São Bernardo – Luto e Caridade
Meu irmão (Gerardo) bem-amado, tua ausência (morte) a nosso lado te vale uma abundância de bênçãos. Tu gozas agora da presença de Cristo, que te foi retardada por um breve lapso de tempo, te conservando um pouco mais perto de mim. Mas tu ignoras o mal que nos faz teu lugar vazio, tu que agora estás entre os coros dos anjos.
Tu não tens de lamentar de nos ter deixados, pois Deus te concede generosamente Sua própria Presença e a de Seus amigos. Mas a mim, quem me poupa? Gostaria tanto de saber o que pensas agora de mim, teu solitário amigo, que sofre entre cuidados e penas, privado de ti, que era seu apoio para os passos vacilantes.
Queria saber se ainda te é ainda cuidar das infelizes criaturas terrestre, uma vez que tu entraste nas profundezas de luz, engolfado no oceano de eterna felicidade. Talvez, tendo me conhecido na carne, que não me conheças mais agora. Entrado no Reino de Deus, sem dúvida tu nos esqueces para não recordar senão de Sua Justiça.
Quem adere a Deus está com Ele no mesmo Espírito (1Cor 6,17) e mergulha inteiramente no Deu Amor. Não pode senão sentir e saborear apenas Deus e o que Deus mesmo sente e saboreia.
Mas Deus é caridade e quanto mais alguém estiver unido a Ele, mais estará cheio de caridade. Se Deus for impassível, Ele não é desprovido de compaixão, porque nada lhe é mais próprio que ter sempre piedade e perdoar. É essencial que sejam misericordiosos, mesmo estando livres de todas as misérias, os que estão unidos ao Deus de misericórdia. Livres do sofrimento, eles se compadecem. Sua sensibilidade não foi diminuída, mas transfigurada. Revestindo-se de Deus, eles não foram despojados de toda afeição por nós. Livres da fragilidade, eles não estão sem piedade, pois a caridade não morre nunca (1Cor 13,8). Tu, então, não me esquecerás.
Parece-me ouvir meu irmão dizendo: “Pode uma mulher esquecer o filho de suas entranhas? Mesmo se alguma esquecer, Eu (Deus) não o esquecerei nunca” (Is 49,15).
Tratado do Amor de Deus