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Ajoelhar-se: um ato de comunhão com Cristo

Ajoelhar-se

 

Extraído de “Introdução ao espírito da liturgia” por Joseph Ratzinger – Bento XVI, Loyola /SP, pp 153-161

 

Ajoelhar-se (prostrar-se)

Existem ambientes de notável influência, que procuram nos convencer que não é necessário ajoelharmo-nos. Dizem que esse gesto não se adapta a nossa cultura (mas a qual, então?), que não convém ao ser humano maduro, que vai ao encontro de Deus em pé, ou mesmo que não condiz com o homem redimido, o qual, por meio de Cristo, se tornou uma pessoa livre e que, exatamente por isso, não precisa mais se ajoelhar.

Se olharmos para história, poderemos observar que gregos e romanos rejeitavam o gesto de ajoelhar-se. Diante de deuses cavilosos e divididos, apresentados pelo mito, essa atitude era, sem dúvida, justificada.: era bastante óbvio que aqueles deuses não eram Deus, ainda que na dependência de seu poder volúvel, se devesse suplicar os seus favores. Dizia-se que ajoelhar-se era coisa indigna de homens livres, em discordância com a cultura da Grécia: era uma posição condizente com os bárbaros.

Plutarco e Teofrasto definem o ato de ajoelhar-se como expressando superstição. Aristóteles fala de uma atitude “bárbara (“Retórica” 1361-1363). Agostinho, em contrapartida, o justifica: os falsos deuses não seriam mais que máscaras do demônio, que submetem o ser humano à adoração do dinheiro e do próprio egoísmo, tornando-os assim “servis” e supersticiosos. A humildade de Cristo e seu amor, que chegou ao extremo da Cruz – prossegue Agostinho – nos libertou desses poderes, e é, diante dessa humildade que nós nos ajoelhamos.

Com efeito, o ato de se ajoelhar, próprio dos cristãos, não se situa como uma forma de enculturação em costumes preexistentes, mas, pelo contrário, é expressão da cultura cristã, que transforma a cultura existente, a partir de um novo e mais profundo conhecimento e experiência de Deus.

O ato de ajoelhar-se não provém de uma cultura qualquer, mas da Bíblia e de sua experiência de Deus. A importância central que o ajoelhar-se tem na Bíblia pode ser deduzida do fato de que, apenas no Novo Testamento, a palavra “prosknein” (prostrar-se) aparece 59 vezes, das quais 24 vezes no Apocalipse, o livro da liturgia celeste, que seria apresentado pela Igreja como modelo e critério para sua liturgia.

Observando mais atentamente podemos distinguir três atitudes, intimamente aparentadas entre si. A primeira é a “prostratio” (prostração), deitar-se ao chão, diante do poder predominante de Deus. Em seguida, particularmente no Novo Testamento, o cair aos pés. E, finalmente, o ajoelhar-se. As três atitudes nem sempre são fáceis de distinguir, até no aspecto linguístico. Podem ligar-se entre si e até se sobreporem uma à outra.

(…)

Lucas, no entanto, em sua obra inteira – Evangelho e Atos dos Apóstolos – é, de modo particular, o teólogo da oração de joelhos, narra que Jesus rezava de joelhos. Como invocação introdutória da Paixão, essa oração é exemplar, tanto no que se refere ao gesto, quanto ao conteúdo. Os gestos: Jesus assume a queda do ser humano, se deixa cair em sua caducidade, ora ao Pai no mais profundo abismo da solidão e da necessidade humanas. Repõe sua vontade na Vontade do Pai: não a minha vontade, mais a Vossa. Repõe a vontade humana na vontade divina. Assume toda a negação da vontade do homem e a sofre com seu padecimento. Precisamente em uniformizar a vontade humana à vontade divina se situa o coração da Redenção.

Com efeito, a queda do ser humano se apoia na contradição das vontades, na oposição da vontade humana à vontade divina, que o tentador do homem faz passar, enganosamente, como condição de sua liberdade. Somente a vontade autônoma, que não se submete a nenhuma outra vontade, seria, segundo ele, liberdade, mas o seu fundamento e a sua condição de chance. Somente permanecendo na Vontade de Deus, a nossa vontade se torna verdadeira vontade e é, realmente, livre.

