Pai misericordioso
A interpretação de santidade como perfeição tem suas Raízes nesta frase:
“Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito” (Mt 5, 48).
Não podemos confundir santidade e perfeição, com o mesmo sentido que a palavra perfeição tem aos nossos ouvidos hoje.
Assim sendo, somos levados a uma eterna insatisfação conosco mesmos, porque na medida em que avançamos na vida, percebemos que cada dia somos mais imperfeitos. Isto nos leva a desistirmos da santidade e nos fecharmos, e não mais ouvir o apelo de Deus.
Confirmo o que foi dito com o que se deu comigo na minha infância… Desde pequena fui sempre atraída pela espiritualidade, pelas coisas de Deus, de agradá-lo, no fundo no fundo era o meu desejo de ser santa.
Lia o Evangelho e uma frase que ficou fortemente gravada em minha memória foi esta: “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito” (Mt 5, 48). Em meu raciocínio infantil, no silêncio de meu coração refletia: Ser perfeita, isto é impossível para mim, só Deus é perfeito… Eu nunca vou alcançar isso, sou fraca e cheia de limitações e defeitos. Só Deus mesmo… E com isso meu elã esmorecia…
Se assim acontecia comigo, criança entre sete e oito anos, imagino que, com muito mais razão, isto deve acontecer com as pessoas adultas sem grandes conhecimentos religiosos.
Um texto bem mais animador é o que nos é proposto pelo Levítico 19, 2:
“Sede Santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”.
No decorrer deste capítulo, o Senhor nos aponta um belo e exigente programa de crescimento na santidade. Já no Antigo Testamento, o ser humano é convidado e estimulado a melhorar seu comportamento e atitudes. Procure ler Lev 19 , 2 ss .
Outra fonte motivadora, vem do texto de Lc 6, 36 – 38, em que a Palavra de Deus nos apresenta um novo programa: “Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso”. Em Latim: Miseri, miserável, + cor = coração, dare , dar. Dar o coração ao miserável. Este programa nos apresenta dicas claras e exigentes, possíveis de realização para todos os que se propõem a trilhar os caminhos de Deus. Leia Lc 6, 27 – 42.
A mim, me parecem bem mais animadoras e incentivadoras estas duas propostas do que conotação dada à primeira, não que não seja válida, mas a conotação dada à palavra “perfeição” segundo o Antigo Testamento, não é atributo de Deus. Em nenhuma ocasião no A.T. chama Deus de “perfeito”. Chama-o de “Santo”.
Ao afirmar “sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito”, Mateus estaria projetando em Deus uma qualidade propriamente humana. Mateus nos convida a imitar em Deus uma qualidade que não é propriamente divina, mas que é a projeção em Deus de um ideal humano.
O texto de Mateus, ”Sede perfeitos…” liga-se com o texto precedente Mt 5, 43-47. que fala precisamente do AMOR sem limites do Pai que faz nascer o sol sobre maus e bons, e cair a chuva sobre justos e injustos.
Podemos assim concluir: o discípulo deve ser perfeito no “amor” como o Pai Celeste é perfeito no amor.
Ir. Teresa Cristina Potrick, ISJ
( Um livrinho muito bom que poderá ajudar aqueles que desejam se aprofundar neste assunto é: – Perfeição e Santidade – José Neto de Oliveira, SJ Ed. Loyola ).