A agonia do Horto
São Thomas Moro – “A Agonia de Cristo” *
Paulus / SP, p 85
Oh, Cristo Salvador, há pouco ainda estavas tão cheio de medo, e jazias prostrado com o rosto por terra, suando sangue, numa postura digna de compaixão, e suplicavas ao Pai que afastasse de Ti o cálice de Tua Paixão! Como é possível que agora, numa súbita reviravolta, Tu Te levantes e avances como um gigante cheio de alegria a correr ao encontro dos que Te procuram para te infligir aquela Paixão? Porque, livremente, Tu Te identificas ante os que dizem que Te procuram, pois eles não sabem que Tu fosses realmente aquele a quem procuravam?
Acorram aqui todos os tímidos! Agarrem-se com firmeza a uma esperança inquebrantável, quando se sentirem esmagados pelo medo da morte! Se de Cristo partilharem a agonia, o medo, a angústia, a ansiedade, a tristeza e o suor (desde que rezem e persistam na oração e se abandonem com todo o coração à vontade de Deus), partilharão também essa consolação, e se sentirão, sem dúvida, fortalecidos pela mesma consolação que Cristo experimentou.
Hão de sentir-se tão refeitos pelo espírito de Cristo, que os seus corações se renovarão como a velha face da terra é renovada pelo orvalho do céu. Graças ao madeiro da Cruz de Cristo, mergulhado nas águas de Sua dor (ver Ex 15,22-25), até o pensamento da morte, antes tão amargo, se lhes tornará suave.
Então, uma alegre veemência substituirá a angústia. O vigor mental e a coragem sucederão ao pavor, e eles acabarão por amar a morte que antes os aterrorizava, considerando que a vida é uma tristeza, e a morte uma vantagem, e desejando ver-se livres do corpo para estar com Cristo (ver Fl 1,21).
Esta obra foi escrita quando Thomas Morus estava encarcerado na Torre de Londres, onde esperava a pena de morte, que podia ser acompanhada de tortura. Poderia ser o enforcamento, e de fato, foi, mas comutada pelo rei Henrique VIII em degolação, que Morus enfrentou com bom humor.