respondeu Jacó: ‘Não te largarei, se não me deres a bênção!’. Ele perguntou: ‘Qual é o teu nome?’. Jacó respondeu: ‘Jacó’…”

Até agora nos tinha sido apresentado um Jacó esperto, chegando a espertalhão, calculista e com medo diante das consequências de suas manobras da primeira juventude. Agora o narrador nos mostra uma conversão: ele tem uma experiência solitária de luta. Teve de se defender de um agressor desconhecido toda uma noite! Mas pressente que esta não é uma luta contra um assaltante comum. Havia algo de solene e espantoso naquela briga no escuro da noite, naquele momento de sua vida. Mas do que uma prova de força, pareceu-lhe ter vivido uma iniciação. Iniciação a quê? Ela não sabia, mas sua intuição o leva a pedir a bênção ao estranho…

A luta terminou. Um golpe do adversário fez Jacó ficar manco para o resto da vida. Mas o ser misterioso o abençoou e mudou seu nome: ele se tornou “Israel”, não apenas o chefe de uma família, mas pai de um povo.

Mais adiante Esaú veio a seu encontro, sem desejos de vingança, mas com fraterna amizade. Jacó Israel continuou, até montar suas tendas e começar, com suas mulheres e filhos, uma nova etapa de vida.

 

A história de José, parecido com Cristo pelo perdão!

José era o filho mais velho de Raquel, a doce amada de Jacó, pela qual trabalhou 14 anos para enriquecer seu sogro, Labão, que lhe tinha imposto a filha mais velha, Lia, como esposa, antes de lhe dar a mão de Raquel. José cresceu filho preferido, porque a mãe morreu no parto de Benjamim, e Jacó o via como lembrança preciosa de sua querida. Esta predileção foi a desgraça de José, que cresceu petulante, delator dos irmãos, detestado por eles. Todos lembramos como eles, cada vez mais provocados e enciumados, acabaram por vendê-lo como escravo. O dono de José o levou ao Egito e o vendeu a uma casa rica, de Putifar, alto funcionário do Faraó. Prosperando na casa do egípcio, José viu o castelo de cartas de sua “grandeza” ruir, pois sua bela aparência despertou a paixão da patroa. Ele foi leal a seu amo, mas terminou entregue aos campos de trabalho forçado do Faraó (Gn 38 e 39).

Todos conhecemos como ele terminou auxiliar do chefe da prisão, como interpretou os sonhos de dois prisioneiros, servidores pessoais do Faraó, acabou chamado a palácio para interpretar um sonho que agoniava Sua Majestade, e tornou-se o ministro, o provedor do Egito (Gn 40 e 41).

Tudo muito bonito! Linda história do pobre que sofre, aprende a ser humilde e sábio, e termina “coberto de ouro”. Mas o que faz José parecido com Cristo foi um momento de sua vida de grande fidalgo da corte! Informado de que seus irmãos vinham buscar trigo no Egito, quando havia grande fome naquelas regiões, ele não se deu a conhecer, mas os provou, até ter certeza de que o pai vivia e de que eles estavam mudados. Então se deu a conhecer, magnífico no perdão! Entre lágrimas se revelou, dizendo-lhes: “Eu sou José, vosso irmão, que vendeste para o Egito! Mas não fiqueis aflitos (…), pois foi para preservar vossas vidas que o Senhor me mandou para cá adiante de vós, para garantir-vos um resto na terra e vos guardar a vida para um grande Êxodo” (Gn 45, 4-7).

 

Jacó: seus filhos, seus problema

 

Não foi só com a perda de José, que dava por morto, que Jacó sofreu. O povo diz, com muita razão: “Filhos criados, cuidados dobrados”. Jacó foi armar suas tendas perto da cidade de Siquém, num campo que comprou. Tudo parecia correr no melhor dos mundos, quando um príncipe local se encantou com a graciosidade de Dina e a seduziu. Depois quis casar, mas o orgulho do clã de Jacó estava ferido. Simeão e Levi, irmãos de Dina por parte do pai, Jacó, e de Lia, a filha mais velha de Labão, decidiram vingar-se. Foram excessivos na sua raiva. Fingiram aceitar o casamento com uma condição: os homens locais deveriam ser circuncidados. Ora, o corte da pele do prepúcio em adultos é muito dolorido, e pode causar infecção e febre. Nestas circunstâncias, os dois irmãos conseguiram chaciná-los, com tanta ferocidade, que espantou o pai. Ele lhes disse: “Colocaste-me em má situação! Tornaste-me odioso aos habitantes deste país! Tenho pouca gente, e se eles se unirem contra mim serei destruído com toda minha família!”. E Jacó foi obrigado a levantar acampamento (Gn 34).

Outra tremenda tristeza do clã de Jacó foi quando Rubens, o mais velho, se apaixonou por Balá, concubina do pai, e dormiu com ela (Gn 35,21). Eram dramas de uma família constituída na base da poligamia. Mais tarde, haveriam de se repetir também na história de Davi. Rubens perdeu o direito à bênção da família por causa disto: o Messias não nasceria de seu ramo!

