4a PARTE: A FÉ ORANTE – A ORAÇÃO CRISTÃ E O “PAI NOSSO”
INTRODUÇÃO: A ORAÇÃO
319 Quem ensina o cristão a orar?
Jesus é o mestre da oração. Seu exemplo e testemunho fizeram os discípulos lhe pedir: Senhor, ensina-nos a orar? (Lc 11,1). Como não sabemos como devemos rezar, o Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza … o próprio Espírito intercede por nós, com gemidos inexprimíveis. Aquele que conhece profundamente os corações (o Pai) sabe qual é o desejo do Espírito, porque ele intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus (Rm 8,26-27).
Assim, o Apóstolo nos relembra: Não recebestes um espírito de escravidão para recairdes no medo, mas recebestes o espírito de filhos, que nos faz clamar: Abbá! Meu Pai! E o próprio Espírito se une a nosso espírito para atestar que somos filhos de Deus (Rm 8,15-16).
320 Então, de onde nasce a oração autêntica e humana?
Do coração humano, do seu íntimo, do segredo do coração, como diz Jesus: E quando rezardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar com ostentação … para aparecerem diante dos outros. Eu vos declaro esta verdade: já receberam a sua recompensa. Mas, quando rezares, entra em teu quarto, fecha a aporta, e reza a teu Pai, que está presente até no segredo. E teu Pai, que vê o que fazes em segredo, te dará a recompensa (Mt 6,5-6).
Como disse o Apóstolo, a oração resulta da ação do Espírito do Pai que se une ao nosso espírito (Rm 8,16).
321 Como o Catecismo da Igreja Católica define oração?
Nas Sagradas Escrituras, encontramos exemplos de orações, exortações à oração, testemunhos de oração e avisos sobre a oração. Encontramos também a oração que Jesus mesmo nos ensinou e outras que ele pronunciou diante dos discípulos. Mas não temos uma definição de oração.
O Catecismo da Igreja Católica recorre a uma expressão de Santa Teresinha do Menino Jesus, a saber: Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria” (no.2558). Esta expressão pode ser comentada com a evocação de passagens bíblicas:
• O olhar lançado para o céu evoca o costume, também de Jesus, de olhar para o alto, quando rezava: E, tendo mandado o povo se acomodar sobre a relva, tomou os cinco pães e dois peixes, levantou seu olhar para o céu, e recitou a fórmula de bênção. Em seguida partiu os pães, que deu a seus discípulos… (Mt 14,19-20; ver Sl 25/26,15; 123/124,1; 141/142,8; etc.)
• Um grito de reconhecimento e amor lembra a exclamação jubilosa de Jesus: Naquele tempo Jesus disse: “Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, por teres ocultado estas coisas aos sábios e entendidos e as teres revelado aos pequeninos! Sim, Pai, por que desta maneira e que dispuseste em tua benevolência” (Mt 14,2526).
• No meio da provação e no meio da alegria, assim como Jesus, que exultou pela revelação da Boa Nova aos pequeninos e, na hora de sua agonia, voltou-se para o Pai: Meu pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice! Mas não se faça como eu quero, mas como tu queres! (Mt 26,39). Também, na Carta de Tiago: Entre vós há quem sofra? Que reze! Está alguém alegre? Que entoe cânticos! (Tg 5,13). E o Apóstolo: Rezai sem cessar. Em todas as circunstâncias, daí graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus (1Ts 5,17).
322 Por que dizemos que a oração é um ato de Aliança com Deus em Cristo no Espírito Santo?
Porque, como está dito, não recebeste o Espírito de escravidão para recairdes no medo, mas recebestes o espírito de filhos, que nos faz clamar: Abbá! Papai! E o próprio Espírito se une ao nosso espírito para atestar que somos filhos de Deus. Se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo. Porque, se tomamos parte nos seus sofrimentos, tomaremos parte também em sua glória (Rm 8,15-19). Por isso mesmo a oração é um ato de comunhão e aliança do ser humano com a Santíssima Trindade.