A Fé: um Encontro de Pessoas
De “Jesus chamado o Cristo
Jacques Loew
Paulinas /SP 1974
Durante muito tempo, Deus falara, e de muitas maneiras, aos nossos pais, pelos profetas: “Nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também criou o Universo” (Hb 1,1),
Mas Ele, esse Filho, a Palavra feita carne, o Senhor Jesus, antes de se fazer ouvir, quis mostrar-se. Quis que nossos olhos o contemplassem, que nossos ouvidos O ouvissem. Pode-se dizer que Seus trinta e três anos, trinta anos Jesus contentou-se em estar presente e ser chamado “filho do carpinteiro”, “filho de Maria”. Diziam: “Não lhe conhecemos nós seus parentes?” (ver Mt 13,55).
Do mesmo modo, foi visto quando começou sua vida pública, quando começa Sua pregação em Nazaré, ali, “onde havia sido educado”, “todos, na sinagoga tinham os olhos fixos n’Ele” (Lc 4,20).
O próprio João Batista “fixava os olhos em Jesus”, diz o Evangelho (Jo 1,36). Os primeiros discípulos que o seguiram, diziam-Lhe: “Mestre, onde moras?”. E Jesus Lhes respondeu: “Vinde e vede” (Jo 1,38-39).
Trata-se, portanto, de ver de se encontrar com alguém. É o eco permanente da própria palavra, da meditação de São João: “E o Verbo se fez carne e vimos Sua glória” (Jo 1,14).
Mas esse mesmo João, “o Teólogo”, é justamente um dos dois discípulos que ouviram o “vinde e vede” de Jesus: ele viu e anotou o momento, “perto da décima hora”. Jamais esquecerá que o seu encontro com Cristo não foi um colóquio intelectual ou um simpósio ideológico. Jesus entrou em sua vida por todos os sentidos. Enumerará cada um deles, quando mais tarde, em suas cartas às Igrejas da Ásia, resumir o essencial de sua experiência religiosa:
O que era desde o princípio,
O que temos ouvido,
O que temos visto com nossos olhos,
O que contemplamos
E as nossas mãos tocaram com todo respeito,
O Verbo de Deus,
Porque a Vida se manifestou
E nós A temos visto e d’Ela damos testemunho,
O que vimos e ouvimos nós vo-lo anunciamos
(1Jo 1,1-3)
Dá-se o mesmo com os simples, os pastores: “Trago-vos uma grande alegria: encontrareis um recém nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura… Foram apressados e encontraram Maria, José e o recém-nascido… Tendo-O visto… voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo quanto tinham visto e ouvido” (Lc 2,10ss).
O visível passa antes mesmo que se possa ouvir uma só palavra deste Verbo feito carne, E o velho Simeão, recebendo esta criança nos braços, exclamaria: “Meus olhos viram Tua salvação!” (Lc 2,30).
Os primeiros discípulos, depois do “Mestre, onde moras?” – “Vinde e vede” – que, há pouco lembrávamos, “foram e viram onde morava e ficaram com Ele” (Jo 1,38-39). Nós também chegamos, vimos e ficamos com Jesus.
Assim a Fé, encontro de indivíduos, é, eminentemente, o encontro primordial com o Senhor Jesus. A graça das graças é encontrar o Senhor Jesus, como quem encontra um amigo, um homem ou uma mulher, a quem se entrega a própria vida, alguém que mudou nossa existência e nosso caminho.
Sejam quais forem nossas misérias, nossos erros, nossas quedas, encontramos o Senhor. Segue-se uma reação em cadeia, que irá de um discípulo a outro: “André, irmão de Simão, tinha sido um dos dois que haviam ouvido as palavras de João e seguido Jesus. Na manhã seguinte, encontra seu irmão, Simão, e lhe diz: ‘Encontramos o Messias, isto é, o Cristo, e o levou até Jesus” (Jo 1,40). “No outro dia, Jesus encontra Filipe… Filipe encontra Natanael e lhe diz: ‘Aquele de quem falam a Lei de Moisés e os Profetas, nós o encontramos! É Jesus, o filho de José, de Nazaré”. Natanael duvida: “Venha e veja”, lhe diz Filipe (Jo 1,43ss).
É o que dirá a própria Samaritana: “Venham ver! Encontrei um homem que me disse tudo o que tenho feito. Não seria o Cristo?” (Jo 4,29). Assim estamos na fonte autêntica do testemunho e do apostolado, que não diz: “Venham e vejam como eu sou um bom praticante!; mas: “Encontrei o Senhor!”
Encontrando o Senhor, encontramos, com Ele, Sua Mãe. Aqui também há o encontro com uma pessoa, Tantos homens e mulheres, ao longo dos séculos, encontraram a Mãe do Senhor, desde o presépio de Belém e os magos, entrando na casa, “viram a Criança com Maria, Sua Mãe” (Mt 2,11), até à Cruz: “Mulher, eis aí o teu filho” – “Eis tua Mãe” (Jo 19,26-27).
E porque encontramos Maria, ficamos com ela, como uma pessoa amada e achegada, como alguém que está em nossa vida, um ser único, que se torna Mãe, “mais Mãe que Rainha, dizia Santa Teresa do Menino Jesus.
Encontro de pessoas. Com Jesus, em Jesus, encontramos as Três Pessoas Divinas. O Próprio Jesus é uma delas, o Verbo, o Filho, “o Verbo feito carne”, “o Filho muito amado”. Se, de fato, O encontramos, se O seguirmos, Ele leva-nos ao Pai, como Filho totalmente voltado para o Pai, que não tem como razão de ser senão o Pai, cuja vida toda “e alimento” é fazer a vontade do Pai: “No começo era o Verbo, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1).