O sofrimento e a luta no Horto das Oliveiras é a luta por essa vontade libertadora, pela unidade daquilo que está dividido, pela união que é a comunhão de Deus. Compreendemos assim que, nessa passagem, também se encontra a invocação do amor do Filho: Pai, Abá (Mc 14,36). Paulo vê, nesse grito, a oração que o Espírito Santo põe em nossos lábios (Rm 8,15; Gl 4,6) e ancora, assim, nossa oração espiritual à oração do Senhor no Horto das Oliveiras.

(…)

Quando ajoelhar-se vira pura exteriorização, simples ato corporal, ele se torna sem sentido. Quando a adoração se reduz unicamente à dimensão espiritual sem encarnação, o ato de adoração se esvai, porque a espiritualidade pura não exprime a essência do ser humano. A adoração é um daqueles atos fundamentais que envolvem o ser humano por inteiro. Por isso, dobrar os joelhos na presença de Deus Vivo é indispensável.

(…)

Os Atos dos Apóstolos narram a oração de joelhos de São Pedro (9,40), de São Paulo (20,36) e de toda a comunidade cristã (21,5) … De joelhos, Estêvão assume a oração do Cristo crucificado: “Senhor, não os responsabilizes por este pecado” (At 7,60) …

A passagem mais importante sobre a teologia do ajoelhar-se é, a meu ver, o grande hino cristológico de Filipenses 2,6-11. Nesse hino, anterior a São Paulo, escutamos e vemos a oração da Igreja apostólica e reconhecemos sua profissão de fé. Também ouvimos a voz do Apóstolo, que entrou nessa oração e no-la transmitiu. Mais uma vez voltamos a perceber a profunda unidade interior do Antigo e do Novo Testamento, bem como a amplitude cósmica da Fé cristã.

O hino nos apresenta Cristo em oposição ao primeiro Adão: enquanto este busca alcançar a divindade por suas próprias forças, Cristo não considera “um tesouro a ser bem guardado” a divindade, que, aliás lhe é própria, mas se humilha até à morte de cruz.

Exatamente essa humildade, que vem do amor, é o propriamente divino e lhe confere “o Nome que está acima de todos os nomes”, “para que todos, no céu, na terra e debaixo da terra, dobrem seus joelhos diante do Nome de Jesus”.

O hino da Igreja apostólica retoma, aqui, a palavra profética de Isaías 45,23: “Juro por Mim mesmo, de Minha boca sai verdade, uma palavra irrevogável: diante de Mim se dobrará todo joelho”…

Quero acrescentar apenas uma observação. A expressão com a qual São Lucas descreve o ato de ajoelhar-se dos cristãos – “theis ta gonata” – é desconhecida no grego clássico. Trata-se de palavra especificamente cristã…

Pode parecer verdade que o ajoelhar-se é estranho na cultura moderna – exatamente na medida em que se trata de uma cultura que se afastou da fé e que não consegue ficar mais diante d’Aquele perante o qual ajoelhar-se é o gesto correto, antes o gesto interiormente necessário.

Quem aprende a crer aprende a joelhar-se. Uma fé ou uma liturgia que não conhecem mais o ato de ajoelhar-se estão doentes, no ponto primordial. Lá, onde este gesto se perdeu, é preciso reaprendê-lo, para poder permanecer, com a nossa oração, em comunhão com os Apóstolos e Mártires, com todo o cosmos, em unidade com Jesus Cristo.

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Nossa missão neste site:

Caminhando com Ele, com Cristo, é uma Revista de Espiritualidade, fruto da insistência amiga, quando deixei de ser o encarregado do “site”de Itaici, Vila Kostka, em dezembro de 2008.
Sou o Padre Jesuíta Raul Pache de Paiva, SJ, conhecido simplesmente como “Pe. Paiva”.
Nasci no Rio de Janeiro e tenho andado por muitos lugares e países. Talvez os mais distantes foram Austrália e Nova Zelândia.
No Brasil, conheci bem os sertões de Minas e Bahia, Marajó da floresta inundada e tenho ido a quase todos os Estados. Trabalhei em educação, também universitária, e dou cursos e retiros (em particular, conforme Santo Inácio de Loyola e seus “Exercícios Espirituais”).
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