Poesia Mística
Deus é Amor
Rabindranath Tagore
Trad Ivo Storniolo, Paulus / SP, 2003
Sim, Tu me deste muito mais!
Não venho a Ti só por um gole d’água. Quero a fonte.
Não venho para que me levem até a porta.
Quero ir até a sala do Senhor.
Não venho apenas para receber o dom do amor.
Desejo o próprio amante.
Vim a Ti, para que me toques com Tua Mão, antes de começar o dia.
Deixa que Teus olhos repousem um momento nos meus.
Caro Amigo, deixa que eu leve ao meu trabalho a certeza de Tua amizade.
Enche meus ouvidos com Tua música e que ela permaneça em meio ao deserto dos ruídos.
Que o sol do Teu Amor beije o ápice dos meus pensamentos e se atrase no vale da minha vida, onde amadurece minha colheita.
Fica diante dos meus olhos e deixa que Teu olhar transforme em chama minhas canções.
Fica em meio às Tuas estrelas e deixa que eu encontre aceso em Tuas chamas o fogo de minha própria adoração.
A terra espera junto ao caminho do mundo. Caminha sobre o manto verde, que ela estendeu em Teu caminho. Deixa que eu sinta na grama e nas flores do campo o derramar de minha própria saudação.
Fica presente em meu solitário anoitecer, quando meu coração bate sozinho e enche-me a taça com sua solidão e permite que eu sinta em mim o Teu Amor infinito.
Que Teu Amor e descanse em meu silêncio em minha voz.
Que ele passe por meu coração e transborde em todos os meus movimentos.
Que Teu Amor brilhe como estrelas na escuridão do meu sono e amanheça em meu despertar.
Que ele arda na chama dos meus desejos e flua na torrente do meu próprio amor.
Deixa que eu carregue Teu Amor em minha vida, assim como a harpa leva consigo a sua música. No fim eu o devolverei a Ti com minha própria vida.
Meu Rei, Tu Te escondes em Tua própria glória
O grão de areia e a gota de orvalho se ostentam orgulhosamente mais que Tu.
Sem pudor, o mundo chama suas todas as coisas, que pertencem a Ti. Apesar disso ele jamais é repreendido.
Tu permaneces a parte, em silêncio, cedendo o lugar para nós. E por isso o Amor acende sua lamparina para Te procurar e Te adorar, sem que ninguém o tenha mandado.