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A clara vida “oculta”
Segundo São Lucas, jesus tinha cerca de 30 anos, quando deixou Nazaré e começou a anunciar o Evangelho, a Boa Nova do Reino de Deus:
“Jesus, quando começou seu ministério, tinha cerca de 30 anos. Ele era, segundo pensavam, filho de José, filho de Heli… filho de Adão, filho de Deus” (Lc 3,23-38)”.
E o que fez durante os anos de sua adolescência e maturidade? Trabalhou, como Maria, José e o povo humilde de Nazaré, que tinha de sustentar e, como os pobres do mundo todo, “dar duro” para sustentar os governos, os funcionários, os exércitos, o luxo dos ricos. São Marcos menciona que era conhecido como “o carpinteiro, filho de Maria” (Mc 6,3), e São Mateus, como “o filho de carpinteiro” (Mt 13,55).
Se o chamavam de “carpinteiro, filho de Maria”, isto quer dizer que Jesus levava adiante o trabalho herdado de José, que já tinha tido uma bela e boa morte entre Jesus e Maria. O que assombrava seus conterrâneos era que Maria e José não tivessem combinado seu casamento e ele tivesse permanecido solteiro. Isto criava murmúrios e antipatias. O casamento era considerado como absolutamente necessário, o normal, o conforme a tradição de Moisés. Não foi sem terem seus motivos, que o povo de Nazaré o quis matar, atirando de uma ribanceira abaixo, no dia em que ele fez a leitura de sábado:
“Foi a Nazaré, onde tinha crescido. Num sábado, entrou na sinagoga, como era seu costume, e se levantou para fazer a leitura. Foi-lhe apresentado o Livro do Profeta Isaías, que Ele abriu, dando com a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com o óleo, para levar a Boa Nova aos pobres, enviou-me para proclamar aos prisioneiros a libertação e aos cegos, a recuperação da vista, e dar liberdade aos oprimidos, proclamando o Ano da Graça do Senhor (ver Is 61,1-2)”.
Maria, vendo o atentado à vida do seu Jesus, ficou horrorizada. Hoje, em Nazaré, podemos visitar uma capelinha construída em memória de seu susto e medo: “Nossa Senhora do Tremor”.
Jesus, um dia, provavelmente pesando em como era custoso para sua gente entender seu celibato, comentou:
“Nem todos são capazes de entender esta doutrina, mas só aqueles a quem Deus der tal poder. Com efeito, há os impossibilitados para o casamento, pois assim nasceram do seio materno. Há os que ficaram impossibilitados por intervenção alheia. E há os que não querem se casar por amor ao Reino dos Céus. Compreenda bem quem puder” (Mt 19,10-12).
De que doutrina falava Jesus? Ele se referia ao que acabava de dizer a seus discípulos:
“Jesus respondeu: ‘Moisés permitiu que vos divorciásseis de vossas mulheres por causa da dureza de vossos corações. Mas, ao princípio, não foi assim. Por isso Eu vos digo: quem se divorcia de sua própria mulher – exceto em caso de união ilícita – e se casa com outra, comete adultério’. Os discípulos, então, lhe disseram: ‘Se esta é a condição do homem em relação à mulher, não vale a pena casar’ ’’ (Mt 19,8-10).
Maria Santíssima, não seguiu os costumes da época e a tradição do seu povo, quando, no seu Imaculado Coração, se decidiu pela virgindade, coisa que perturba até peritos cristãos hoje em dia. Seu Filho também não falou segundo o que os ouvidos de seus compatriotas esperavam, mas recuperou o projeto original do Pai: fidelidade, lealdade, indissolubilidade do matrimônio, “como no princípio”, o que, reconhece, nem todos podem compreender e aceitar.
Certamente, naquele sábado, em Nazaré, a Virgem Santíssima tremeu! Mas ela compreendia muito bem a boa nova que seu Filho anunciava!