O Livro de Judite
Os peritos calculam que este livro é uma obra do período persa. Propositadamente o Autor, desde o início mostra que não pretende apresentar um relato histórico, e, assim apresenta Nabucodonosor, rei da Babilônia, como um monarca assírio. No seu reinado, o Império assírio e sua capital, Nínive, já tinham sido destruídos. Impossível reconhecer a cidade de Betúlia e seu mesmo nome. “Judite” quer dizer “Judia”, nome muito improvável para uma israelita. Jael, esposa de Heber, a que perfurou a cabeça do general Sísara (ver Jz 2,17-21). Judite cortou a cabeça de Holofernes, o general “assírio”. Assim a ação divina acolhe a cooperação do agir humano para livrar o Seu Povo em tempo de angústia.
O nome de Holofernes e de outro personagem, Bagoas, não são nem assírios nem babilônicos, mas persas. Se, como é provável, o Livro de Judite é uma obra do tempo dos Macabeus e das perseguições dos reis helenísticos, sucessores de Alexandre o Magno, seu Autor ligou, na sua ficção com fundamento histórico, os grandes inimigos do passado que não tinham conseguido leva a melhor sobre Povo Eleito.
Logo, o leitor cristão de hoje em dia, vai encontrar na leitura de Judite, inspiração para confiar nestes tempos, que são tão problemáticos quanto os de Israel. Lembremos as perseguições aos cristãos, por exemplo, sofridas da parte dos revolucionários franceses de 1789, e, já no século XX, pelos nazistas, fascistas e comunistas. Hoje em dia, em particular no mundo islâmico, por parte de facções fanáticas, e, no mundo ocidental, de modo disfarçado, pelo ateísmo e laicismo militantes e dominantes.
Podemos achar que Judite não age muito segundo a moral evangélica, quando seduz, embebeda e mata Holofernes. Na verdade, Deus nos salva escrevendo certo em nossas linhas tortas, e nos salva não porque sejamos acima de qualquer suspeita, mas porque precisamos de Sua Bondade e Salvação. Judite não é uma marionete, mas alguém que atua como pode e conforme a moral anterior aos Evangelhos. Uma doutrina importante se tira da leitura do Livro de Judite: como na história de Davi e Golias e no cântico de Nossa Senhora, Deus eleva os humildes e abaixa os orgulhosos de seus tronos.
O Autor, em período de lutas e perseguições, faz uma narrativa que tem o claro objetivo de animar – com esta história simbólica do povo – o país a confiar em Deus. Assim os discursos de Aquior (Jd 5,5-21) e de Judite (Jd 8,17-20).O importante é que Israel mantenha a fidelidade ao Senhor e a Lei. Poderá contar com a providência divina, mas deverá agir com confiança.
Betúlia estava cercada e o suprimento de água cortado. Havia quem quisesse se render. Judite se opõe e vai ao acampamento inimigo com uma criada e contando com sua beleza para se banquetear com o comandante adversário. Lá vai imitar a ação de outra heroína, Jael, esposa de Heber, o Quenita, que matou o general Sísara, que acabara de ser derrotado pelas forças israelita, e procurara abrigo na tenda de Heber. Jael esperou que adormecesse e lhe transpassou a cabeça com uma estaca de tenda. Judite cortou a cabeça de Holofernes adormecido e a levou para Betúlia, Os inimigos, sem seu comandante, bateram em retirada e Judite foi celebrada como a heroína do povo. A fraqueza dos humildes vence, com a graça de Deus, a prepotência dos orgulhosos.