Esta bênção viria a ser derramada sobre Judá, que, contudo, tinha seus pecados. Era um homem dado a mulheres. Teve filhos com uma cananéia. O mais velho, Er, foi dado em casamento a Tamar, também cananéia. Mas morreu sem lhe ter dado filhos. Judá obrigou o segundo filho, Onã, a desposá-la, para que “assegurasse uma descendência” ao irmão falecido, como era costume. Omã, porém, agiu de má fé com Tamar e o Senhor “o fez morrer também” (Gn 37,1).

Tamar, mulher decidida, resolveu, então, aproveitar-se do fraco de Judá por mulheres, disfarçou-se de prostituta e gerou um filho do seu sogro! Quando o clã quis apedrejá-la por ser mãe solteira, ela apresentou provas de que o pai de seu filho era o próprio Judá, que reconheceu: “Esta mulher é mais honesta do que eu, porque recusei a dar-lhe como esposo meu outro filho, Selá”. Tamar teve gêmeos. O primeiro que saiu de seu ventre se chamou “Farés” e seu irmão, Zara (Gn 37,29). Farés foi incluído por São Mateus na genealogia de Jesus, citado com seu gêmeo, Zara (Mt 1,3). Assim Tamar entrou na galeria das mulheres de todos os tempos que não aceitam um papel secundário e se tornam personalidades da história humana.

 

A BÊNÇÃO DE JACÓ, BÊNÇÃO FIEL DE DEUS

José, amigo do Faraó, servidor dos planos de Deus, trouxe a família, afligida por uma grande carestia, para umas boas terras de pastagens na região entre o delta do Nilo e o deserto do Sinai. Deve ter sido um choque de alegria e de surpresa para o velho Pai reencontrar o amado filho vestido como um rico e poderoso egípcio, com seus guardas, criados e carro folheado a ouro, puxado por belos cavalos.

Jacó estava fortificado por uma consolação especial. O Senhor lhe tinha dito: “Não tenhas medo de descer ao Egito, pois ali farei de ti uma grande nação”. Deus sendo Pai nosso, ainda disse alguma coisa que foi mais direto ainda ao coração do velho pastor: “Será José quem há de te fechar os olhos” (Gn 46,4).

Podemos nos divertir perguntando como José levou Jacó e os irmãos a Tebas, para apresentá-los a Faraó e como terá sido a nova vida nas boas pastagens do país do rio Nilo. Mas o que tanto interessou a eles podemos deixar facilmente de lado, para ir ao que interessou a eles e a nós também: as bênçãos de Jacó na sua última hora (Gn 49).

Com um pouco de imaginação podemos imaginar os doze em redor dos tapetes e almofadas em que o Patriarca estava estendido, bem cuidado em sua bela tenda. Afinal ele era o paizinho do Provedor do Egito, o rico José. Jacó começou pelo mais velho, filho de Lia, a primeira esposa. Mas Rubem tinha seu pecado: “Subiste ao leito de teu pai e o profanaste!”. Em seguida, os dois outros de Lia: Simeão e Levi foram repreendidos: “Maldita sua ira porque cruel”. E aí, chegando a vez de Judá, o outro filho de Lia, Jacó rompeu num elogio inesperado. Judá foi chamado de “filhote de leão”: “Os teus irmãos se prostrarão diante de ti! O cetro não sairá de Judá, nem o bastão de comando de suas mãos até que venha Aquele a quem pertencem e a Este obedecerão os povos!”.

Nem José recebeu uma bênção assim! Jacó se derramou em palavras carinhosas para o filho mais velho da linda Raquel e chamou seu pacífico irmão mais moço, Benjamim, de “lobo que dilacera”. Jacó acabou dando uma ampla e generosa bênção a todos os doze, mesmo aos que repreendera severamente para que tomassem juízo e vigiassem a consequência de seus atos impensados. Mas a bênção de ser antepassado do Senhor das nações, do Messias (o Ungido), Jesus, ficou com Judá! Quem diria!

Deus Sabedoria, vai escrevendo certo em nossas linhas tortas. Nossos antepassados não foram nem piores nem melhores do que nós. Mas nas bênçãos de Jacó, podemos, nos nossos dias, reconhecer a bênção fiel de Deus, Pai Amoroso, que nos chegou em Jesus, o Filho Amado, na bondade e beleza do Santo Espírito.

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Caminhando com Ele, com Cristo, é uma Revista de Espiritualidade, fruto da insistência amiga, quando deixei de ser o encarregado do “site”de Itaici, Vila Kostka, em dezembro de 2008.
Sou o Padre Jesuíta Raul Pache de Paiva, SJ, conhecido simplesmente como “Pe. Paiva”.
Nasci no Rio de Janeiro e tenho andado por muitos lugares e países. Talvez os mais distantes foram Austrália e Nova Zelândia.
No Brasil, conheci bem os sertões de Minas e Bahia, Marajó da floresta inundada e tenho ido a quase todos os Estados. Trabalhei em educação, também universitária, e dou cursos e retiros (em particular, conforme Santo Inácio de Loyola e seus “Exercícios Espirituais”).
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