“Bartolomeu Taddei – o Padre Santo de Itu”
Por Luís Roberto de Francisco
Apostolado de Oração – Brasil & Edições Loyola / SP, 243 pp, 21×14
Apresentação por R. Paiva, SJ
Parecia que a figura deste missionário incansável, chegado da Itália natal em 1864, falecido em Itu, São Paulo, em 3 de junho de 1913, aos 75 anos de idade, estava sendo pouco celebrada e bastante esquecida, quando Luís Roberto de Francisco, ituano, lançou este trabalho de séria pesquisa, carinhosa acolhida da valente vida do Padre Taddei, jesuíta, que viera jovem ao Brasil para ficar até o fim. Dele se pode dizer que nos amou, aos brasileiros, como Jesus, seu Mestre, “até o fim” (Jo 13,1).
A primeira parte da obra, “Nasce um herói”, apresenta as origens humildes, mas sadias, de Bartolomeu. Sem esquecer de apresentar a Ordem dos Jesuítas, onde haveria de entrar, e suas precoces ligações com o culto e devoção ao Coração de Jesus. Jovem seminarista, acompanhou seu Bispo, que, diante da pressão dos militantes italianos em prol da união do país, teve de se refugiar em Roma.
A segunda parte, “Para a maior glória de Deus”, mostra a firmeza de seu ideal missionário, o ambiente da “Missão Romana” da Companhia de Jesus no Brasil, e sua partida e chegada em nossa terra.
Começa então a “Em tudo amar e servir”: fundador do Colégio em Itu com alguns companheiros, suas primeiras missões populares, e diretor da vida consagrada no “Conventinho” das religiosas em Itu, São Paulo.
Surgia na França, com extraordinário impulso, a devoção popular ao Coração de Jesus e o Apostolado da Oração. Padre Bartolomeu Taddei, então servindo na Igreja do Bom Jesus, logo assumiu de corpo de alma, esta nova forma de serviço a Deus e aos cristãos. Assim nasceu o Apostolado da Oração em Itu. Assim nasceu o Apostolado dos leigos, que se estenderia pelo Brasil afora, um precioso reforço para a Igreja, então muito confinada nos ritos e nos espaços geográficos da vasto Brasil. Até hoje espanta como Padre Taddei foi conseguindo espalhar centros do Apostolado de norte a sul, e, a seu tempo, conseguir a impressão e a distribuição da revista mensal “O Mensageiro do Coração de Jesus”, a revista mais antiga da imprensa brasileira, em contínuo funcionamento até nossos dias, com uma tiragem atual de cerca de 120 mil assinantes, o que pode significar quase 600 mil leitores.
Na parte intitulada “Missionário no Brasil”, aprendemos como o Padre uniu as missões populares, a fundação dos centros do Apostolada da Oração, não só em Minas e São Paulo, o que já seria muito, naquele país mal saído do Império, com comunicações precárias, mas em missões pelo norte e nordeste.
Certamente enfrentou asperezas e confrontos, embora sempre com espírito de mansidão. É tudo isto recordado na parte intitulada “Tempos dolorosos”, onde encontramos o segmento “Ações sociais à luz da doutrina católica”.
“Pioneiro da imprensa católica”, o Padre Taddei criou não só “O Mensageiro do Coração de Jesus”, mas “Os Bilhetes Mensais”, que continuam vivos até nossos dias. Nesta fase, teve oportunidade de voltar à Europa e de ter um encontro e receber uma bênção do grande papa Leão XIII, o papa “das coisas novas” (de sua revolucionária encíclica “De Rerum Novarum”), que constituíram uma nova atitude católica diante do mundo operário que nascia. Houve logo sintonia com o missionário, que fazia questão de abrir o Coração de Jesus para os humildes neste imenso Brasil.
Mas o Padre Taddei foi adiante, mais ao fundo. Quis ajudar “A conduzir o Brasil católico ao século XX”. Do seu coração e de sua experiência surgiu a ideia e a realização de “O primeiro Congresso Católico Brasileiro”, convocando lideranças leigas, pela primeira vez em nossa história a uma participação ativa nos nossos problemas, congresso como que continuado no empenho em difundir suas conclusões, sem deixá-las como que quietas na Bahia, sede primaz que as viu serem discutidas. Foi, depois do Congresso, que surgiram, sempre do coração do bom Padre, dois santuários do Coração de Jesus, as romarias ao Santuário de Itu, e a liderança católica em Santos.
Tanto trabalho era desgastante. Assim o Autor chega a “Os últimos anos em Itu”. Neste final de sua vida apostólica, “o Brasil contava com 39 mil zeladores e quase 3 milhões de associados, quando a população total do país era de 23 milhões. Portanto, mais de dez por cento dos brasileiros estavam associados ao Apostolado da Oração” (Obra citada, pg 197).
Em 1911, o Padre teve de extrair um dos olhos, mas continuou operoso, embora mais e mais limitado pelas dores e enfermidades. Festejou-se seu jubileu de ouro sacerdotal, quando foi lida a bênção carinhos e solene do Papa São Pio X. No dia 26 de abril de 1913, ele conseguiu celebrar sua última Missa. No dia 3 de junho, mês do Coração de Jesus, depois de 24 horas de agonia, ele se foi para a Casa do Pai, e os sinos de Itu dobraram anunciando que ele partira para sua viagem definitiva. Seu corpo teve de ser embalsamado, por causa da afluência dos que vinham de lugares até distantes para prestar-lhe as derradeiras homenagens.
Na última parte do livro, “Padre santo de Itu”, o Autor recolhe testemunhos de leigos e clero, contando também com o de muitos Bispos, sobre o belo trabalho do Padre Taddei. Suas relíquias estão depositadas no Bom Jesus, num singelo monumento de mármore. Na praça fronteira à Igreja, está o seu busto. O que é de admirar é que até hoje não tenha sido beatificado, um homem que foi um segundo Padre Anchieta na evangelização do povo brasileiro.