O Sinal da Cruz *
O gesto fundamental da oração do cristão é, e permanece, o Sinal da Cruz. É uma profissão expressa, por meio do corpo, de fé em Cristo Crucificado, segundo as palavras programáticas de Paulo: “Nós, pelo contrário, anunciamos um Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. No entanto, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, para os escolhidos, quer judeus, quer gregos” (1Cor 1,23-24). E mais ainda: “Entre vós, eu não quis saber de nada, a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1Cor 2,2).
(…) O Sinal da Cruz é uma profissão de fé: eu creio n’Aquele que sofreu por mim e ressuscitou. N’Aquele que transformou o sinal de escândalo em sinal de esperança e do amor de Deus presente em nós.
A profissão de fé é uma profissão de esperança: creio n’Aquele que, em sua fraqueza é o Onipotente. N’Aquele que, exatamente, na aparente ausência e extrema fraqueza, pode me salvar e me salvará.
No momento em que fazemos o Sinal da Cruz em nós, nós nos colocamos sob a proteção da Cruz. Nós a colocamos diante de nós como um escudo que nos protege nas tribulações de nossos dias e nos dá coragem para seguir adiante. Nós a tomamos como um sinal que nos aponta o caminho a seguir: “Se alguém que me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). A cruz nos mostra o caminho da vida: o seguimento de Cristo.
Ligamos o Sinal da Cruz como a profissão de fé no Deus Trindade: Pai e Filho e Espírito Santo. Ele se torna, assim, lembrança do Batismo, de modo mais claro ainda se for acompanhado do uso da água benta.
A Cruz é um sinal da Paixão, e, ao mesmo tempo, também um sinal da Ressurreição. Ela é, por assim dizer, o bastão da salvação que Deus nos estende, a ponte pela qual transpomos o abismo da morte e todas as ameaças do mal, e podemos, finalmente, chegar até Ele.
(…) Façamos em nós o Sinal da Cruz, e entremos assim no poder bendizente de Jesus Cristo. Tracemos este Sinal sobre as pessoas para as quais desejamos a bênção. Tracemos também sobre as coisas que nos acompanham na vida e que queremos receber novas pela mão de Jesus Cristo. Por meio da cruz podemos nos tornar bendizentes uns para com os outros.
Pessoalmente, nunca esquecerei com que devoção e fervor interior meu pai e minha mãe nos marcavam, ainda crianças, com água benta, traçando em nós o Sinal da Cruz, se tínhamos de sair, especialmente quando se tratava de uma ausência particularmente mais longa
(…) Abençoar é um gesto sacerdotal. Naquele Sinal da Cruz percebíamos o sacerdócio de nossos pais.
Penso que este gesto de abençoar, como plena e benévola expressão do sacerdócio universal, deve voltar com força a fazer parte da vida cotidiana e impregná-la com a energia do amor que vem do Senhor.
* Bento XVI, “Introdução ao Espírito da Liturgia”, Loyola / SP, pp147-153)